Por Valmir Guedes em seu Blog
Reza a lenda que um navio espanhol teria naufragado nos
costões do Farol do Cabo de Santa Marta (ainda sem o farol), no ano de 1737.
Os marujos sobreviventes, antes de prosseguirem viagem
a pé até a Vila de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), teriam
enterrado em algum local daquela região lagunense, quem sabe numa caverna, o
baú cheio de riquezas que traziam a bordo. Barras de ouro, prata e dobrões,
frutos das pilhagens nas colônias do Oceano Pacífico, como o Peru, Bolívia e
Chile, com destino a Europa.
No meio do caminho foram trucidados pelos índios na
região de Paulo Lopes e levaram para a eternidade o mapa do local exato onde
foi enterrado o tesouro. Lenda? Verdade? É o que veremos a seguir:
A região do Cabo de Santa Marta é repleta de histórias,
lendas, mitos e mistérios.
O local é também conhecido pelos inúmeros naufrágios
acontecidos ao longo dos séculos.
Mesmo antes da construção e inauguração do Farol de
Santa Marta, em 11 de junho de 1891, a região já acumulava vasto repertório.
Já nos primeiros cem anos após a descoberta do Brasil,
foram vários os expedicionários que passaram por Santa Catarina, sendo a região
os últimos portos para abastecimento dos navegantes europeus em direção ao
Estreio de Magalhães e ao Rio da Prata.
Por exemplo, foram doze as expedições espanholas, de
1516 a 1599 que aportaram em nosso litoral. Entre elas a primeira de Juan Diaz
Solis (1516), Dom Rodrigo de Acuña (1526) Sebastião Caboto (1526), Alonso
Cabrera (1538) e Álvar Nuñes Cabeza de Vaca (1541).
Sobre piratas e corsários
Quantos aos piratas, os mais famoso da história foram
Sir Francis Drake, Henry Morgan, Martin Tromp e James Lancaster. Este último,
inclusive, esteve no Brasil, em 1595.
No litoral catarinense aqui passou em fins do ano de
1582, o famoso corsário inglês Edward Fenton, aliás, companheiro do também
lendário Francis Drake. Atuava sob proteção da rainha da Inglaterra. Fenton,
por exemplo, havia saqueado a costa do Peru, com seus dois galeões Leicester e
Edward, com mais de 500 homens a bordo.
Fundeado na Enseada de Garopaba, então conhecida com
porto Don Rodrigo, batizou-o de Bay of Good Comfort (Porto do Bom Conforto).
Outros piratas que atacaram o litoral brasileiro foram
Thomas Cavendish (1591), e os franceses Jean-François Du Clerc (1710) e René
Duguay-Trouin (1711).
Alguns historiadores fazem distinção entre corsários e
piratas. Os primeiros contavam com uma carta de corso, isto é, com autorização
do rei ou rainha para saquear os navios e colônias de reinos inimigos. Já a
denominação mais comum, a de pirata, seria pura e simplesmente para os ladrões
do mar, que viviam às margens das leis, promovendo saques às cargas de qualquer
embarcação.
Nau espanhola trazia o tesouro
Desenho de
uma nau espanhola de 200 ton construída entre 1536 e 1540
O lagunense Saul Ulysséa autor dos livros “Laguna de 1880” e “Coisas Velhas”, entre outros, num escrito intitulado “Naufrágios” e publicado no jornal O Albor, de 26 de julho de 1947, nos conta sobre a lenda do tesouro do navio afundado no Cabo de Santa Marta.
Diz Ulysséa:
“(...) O segundo naufrágio de que há notícias, ocorreu ao sul do Cabo de Santa Marta, de uma nau espanhola denominada “Santa Marta”, em 1737.
Há afirmativa que aquele Cabo tomou a denominação de Santa Marta, em consequência deste naufrágio.
Afirmam historiadores que o naufrágio deu, em consequência de uma sublevação (motim) a bordo, o que faz crer que a nau foi propositalmente encalhada na praia.
Para a Vila da Laguna vieram duzentos náufragos que foram socorridos pelo fidalgo João de Távora, residente aqui.
Este antigo naufrágio originou uma lenda que passou através dos séculos.
Diz a lenda: Uma nau espanhola denominada “Santa Marta”, navegava do Pacífico para a Espanha, conduzindo barras de ouro e de prata, além de outros valores, das colônias espanholas do Pacífico, ali naufragando. Foram salvos os valores e não podendo a tripulação conduzi-los, resolveram enterrá-los no morro próximo que tomou em consequência desse naufrágio a denominação de Santa Marta.
Nessa data remota, segundo a lenda, não havia população no litoral, senão em Desterro, para onde seguiram em busca de auxílio.
De volta trazendo cargueiros, foram massacrados pelos indígenas, no lugar denominado Paulo Lopes, não sobrevivendo quem soubesse o lugar onde fora enterrado o tesouro.
Aí a lenda não explica como se pode saber do massacre, a menos que do Desterro tivesse seguido com a tripulação, um ou mais homens que escapasse.
Baseados nessa lenda, já tem sido procurado o tesouro”.
Evidentemente que a história, oral, atravessou gerações e foi modificada aqui e ali. O próprio nome do navio dos piratas, “Santa Marta” e que teria batizado o Cabo, não parece corresponder à verdade.
Segundo o historiador Lucas Boiteux, o Cabo de Santa Marta ganhou este nome em 1502, quando o comandante André Gonçalves teria chegado à região em 23 de fevereiro daquele ano, dia em que se festeja Santa Marta, segundo o calendário romano.
Aliás, no mapa-múndi, mais conhecido como Planisfério de Cantino, elaborado por um cartógrafo em 1502 e adquirido pelo italiano Alberto Cantino, o Cabo de Santa Marta teria sido assinalado com este nome no mapa. O documento encontra-se na Biblioteca Estense, na cidade de Modena, na Itália.
Dizer também que "não havia população no litoral, se não em Desterro", é também meio que forçar a barra. Afinal Laguna já havia sido fundada por Domingos de Brito Peixoto e logo seria transformada em Vila.
Há testemunhos afirmando que ao longo dos tempos, muita gente já foi vista na região do Cabo de Santa Marta procurando o tesouro enterrado pelos espanhóis, inclusive utilizando-se de medições e aparelhos detectores de metais. Ao que se sabe até hoje o local e o baú contendo as barras de ouro e prata não foram encontrados.
A lenda e o mistério do tesouro do Farol de Santa Marta continuam, despertando curiosidades e sonhos, atravessando séculos e gerações.
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