Há muitas explicações para a franqueza quase suicida de Janot no livro. Tenho por mim, que é uma auto expiação. No decorrer da Lava Jato, Janot foi literalmente desprezado por três figuras referenciais do MPF, que ele apresenta no livro como seus amigos e gurus: Cláudio Fontelles, Wagner Gonçalves e Álvaro Augusto Ribeiro Costa.
Nos momentos decisivos, era a seus conselhos que recorria, três referências morais do Ministério Público, não Brindeiro, Fernando de Souza e Gurgel. Sem contar seu melhor amigo, e padrinho da sua indicação, Eugênio Aragão, que traçou um perfil destruidor de suas fraquezas, assim que Janot se revelou.
Esses episódios não são relatados no livro. Janot não ousa, nem teria talento literário para tal, expor o peso do olhar de condenação de seus mestres, seus dramas de consciência – e suas fraquezas – enquanto colegas se regozijavam com as manifestações de um populacho babando sangue.
É por isso que o livro se preocupa em responder às críticas mais ostensivas contra o seu caráter: a acusação de ter traído José Genoíno, a quem tratava como amigo pessoal; o cartaz auto-laudatório “Janot, você é a esperança do Brasil”; na blindagem a Aécio Neves na primeira leva de denúncias.
Um interlocutor de Janot, advogado de São Paulo, me contou certa vez que a delação da JBS foi uma maneira de Janot expiar a culpa pelo impeachment, que colocou no poder o grupo mais barra-pesada da política nacional, antes do advento da geração Bolsonaro.
Enfim, Janot parece dominado por um sentimento ao qual o grupo de Curitiba se mostrou infenso: o remorso, os ataques de consciência, a preocupação sobre que imagem ficaria para a história. E, aí, recorreu a essa auto expiação algo desajeitada.
De outros procuradores inquisidores, a história registrará apenas o processo gradativo de desumanização, de transformação de cidadãos aparentemente normais em monstros de insensibilidade, capazes de celebrar até dramas pessoais dos alvos, transformandos em “inimigos” a serem destruídos, como as mortes do irmão, da esposa e do neto de Lula, o suicídio do reitor e, no plano político, terem sido responsáveis pela destruição da economia e das instituições brasileiras e do advento da lei da selva no país. A história será cruel e não destacará nem o contexto da época, que os caracterizaria apenas como provincianos deslumbrados, instrumentalizados por um sistema de poder implacável.
A aposentadoria fez Janot perceber a dureza do julgamento da história. O grupo de Curitiba só irá se dar conta mais adiante, quando seus nomes estiverem definitivamente incrustrados na história e eles forem apontados, pelos seus sucessores no Ministério Público Federal, como os colegas que ajudaram a jogar fora todas as conquistas proporcionadas pela Constituição de 1988.
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