EXCLUSIVO:
LIBERTADO APÓS PRISÃO NA OPERAÇÃO ALCATRAZ CONCEDE ENTREVISTA
EXCLUSIVO: Por Marcelo Lula SC em Pauta
O ex-gerente de Tecnologia da Informação da Epagri,
Fábio Lunardi Farias, foi preso provisoriamente na semana passada na Operação
Alcatraz. Solto na sexta-feira, logo após prestar o seu depoimento, Farias se
mostra traumatizado com a situação, tendo que usar medicamento para dormir.
Ontem eu consegui conversar com ele sobre a situação,
da qual afirma ser um inocente útil. Fábio estava ao lado da advogada, Júlia
Vergara, ex-delegada da Polícia Federal, com quem estava em sua casa desde o
início da tarde trabalhando na juntada de documentos, os quais, segundo eles,
corroboram com as suas declarações.
Quanto aos filhos, um de 19 anos que mora com Fábio,
está dando apoio ao pai, enquanto que a filha de 6 anos, que mora com a mãe,
está sendo poupada de saber do acontecido, até mesmo pela idade.
A advogada Júlia, ficou o tempo todo ao lado de Fábio,
dando o apoio jurídico na fala de seu cliente. Ela destacou que com a mesma
tranquilidade que ele estava dando a entrevista, prestou as informações nas
duas oitivas na Polícia Federal, enquanto esteve preso. Ao lembrar que ficou
numa cela, Fábio destaca que foram momentos difíceis para ele.
SC em Pauta – Quando que você soube dessa
investigação?
Fábio – No dia que a
Polícia Federal veio na minha casa.
SC em Pauta – Que horas eles chegaram?
Fábio – Normal, eles
sempre chegam na casa das pessoas quando é para fazer uma investigação, 6h ou
6h30, aqui em casa foi por volta das 06h.
SC em Pauta – Como foi a abordagem, o que
os policiais disseram?
Fábio – Explicaram
que estava acontecendo uma investigação em relação a alguns pregões
eletrônicos, em que eu tinha feito o termo de referência e ajudado a construir
o termo de referência na Epagri, e pediram para verificar todos os itens que eu
tinha em casa. Queriam saber a questão dos computadores, entreguei todos os
computadores que eles pediram. Levaram o meu celular, entreguei todas as senhas
dos meus equipamentos, as senhas de e-mail, do Dropbox, InCloud, entreguei
tudo, eu não devo nada.
SC em Pauta – E sobre o motivo da sua
prisão temporária?
Fábio – Como o
Supremo Tribunal Federal acabou com a condução coercitiva, sempre quando tem
uma investigação desse tamanho, que foi grande e abrangeu bastante coisa do
Estado, eles levam para fazer depoimento. O depoimento pela quantidade de
pessoas pode demorar muito tempo. Pode ser que o delegado não consiga ouvir
todo mundo, qualquer um que foi levado poderia ficar cinco dias detido até ser
ouvido. Como no meu caso eles não encontraram nada que desse materialidade às
acusações que eles estavam buscando, a minha prisão foi temporária. Depois que
fui ouvido, fui liberado.
SC em Pauta – Tem documentos em que
aparecem a sua assinatura. Você não tinha o entendimento do que estava sendo
feito?
Fábio – Quando eu
entrei nessa gerência em 2015, o gerente anterior já tinha tocado esse projeto,
esse projeto já estava pronto. O gerente era o Danilo Pereira que está preso
preventivamente. Eu toquei o projeto que ele já tinha escrito. O termo de
referência estava pronto, tudo orçado, eu não fiz nada, só toquei o projeto. O
cara é doutor da Ciência da Computação, era o meu ex-chefe e me convidou para
tocar a gerência da Epagri, assumiu uma diretoria importante no Estado que era
a Degovi, que era a diretoria que controlava todas as compras de ativos de TI
no Estado, então, esse cara tinha uma referência de uma pessoa idônea, até o
dia em que eu li o inquérito. Já detido enquanto esperava para ser ouvido, eu
li a decisão que embasou as prisões. Quando vi que tinha filmagens de pessoas
indo com mochila encontrar outros empresários, tinham conversas telefônicas
combinando preços, ali naquele momento caiu a minha ficha, que eu fui
manipulado no processo, eu fui utilizado, eu fui útil.
Eu fui manipulado no processo, eu fui
utilizado, eu fui útil.
SC em Pauta – O senhor está convicto de que
irá comprovar a sua inocência?
Fábio – Mas vai
restar claro no final da minha defesa, eu tenho toda a comprovação por e-mail,
de todas as conversações que eu tinha com o Degovi na época, personificada na
pessoa do Danilo (Pereira), que era ele que determinou, por exemplo, junção de
lotes de algumas coisas, ele que respondeu o questionamento, ele que
desclassificou algumas empresas, e nessa posição que ele estava, era uma
posição de uma diretoria de governança, ele tinha o poder para fazer esse tipo
de coisa. A Degovi ela deveria orientar os gerentes de TI, o gerente em questão
que sou eu, não sabia que estava sendo orientado por uma quadrilha, é isso. Que
utilizou o final disso tudo, o final do processo licitatório, que é onde tem
pagamento, utilizaram para benefício próprio. Teve gente que levou vantagem em
dinheiro, depósito bancário em conta, uns em espécie. Eu nunca, recebi propina,
não pedi propina, e não recebi nem uma proposta, uma vantagem pessoal, uma
viagem, um final de semana em Cancun igual alguns recebem, eu nunca recebi
nada. Esse é o motivo da minha revolta, pois, eu literalmente eu entrei de
gaiato no negócio. O meu nome foi jogado na lama e, como eu sou do PSL também,
estão usando isso para atacar o Bolsonaro (Jair), que tem gente do Bolsonaro
envolvida com corrupção.
Teve gente que levou vantagem em dinheiro,
depósito bancário em conta, uns em espécie
SC em Pauta – Em algum momento você chegou
a achar estranho, a suspeitar de alguns procedimentos?
Fábio – Não! Vai
ficar claro durante o processo, que as empresas no olhar da TI, foram
desclassificadas tecnicamente, segundo o diretor do Degovi. Eu tenho todos os
e-mails, por exemplo, o pregoeiro da Epagri, o senhor Jaime, me enviava um
questionamento. Eu assumi a gerência no dia 5 de maio de 2015, as
desclassificações ocorreram no dia 24 de junho, não tinha tempo hábil para
fazer um projeto desse tamanho, o termo de referência já estava pronto. Chegava
um questionamento de algum licitante, da pessoa que queria concorrer para
ganhar o objeto. Quando chegava a esse questionamento, o que o doutor Jaime
fazia, mandava para o Fábio responder, pois o Fábio naquela época apesar de
fazer menos de 30 dias que estava na gerência, já era o gerente. Eu pegava o
questionamento, como eu não tinha o conhecimento técnico desse objeto que já
estava em andamento, onde o gerente de TI buscava o conhecimento? Era na
Degovi, que era a diretoria especifica para isso. Ela foi criada para isso e na
época o diretor do Degovi era o Danilo Pereira. O cara que tinha me indicado
para ficar no lugar dele na época ao presidente da Epagri, o Hesmann, ainda
mais com a pessoa que construiu o termo de referência. Chegava o questionamento
de um licitante sobre um item tal, eu perguntava: Danilo preciso que tu me
ajude a responder isso, tu sabe que eu não conheço esse termo de referência que
foi você que fez. Ele me respondia e eu passava a resposta ao pregoeiro, com o
meu e-mail, era o e-mail do gerente, portanto, tinha que ter o nome do gerente
na resposta. Com base nisso o pregoeiro respondia ao licitante.
SC em Pauta – E as desclassificações de
empresas, onde aparecem o seu nome?
Fábio – Ocorreram da
mesma forma. Quando chegaram as propostas de todos os licitantes, o pregoeiro
enviou para mim as propostas, eu encaminhei para o Degovi que respondeu, e eu
respondi para o pregoeiro e ele publicou as desclassificações.
SC em Pauta – No pedido de prisão,
consta que você teria solicitado ou recebido vantagem indevida em processo
licitatório, sendo que os recebimentos dos valores segundo o documento, teriam
sido através do empresário Maurício Rosa Barbosa que também está preso.
Fábio – Eu estou em
casa agora, justamente por eles não terem conseguindo nenhuma materialidade em
relação a isso. Não tem filmagem minha com o Maurício, não tem áudio cobrando
propina, as conversas que eu tive com o Maurício, foi sobre o motivo de não ter
saído o empenho, ou quando sairá a licitação tal, conversa que qualquer gerente
de TI tem com fornecedor. Mas nunca teve nenhuma conversa comigo, ou com o
Maurício, de eu pedir dinheiro para ele, ou não. Eu só estou em casa agora, por
não ter pedido propina. As outras pessoas que inclusive estão presas
temporariamente, talvez eles não consigam voltar para casa. São dois que estão
presos temporários que serão ouvidos na segunda-feira (hoje). Possivelmente
essas pessoas não consigam voltar para casa e tenham a prisão convertida em
preventiva. Eu também abri mão de todo o meu sigilo bancário e fiscal, para que
se tem alguma dúvida, que isso venha à tona. Por isso que eu estou muito
revoltado, eu fui boi de piranha. Eu não recebi nem agenda, nem uma garrafa de
vinho desses fornecedores que fizeram corrupção na Epagri.
Eu fui boi de piranha. Eu não recebi nem
agenda, nem uma garrafa de vinho desses fornecedores que fizeram corrupção na
Epagri
SC em Pauta – Diz no documento da justiça,
que esse Maurício Rosa estava sempre lá. Você o via lá?
Fábio – Eu me lembro
do Maurício estar na Epagri, pelo menos, umas duas vezes. Mas tem detalhes que
eu passei para o delegado, que nesse momento eu não posso passar para a
imprensa. Vai ter advogado de quem está detido preventivamente, preso de
verdade, que pode usar a informação para tentar defender. Eu nunca participei
de uma reunião com o Maurício que não tivessem mais algumas pessoas e foram
técnicas, de implantação de projetos e dentro da Epagri. O Maurício teve pelo
menos umas duas vezes, não conversando comigo, com o presidente da Epagri. Nas
reuniões que eu participei com ele, participaram outros servidores,
funcionários da empresa dele, todas de cunho técnico, nunca sobre qualquer tipo
de negociata. Se alguém recebeu alguma coisa, não fui eu.
Tem detalhes que eu passei para o delegado,
que nesse momento eu não posso passar para a imprensa
SC em Pauta – Você chegou a alguma vez a
ouvir na Epagri que tinha alguém cometendo algo ilícito?
Fábio – Eu declarei
no depoimento que eu escutei rumores. Rumor é uma coisa, mas eu nunca vi
materialmente alguém receber dinheiro, ou extrato da conta de ninguém. Eu só vi
isso, depois de ter acesso a decisão que embasou as prisões temporárias e
preventivas. Eu nunca vi, se aconteceu dentro da Epagri foi em sala fechada.
Possivelmente essa parte de receber a propina não foi na Epagri, foi fora. Tem
inclusive um áudio que menciona para se encontrarem, o Maurício e o presidente
para tomar um café. Até o dia 31, eu não poderia saber o que estavam fazendo
comigo. Eu nunca tive certeza de nada, só quando eu li as decisões que
embasaram as prisões. Quando eu vi, me caiu o mundo, pois eu vi que tinha gente
envolvida nesse processo, o Danilo e o Hesmann, e eu atendi ordem da
presidência de pessoas superiores ao meu cargo na Epagri. Qualquer um que
estivesse no meu lugar teria feito a mesma coisa que eu fiz. As cotações quando
o processo foi para a frente estavam todas prontas, eu não participei da tomada
de preços, nada. E todos os segundo e terceiro processo que deram origem a essa
investigação também, eles se originaram desse primeiro. Quando foi comprada a
primeira parte dos equipamentos, a segunda e a terceira teria que manter a
compatibilidade, então não teria sentido do Estado comprar de outra marca. Eu
assumi a gerência no dia 5 de maio de 2015, o processo foi dado entrada na
ferramenta de processo eletrônico do governo, no dia 17 de março de 2015, e o
parecer técnico foi assinado pelo Danilo no dia 25 de março de 2015, ainda como
gerente de TI da Epagri. Aí só depois ele assume na Degovi.
SC em Pauta – Você chegou a encontrar
alguns desses outros citados circulando na Epagri, a exemplo do ex-secretário
Nelson Nappi?
Fábio – O Nappi tem
uma ligação com o Danilo, ele é o cara que levou o Danilo para o Degovi na
época. Ele era o secretário adjunto da Administração na época, e levou o Danilo
para assumir essa diretoria.
SC em Pauta – O que você sentiu ao passar
por tudo isso e, por ter sido preso?
Fábio – A minha
reputação foi destruída. Coisa que eu levei quarenta anos para construir, em
cinco horas quando vazou nomes para a imprensa a minha reputação foi destruída.
Mas todas as imagens de print que me colocaram como corrupto, eu vou provar a
minha inocência, todos eles eu vou processar por danos morais, todos. Quem
compartilhou as reportagens não, mas quem fez um comentário em cima, sobre
corruptos do lado do PSL, esse tipo de coisa, todos.
Mas todas as imagens de print que me
colocaram como corrupto, eu vou provar a minha inocência, todos eles eu vou
processar por danos morais, todos
SC em pauta – Você sente que houve um viés
político para atacá-lo na internet?
Fábio – Quem é o
Fábio Lunardi Farias e Júlio Garcia, coloca na balança. Faz uma busca na internet
para ver quantas vezes aparece o meu nome ligado a Operação Alcatraz, e quantas
vezes aparece o nome dele. Meu nome apareceu mais do que o dele. Quem eu sou?
Eu sou um mero gerente de TI, um cargo de quinto escalão do governo. É obvio
que também utilizaram isso para o lado político, mas isso não importa agora. Eu
estou trabalhando para limpar a minha reputação. Eu fui exonerado injustamente
do cargo de gerente de tecnologia da Secretaria de Estado da Agricultura, cargo
que eu assumi no dia 06 de fevereiro deste ano. O secretário me tem como uma
pessoa honesta, o secretário adjunto também e, agora a minha reputação foi
destruída. O espaço que foi dado para sujar o meu nome, não terá o mesmo
tamanho para dizer que fui inocente.
SC em Pauta – Como você se sente em relação
a isso?
Fábio – A sensação de
injustiça que eu estou sentindo é demais. Eu não vou poupar nenhuma informação,
que agora que eu tive conhecimento do processo, que eu acho que seja suspeita e
que mereça investigação. Vai ter mais alguns nomes que eu vou ter que,
infelizmente, informar nos documentos que vou entregar para a Polícia Federal.
SC em Pauta – Quem são essas pessoas?
Fábio – As pessoas
que eu desconfiava que não faziam e, que me restou provado depois que eu li as
decisões que embasou as prisões, contra essas tem muitos elementos. Mas tem
outros nomes em outras esferas do Governo, que se a Polícia Federal quiser
acompanhar todo o processo, eles verão que tem nomes ali de secretários de
Estado de governos anteriores, que terão que se explicar.
Se a Polícia Federal quiser acompanhar todo
o processo, eles verão que tem nomes ali de secretários de Estado de governos
anteriores, que terão que se explicar
SC em Pauta – Você tem medo de ameaças?
Fábio – Se eu tenho
medo, eu estou com a verdade e quem está com a verdade não tem medo. Eles
pediram acesso a todas as informações, eu entreguei. Se eu sumir, registra aí.
Qualquer coisa que acontecer comigo, com certeza foi algum dos investigados ou
interessado. Talvez as informações que eu passei mais vão confirmar, você não
tem ideia da documentação que eles tem, é muita coisa. Não tem como eles
explicarem, dinheiro, depósito, gente que depositava todo mês R$ 10 mil nas
contas.
Se eu sumir, registra aí. Qualquer coisa
que acontecer comigo, com certeza foi algum dos investigados ou interessado
SC em Pauta – Acha que vai aparecer mais
nomes fortes de políticos, secretários entre outros?
Fábio – Vai depender
do trabalho da polícia. Eu não tinha contato direto, mas como a gente está
dentro do governo, a gente acaba sabendo de nomes aí, que participavam de um ou
outro, por exemplo, o motivo da tramitação de um processo mais rápido do que o
normal. Se for buscar essas informações, terão mais gente para se explicar.
SC em Pauta – Envolve ex-governadores
também?
Fábio – Possivelmente.
Se a Polícia continuar as investigações, com certeza vai subir os escalões. E
para finalizar eu vou comprovar a minha inocência, vou entregar para a polícia
que vai ajudar a identificar os reais culpados do que aconteceu, apesar que a
minha carreira profissional ficou destruída.
Se a Polícia continuar as investigações,
com certeza vai subir os escalões
SC em Pauta – Você acha que é possível te
chamarem novamente para a Secretaria de Agricultura?
Fábio – Eu não tenho
essa expectativa. Quem passa por tamanha injustiça vira leproso. No olhar de
qualquer um, mesmo que eu prove, eu viro um leproso. Eu não cometi nenhum ato
de corrupção, nunca levei vantagem e no máximo eu fui um inocente útil no meio
disso tudo.
SC em Pauta – Tem outros inocentes úteis
também?
Fábio – Com certeza
absoluta e, na própria Epagri. Não entre os presos, mas que poderiam ter
passado pela mesma coisa que eu passei, pois, assinaram documentos. Nós vamos
juntar na minha defesa todas as pessoas da Epagri que assinaram documentos e
que da mesma forma poderiam ter passado o que eu passei.
SC em Pauta – Entre os presos você acredita
que não tem inocente?
Fábio – Olha, os
preventivos eu posso dizer que, como eu acabei vendo do Hesmann e do Danilo, eu
tenho a certeza que eles não são inocentes, tem muitos elementos, mas não vou
fazer o que fizeram comigo. Mas tem muito elemento, principalmente o presidente
da Epagri e do Danilo Pereira. Dos que estavam na custódia comigo, eu não sei,
mas a situação deles também não é boa. Na custódia comigo tinha outra pessoa
que foi liberada também na sexta-feira, o Renato Deggau. Ele também passou por
uma posição parecida com a minha, mas dentro da Secretaria de Estado da
Administração. Também vamos dizer que ele foi utilizado.