Do Plantão Brasil
O general Hamilton Mourão
ameaçou uma intervenção militar “caso o Judiciário não limpe a política da
corrupção”. Qualquer conhecedor da história brasileira sabe que as Forças
Armadas estão tão próximas da corrupção como o pus da ferida. Se quiséssemos
ilustrações recentes, basta olhar para o Pará: neste último 21/9, como mostra o
G1, o Superior Tribunal Militar (STM) condenou o coronel do Exército, Carlos
Alberto Paccini Barbosa, e mais seis pessoas – um ex-tenente e cinco civis -,
por envolvimento em um esquema de desvio de dinheiro público em obras que
estavam sob a responsabilidade do 8º Batalhão de Engenharia de Construção (8º
BEC), quartel do Exército sediado em Santarém.
Em primeiro lugar, deram
origem a figuras tão “íntegras” como Paulo Maluf, Antônio Carlos Magalhães e
José Sarney, durante a ditadura militar. A ditadura militar no Brasil, ainda,
deu o ponta pé inicial para o enriquecimento abrupto das grandes empreiteiras
como a Odebrecht, sempre envolvida em esquemas de corrupção (como mostramos
aqui). Mas além disso, podem-se enumerar dezenas de conhecidos casos de
corrupção na ditadura militar, que desabilita os “cérebros das casernas”, como
Mourão, a falar sobre “limpeza de ilícitos” numa instituição impregnada de
escândalos.
1. Hidrelétrica de Itaipu
A maior produtora de energia
elétrica do mundo provavelmente também foi a obra em que mais se desviou verba
pública durante o regime militar. Em 1979, o embaixador José Jobim foi
encontrado morto com uma corda no pescoço. Sua filha afirma que uma semana
antes ele estava na posse de João Figueiredo e havia anunciado que escreveria
um livro sobre a corrupção na construção da usina. Jobim participou do
empreendimento indo ao Paraguai para negociar as turbinas com a empresa
Siemens.
Sinais de sangue nas roupas
e os pés encostados no chão, mas o investigador concluiu que teria sido
“suicídio” sem sequer abrir o inquérito. (Leia a fonte aqui.)
2. Paulipetro
“Rouba mas faz” foi o slogan
de ninguém menos que Paulo Maluf, que teve empresa criada para a perfuração de
petróleo enquanto foi governador de São Paulo. Depois de perfurados 69 poços,
constatou-se que não havia petróleo algum e que R$ 4 bilhões foram gastos na
“empreitada”. Belo presente da ditadura militar, tão aclamada pelos saudosistas
dos coturnos e uniformes verde e amarelo, proporcionou à política brasileira.
3. Ponte “Costa e Silva”
(Rio-Niterói)
O primeiro grande
empreendimento faraônico dos militares, a Ponte Rio-Niterói demorou 5 anos para
ser entregue e passou por dois consórcios diferentes. O general Costa e Silva,
que “humildemente” deu o próprio nome à ponte, licitou a Construtora Ferraz
Cavalcanti, a Construtora Brasileira de Estradas, a Empresa de Melhoramentos e
Construções S.A. e a Servix Engenharia S.A, que entregariam a obra por 238
milhões de cruzeiros em 1971.
Com o atraso nas obras e
inúmeros acidentes que levaram a morte de muitos operários, o ministro dos
Transportes, Mário Andreazza, da alta cúpula das obras faraônicas dos
militares, adiou a inauguração e entregou a obra para a Camargo Corrêa, Mendes
Júnior e Construtores Rabelo Sérgio Marques de Souza.
Segundo O Globo, a obra
terminou custando US$ 674 milhões de dólares na época. Já segundo a Istoé, o
empreendimento teria ficado em R$ 5 bilhões. Difícil saber o número exato
quando os militares escondem as informações e censuram a imprensa.
4. Delfim Neto e a Camargo
Correa
Delfim Neto foi ministro da
Fazenda durante o governo Costa e Silva, Médici, embaixador na França durante o
governo Geisel e ministro da Agricultura no governo Figueiredo.
Sobre ele pesam as
suspeitas, também abafadas pela censura e pelo encobrimento de tudo o que
ocorreu durante os governos militares, de ter facilitado a Camargo Correa na
construção de outras duas hidrelétricas, de Água Vermelha (MG) e de Tucuruí. As
denúncias foram publicadas em no livro “Ditadura Acabada” de Élio Gaspari.
A hidrelétrica de Tucuruí,
no projeto US$ 2,5 bilhões, acabou custando US$ 10 bilhões de dólares. (Fonte.)
5. Newton Cruz e o caso
Capemi
Um caso leva a outro, e o
jornalista e colaborador do Serviço Nacional de Inteligência, Alexandre von
Baumgarten, teria sido morto por ter contato com as denúncias envolvendo o
general Newton Cruz com a Agropecuária Capemi e a exploração da madeira no
futuro lago Tucuruí (ver anterior). Pelo menos US$ 10 milhões de dólares teriam
sido desviados para beneficiar o SNI. O ex-delegado do Dops, Cláudio Guerra,
declarou em 2012 que a ordem para matar veio do próprio SNI.
6. Transamazônica
Conhecida por ser a a
estrada que liga o nada ao lugar nenhum, a Transamazônica foi uma obra
faraônica bilionária e inconclusa por parte dos militares, durante o governo
Médici (1969 – 1974). O projeto previa a ligação do Cabedelo, na Paraíba, à
cidade de fronteira Benjamin Constant, no Amazonas. A ideia era seguir até o
pacífico pelo Peru e o Equador, um roubalheira realmente sem limites, combinado
ao desmatamento da mata, expulsão de povos indígenas e seringueiros. No fim, a
Transamazônica terminou 687 km antes, em Lábrea, e, claro, sem asfalto. Nem por
isso, deixou de custar a bagatela de US$ 1,5 bilhões de dólares na época
7. Grupo Delfin
A corrupção rolava tão
solta, que os corruptos de casos diferentes se juntavam esporadicamente para
roubar. No caso do grupo Delfin, Mario Andreazza (ministro do Interior, ex
transportes) e Delfim Netto (Planejamento, ex fazenda) se encontram com Ermano
Galvêas (Fazenda), em uma reportagem da Folha de SP em 1982 que apontou que a
empresa de crédito imobiliário Grupo Delfin, dos três, recebeu 70 bilhões de
Cruzeiros do Bando Nacional de Habitação (governo) para quitar dívidas.
8. Golpe militar financiado
por Caixa 2
Em 2014, o coronel reformado
Elimá Pinheiro relatou à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo
que os militares receberam financiamento através de caixa 2 de empresas. No
caso relatado Raphael de Souza, presidente da Federação das indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), teria pago o equivalente a, nos dias de hoje, R$
9,5 milhões para comprar o apoio do general Amaury Kruel, que comandava o 2º
Exército em São Paulo e havia sido Ministro da Guerra de João Goulart.
Segundo o depoimento, “Cada
um trazia duas maletas, uma em cada braço. No total, seis maletas. (…) Mandei
abrir. Começou uma briga, mas olhei e vi que era só dólar, dólar, dólar. Todas
elas cheias de dólares. Amarradinhos do banco, aqueles pacotes de depósito
bancário. Um milhão e 200 mil dólares.” Kruel jurava lealdade a Jango e
rapidamente mudou de lado.
“Ninguém doava dinheiro de
lucro” disse Paulo Egydio Martins, ex-governador de São Paulo e presidente da
Associação Comercial de São Paulo na época. Esta fato ilustra que, não só
existiu corrupção durante a ditadura militar, mas mais que isso, se não fosse a
corrupção dos capitalistas, os militares não teriam força para se manter no
poder por si próprios, sem o apoio dos capitalistas que financiaram aquele
regime autoritário em troca de multiplicar seus lucros. (Fonte aqui..)
9. Corrupção do chefão do
Dops: Paranhos Fleury
Um dos nomes mais conhecidos
da repressão, atuando na captura, na tortura e no assassinato de presos
políticos, o delegado paulista Sérgio Fernandes Paranhos Fleury foi acusado
pelo Ministério Público de associação ao tráfico de drogas e extermínios.
Apontado como líder do Esquadrão da Morte, um grupo paramilitar que cometia
execuções, Fleury também era ligado a criminosos comuns, segundo o MPF,
fornecendo serviço de proteção ao traficante José Iglesias, o “Juca”, na guerra
de quadrilhas paulistanas. No fim de 1968, ele teria metralhado o traficante
rival Domiciano Antunes Filho, o “Luciano”, com outro comparsa, e capturado, na
companhia de outros policiais associados ao crime, uma caderneta que detalhava
as propinas pagas a detetives, comissários e delegados pelos traficantes.
Fleury também é acusado de
envolvimento em diversos outros episódios de sequestro, tortura e assassinato
durante a ditadura militar, entre eles os do militante Carlos Lamarca e do
dominicano Frei Tito, caso relatado no filme Batismo de sangue. Também
participou da prisão de participantes do Congresso de Ibiúna da União Nacional
dos Estudantes (UNE) e é apontado como um dos comandantes da Chacina da Lapa,
em São Paulo, e da Chacina da Chácara São Bento, no Recife.
10. Fraude do Farelo
Na pequena cidade de
Floresta, Pernambuco, a agência do Banco do Brasil fazia empréstimos a pessoas
influentes do estado, supostamente para plantar mandioca. Mas elas nunca
pagavam: alegavam que a seca destruíra os plantios que nunca foram feitos e os
prejuízos eram cobertos pelo seguro agrícola. Em 1981, quando se descobriu a
mutreta, calculava-se que o valor total dos “empréstimos” chegara a 700 milhões
de dólares. O processo de desvio de dinheiro não foi concluído e, claro, nenhum
dinheiro foi devolvido. Em Pernambuco mesmo, no ano seguinte, grandes
pecuaristas pediam financiamento para comprar farelo para alimentar o gado e
aplicavam o dinheiro na caderneta de poupança. Essa história ficou conhecida
como “fraude do farelo”.