Há dois momentos que ameaçam um grupo político:
o do sucesso e o da derrota
por Luis Nassif
O sucesso tende a minimizar os riscos e os inimigos.
Melhor exemplo foi o incomparável sucesso de Lula no período 2008-2010 e o de
Dilma Rousseff nos dois primeiros anos, que os fez cegos aos movimentos de
desestabilização que já estavam em andamento.
A derrota tende a promover a desesperança, como reação,
despertar a busca de saídas mágicas. É um momento em que proliferam
oportunistas, vendedores de poções mágicas do velho oeste, anunciando balas de
prata aqui e acolá, que resolverão todos os problemas instantaneamente. Usam
despudoramente o recurso aos fake news para oferecer informações ou análises
falsas, explorando a boa fé dos que precisam se iludir para superar a decepção
com os rumos do país.
Hoje em dia, os vendedores de poções e os radicais de
gueto são as maiores ameaças à reconstrução de um centro-esquerda que consiga
recuperar o poder.
Há dois enormes desafios pela frente: vencer as
eleições e montar a governabilidade. Suponha-se, numa hipótese distante, que
Lula conseguisse concorrer e vencer as eleições. Como governaria? Poderia abrir
mão do PDT, do PSB, do PCdoB, de setores progressistas do PMDB, de lideranças
da indústria e do trabalho? É evidente que não. E uma eleição sem Lula torna a
construção de consensos uma necessidade ainda maior.
A maneira como parte da militância reage ao exercício
da política, batendo em Fernando Haddad, o emissário de Lula para o pacto
político, e investindo contra candidatos de outros partidos, como Ciro Gomes, é
o caminho mais fácil para jogar a esquerda de volta ao gueto e aguardar algumas
décadas a chegada de outro profeta para recompor a perspectiva de poder.
Nunca a negociação política foi tão crucial. O que se
tem, na outra ponta não é Ciro Gomes, Haddad, Pimentel – eles são do mesmo lado
de Gleisi, Lindbergh, Viana -, mas uma quadrilha que está desmontando o país,
promovendo uma regressão de décadas nas políticas públicas, um partido da
Justiça que avança cada vez mais sobre os direitos fundamentais. E tudo isso
abrindo caminho para riscos ainda maiores, como o de Bolsonaro.
É momento que exige enorme dose de bom senso
especialmente das lideranças; e realismo e compreensão da parte dos militantes
e uma avaliação correta da correlação de forças.
Nesses tempos bicudos, há espaço para as posturas
aguerridas, importantes para manter a chama acesa. Mas não da parte das
lideranças. Há que se ter os guerreiros e os estadistas, os negociadores. A
estes cabe a responsabilidade de deixar de lado mágoas, quizílias,
idiossincrasias, e buscar o consenso.
Em poucos momentos da história, a presença de
negociadores se fez tão necessária.
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