Atualmente, 551 produtos de 60 empresas têm o
Selo Vegano, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) (foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)
Hippie pós-moderno? Comedor de alface? O perfil do
vegetariano ultrapassou os estereótipos das últimas décadas e hoje atrai de
adeptos da alimentação natural a até quem não dispensa junk food. Inédita, nova
pesquisa Ibope Inteligência aponta que 14% dos brasileiros com mais de 16 anos
– cerca de 22 milhões de pessoas – concordam parcial (6%) ou totalmente (8%)
com a afirmação "sou vegetariano".
Na mesma tendência, estudo da Kantar Ibope Media aponta
que, de 2012 até o ano passado, cresceu de 8% para 12% os adultos (de 18 a 75
anos) que se declaram vegetarianos nas Regiões Sul e Sudeste do País e nas
áreas metropolitanas de Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília. "Deixou de
ser uma escolha restrita a um grupo. Hoje toda família tem um vegetariano, um
vegano", diz Cynthia Schuck, coordenadora da Sociedade Vegetariana
Brasileira (SVB).
Para ela, mesmo que nem todos sigam o vegetarianismo de
forma estrita (mais informações nesta página), se reconhecer como tal é
positivo. "São pessoas que se identificam e estão no caminho. E, para o
mercado, já é um público que conta."
A designer Domitila Carolino, de 38 anos, é um exemplo
de adepta recente desse estilo de alimentação. A mudança começou há seis anos,
por recomendação médica, quando seus exames apontaram excesso de ferro. Alguns
meses depois, porém, ela voltou a comer carne, que era muito consumida pelo
marido. "Respeito quem come. Cada um no seu tempo", diz. Em 2015, ela
retomou o vegetarianismo. "Não queria mais colocar dentro de mim agressão,
de morte, de sofrimento."
Para a professora de História Thaís Carneiro, de 27
anos, a mudança chegou anos depois de o pai aderir ao vegetarianismo. "Eu
era muito firme que não queria deixar (de comer carne)", lembra. A virada
veio aos 14 anos, durante uma viagem, quando visitou pessoas que criavam
animais. Na ocasião, chegou a sair de um recinto para não presenciar o abate de
uma galinha, que depois encontrou morta na cozinha. "Passei a associar
mais os animais ao que comia, por mais que já soubesse."
Na mesma época, ela leu um livro espírita que
considerava o consumo de carne um vício. "Essas questões foram mexendo
comigo", conta. A mudança foi difícil, especialmente na escola.
"Elogiavam, mas depois diziam que não conseguiam e começavam a falar de
carne, a descrever, isso me deixava triste. Chorava, achava as pessoas
insensíveis."
Quando foi vegana, enfrentou dificuldade para manter a
dieta, especialmente fora do País, o que relata no projeto Mulheres Viajantes.
"Aqui, a gente teve um crescimento considerável no mercado", compara.
Motivação. Professora do Departamento de Sociologia e
Política da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Juliana Abonizio aponta
que a religião foi o motivo predominante décadas atrás, enquanto hoje cresce a
motivação ambiental, por saúde ou por não concordar com a exploração animal.
"Tem gente que começa pela saúde e depois vira militante."
O movimento ganhou força na internet, especialmente nas
redes sociais. A estudante de Letras Leonora Vitória, de 18 anos, aderiu ao
ovolactovegetarianismo após assistir filmes que envolvem o tema, como a ficção
Okja, da Netflix. "No princípio eu não sabia o que consumir e como fazer. Procurei
grupos no Facebook, receitas na internet e fui me virando", conta.
O vegetarianismo "saiu do obscurantismo",
resume a professora de Psicologia da Universidade Brasil, Pâmela Pitágoras, que
estudou o tema no doutorado. "Quando uma coisa começa a crescer, a ser
divulgada, atrai mais pessoas", explica.
Estudante de Pedagogia, Mariana Pasquini, de 18 anos,
deixou de comer carne vermelha em janeiro, depois de porco e, neste mês, foi a
vez do frango. "Quero parar com o peixe. Os derivados ainda não sei, vou ter
um pouco de dificuldade."
Vice-presidente da Associação Alagoana de Nutrição,
Viviane Ferreira aponta que a procura de um nutricionista especializado e a
realização de um check-up são importantes na transição. "É preciso
aprender a comer mais vegetais, o que as pessoas no geral não comem, mas é um
mito achar que vegetariano é anêmico", aponta. A pesquisa Ibope ouviu 2
mil pessoas em 142 municípios de todas as regiões do País e classes sociais. A
margem de erro é de 2 pontos porcentuais.
A
expansão do veganismo
O primeiro hambúrguer feito por Carlos Dias, de 29
anos, era de lentilha. E não era muito bom. Mas a experiência deu gosto e cada
vez mais certo, o que resultou no lançamento da lanchonete Animal Chef em
janeiro deste ano. Ao contrário do nome, nenhum ingrediente do cardápio é de
origem animal."O veganismo é muito ligado a algo sem graça, sem sabor,
saudável, com soja. A gente quer fugir de todos os estereótipos
possíveis", afirma Dias.
Por Agência
Estado