Por
Josias
de Souza - UOL
Os miseráveis talvez prefiram deixar os filhos sem
vacina para não perder o lugar na fila do osso. Pressentindo o desastre, os
governos estaduais anunciam a intenção de ignorar o governo federal.
Em manifestação veiculada nas redes sociais, habitat
natural do seu chefe, o ministro da Saúde disse que, sob Bolsonaro, impera a
"responsabilidade." Repetiu que os pais e "seus médicos de
confiança" são as pessoas mais adequadas para decidir sobre a vacinação
das crianças. "Segurança e liberdade", anotou.
Na véspera,
Queiroga naturalizara as mortes de 301 crianças por Covid no Brasil. Dissera
que essa quantidade de cadáveres está "dentro de um patamar que não
implica decisões emergenciais. Há duas semanas, ao ecoar Bolsonaro na
condenação à exigência de comprovante de vacina de viajantes, o ministro
dissera que "é melhor perder a vida do que perder a liberdade."...
Dissera que essa quantidade de cadáveres está
"dentro de um patamar que não implica decisões emergenciais." Há duas
semanas, ao ecoar Bolsonaro na condenação à exigência de comprovante de vacina
de viajantes, o ministro dissera que "é melhor perder a vida do que perder
a liberdade." É esse personagem perverso que controla a pasta da Saúde. As
vacinas pediátricas da Pfizer foram aprovadas pela Anvisa em 16 de dezembro.
Queiroga deveria ter antecipado a encomenda do produto. Em vez disso, retardou
para 5 de janeiro de 2022 os procedimentos burocráticos para a inclusão da
vacina no plano nacional de imunização...
Utilizará os 20 dias de atraso para realizar uma
inédita consulta pública com ares de plebiscito sobre a vacina infantil. As
falanges bolsonaristas se mobilizam para produzir o resultado desejado pelo
mito do negacionismo. Queiroga está há nove meses na poltrona de ministro da
Saúde. Como cardiologista, já deveria ter notado que é melhor perder o cargo
servindo à sua consciência do que perder a cabeça servindo à irracionalidade
que usa a liberdade como pretexto para aprisionar brasileiros no caixão.
Presidente licenciado da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga assassinou a sua reputação de médico. A morte costuma atenuar todos os julgamentos. Mas ainda que o doutor mate seu diploma de medicina um milhão de vezes para sobreviver no cargo não conseguirá mudar a opinião desabonadora que os brasileiros de bom senso formaram a respeito de um médico que se associa à morte.
Num país convencional, Queiroga receberia voz de
prisão, não respostas para uma consulta pública criminosa. Mas Bolsonaro e seus
cúmplices dispõem de um sistema de blindagem. Nem o infanticídio anima o
procurador-geral da República Augusto Aras a procurar.