Gaucha ZH
BRUXELAS BÉLGICA
(FOLHAPRESS) - Adotar estratégias radicais de isolamento social para conter
novo coronavírus pode salvar mais de 1 milhão de vidas no Brasil, aponta estudo
feito por uma equipe de 30 cientistas do Imperial College de Londres.
No trabalho divulgado nesta
quinta (26), os especialistas em doenças transmissíveis calcularam o número de
infectados, pacientes graves e mortos em cinco cenários de disseminação do
vírus no Brasil.
Sem medidas de isolamento
social que reduzam a transmissão do, o Brasil pode ter até 1,15 milhão de
mortes provocadas pela doença, chamada de Covid-19. No cenário de restrições
mais drásticas e precoces, as mortes seriam 44 mil.
Estudo semelhante feito pelos
pesquisadores para os Estados Unidos e o Reino Unido, na semana passada,
mostrou que o sistema público dos países entraria em colapso se não fossem
adotadas medidas de restrição de circulação.
Os dados fizeram o
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, acelerar a adoção de medidas mais
duras para conter a pandemia.
Estimativas como as feitas
pelo Imperial College baseiam-se em premissas que podem ser imprecisas quando
aplicadas de maneira geral a cada país.
O resultado, porém, é
importante para estimar a ordem de grandeza do impacto de diferentes
estratégias, e permitir o planejamento e o reforço dos sistemas de atendimento.
O principal objetivo do
isolamento social é impedir que o número de doentes leve os hospitais ao colapso,
provocando mortes em excesso. O Brasil tem 46 mil leitos de UTIs com
respiradores, capacidade que só não será superada na hipótese mais radical de
intervenção.
NENHUMA INTERVENÇÃO
Cenário em que a vida segue
normalmente. Dessa maneira, o coronavírus contagiará 188 milhões de
brasileiros, dos quais 6,2 milhões terão que ser hospitalizados e 1,5 milhão
precisará ser internado em UTI.
Neste caso, o número de
mortes estimado é de 1.152.283.
DISTANCIAMENTO SOCIAL
No caso de adoção de medidas
como proibição de eventos, redução na circulação, restrição a encontros, uma
estratégia mais branda e operacionalmente mais viável que as duas seguintes, o
número de mortes chega a 627 mil brasileiros, nos cálculos do Imperial College.
São infectados 122 milhões de
brasileiros, dos quais 3,5 precisarão de hospitalização e 831 mil terão que
ocupar uma UTI.
COM DISTANCIAMENTO SOCIAL E ISOLAMENTO DOS
IDOSOS
Protegendo os idosos, parcela
da população mais suscetível a complicações e mortes provocadas pelo
coronavírus, o número de mortes chega a 530 mil, nos cálculos dos cientistas.
Nesse cenário eles só devem sair de casa apenas em situação de absoluta
necessidade.
São infectados 121 milhões de
brasileiros, 3,2 milhões precisam ser hospitalizados e 702 mil ficam em estado
crítico, que requer tratamento em UTI.
COM SUPRESSÃO TARDIA
Além de determinar o
distanciamento social de toda a população, são feitos testes massivos, os casos
positivos são isolados e os que tiveram contato com eles, monitorados. É o que
fez a Coreia do Sul. As medidas são aplicadas quando há 1,6 morte por 100 mil
habitantes por semana. Nesta semana, a taxa de mortes por 100 mil por semana
brasileira foi 0,04.
Essa abordagem mais rigorosa
reduz o número de mortes a 206 mil.
São contaminados 49,6 milhões
de brasileiros, dos quais 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e
460 mil terão necessidade de cuidados intensivos. No pico da pandemia, a
necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI.
SUPRESSÃO PRECOCE
Estratégia semelhante à do
cenário 4, mas com medidas aplicadas quando ocorre 0,2 morte por 100 mil
habitantes por semana. Por ser o mais rigoroso, é o que mais reduz a sobrecarga
dos hospitais e o número de mortes.
Nessa abordagem mais radical,
morreriam 44 mil brasileiros. Seriam infectados pelo coronavírus 11 milhões de
pessoas, das quais 250 mil precisariam de hospitalização e 57 mil, de UTI. No
pico da pandemia, a necessidade de leitos de hospital seria de 72 mil; de UTIs,
15 mil.
ENTENDA AS PREMISSAS
Os cálculos consideram que,
se circular livremente, o coronavírus Sars-Cov-2 pode infectar cerca de 80% da
população do país.
Das pessoas infectadas, boa
parte não apresentará sintomas ou terá sintomas leves o suficiente para se
tratar em casa. Cerca de 20% precisarão de hospitalização, e 5% dos casos se
tornarão graves, com complicações que exigirão internação em UTI e uso de aparelhos
de respiração.
Metade dos casos críticos
leva à morte, de acordo com os pesquisadores, com base na evolução da pandemia
nos países em que ela está em estágio mais avançado, como a China e a Itália.
O número de mortes cresce
proporcionalmente quando mais gente é contagiada, porém, por dois motivos: os
casos graves de coronavírus superam a capacidade de atendimento intensivo,
deixando parte dos doentes sem o cuidado necessário, e o caos nos hospitais
provoca a morte de outros doentes graves.
Os autores do estudo
ressalvam que, para estimar a evolução da doença, levaram em conta padrões de
contágio dos países mais ricos.
Como a transmissão depende da
densidade populacional e da frequência de encontros, a velocidade de contágio
pode variar de acordo com o local.
Em lugares em que muitas
pessoas dividem o mesmo espaço, como em favelas, onde as condições de higiene e
saneamento são precárias ou onde o sistema de saúde tem menos recursos, a
situação pode ser mais grave que a estimada.
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