A
Advocacia-geral da União acaba de decidir que o III Levantamento Nacional sobre
o Uso de Drogas pela População Brasileira – aquele mesmo que foi censurado –
será divulgado. A pesquisa, de 2017, estava em segredo até abril deste ano,
quando foi revelada pelo Intercept.
HÁ DOIS MESES, o Intercept e a Casa
da Democracia revelaram que o governo esconde desde 2017 o 3º Levantamento Nacional
Domiciliar sobre o Uso de Drogas, pesquisa nacional que investigou o consumo de
substâncias lícitas e ilícitas por brasileiros. O estudo, feito pela Fundação
Oswaldo Cruz, a Fiocruz, foi o maior já feito sobre o tema – foram ouvidas
16.273 pessoas em 351 cidades – e custou aos cofres públicos mais de R$ 7
milhões.
Mas
a Secretaria Nacional de Política de Drogas, a Senad, órgão do Ministério da
Justiça responsável por encomendar a pesquisa, decidiu engavetá-la. A alegação
oficial é que ela tem problemas metodológicos. Mas, segundo especialistas, o embargo
tem outra razão: o resultado contrariou o governo. Conforme o Intercept divulgou em abril, o
levantamento mostrou, por exemplo, que só 0,9% da população usou crack alguma
vez na vida – um número que está longe do que o governo alardeia como “epidemia”.
O
atual ministro da Cidadania, Osmar Terra, foi um dos responsáveis por embargar
o levantamento. Em entrevista nesta semana, ele disse que “não confia” no
estudo e que a Fiocruz tem “viés de defender a liberação das drogas”. As declarações
do ministro fizeram com que o assunto chegasse até ao Jornal Nacional, que
divulgou alguns dos resultados publicados há dois meses pelo Intercept (sem os créditos, mas
essa é outra história).
Em
abril, logo depois que publicamos os resultados da pesquisa, o ministro da
Justiça, Sérgio Moro, autorizou a divulgação do relatório – desde que ele
não fosse associado à Senad, do Ministério da Justiça. O governo exige que a
Fiocruz devolva os R$ 7 milhões da pesquisa, alegando que ela não cumpriu o
edital. A Fiocruz diz que cumpriu e, neste momento, o caso está sendo avaliado
pela Advocacia Geral da União.
Em
abril, quando publicamos a história pela primeira vez, avaliamos que divulgar o
documento na íntegra poderia colocar em risco os objetivos da pesquisa e
contribuir para que o levantamento fosse definitivamente engavetado pelo
governo. Por causa dos últimos acontecimentos, no entanto, decidimos que é
interesse público divulgar, na íntegra, o que o estudo mostrou.
Leia
o relatório completo:
CLIQUE: https://www.ufmt.br/dest/arquivos/bef523d2bc0d45f592c7e4bf0b57dce9.pdf
CLIQUE: https://www.ufmt.br/dest/arquivos/bef523d2bc0d45f592c7e4bf0b57dce9.pdf
ATUALIZAÇÃO: 1 de junho de 2019, 17h
Após a publicação deste texto, fontes informaram que há uma versão posterior do estudo, mais completa, que atendeu à outras exigências feitas pela Senad. Ainda segundo as fontes, é a nova versão que está sob avaliação do Ministério da Justiça e da AGU.
Após a publicação deste texto, fontes informaram que há uma versão posterior do estudo, mais completa, que atendeu à outras exigências feitas pela Senad. Ainda segundo as fontes, é a nova versão que está sob avaliação do Ministério da Justiça e da AGU.
Nenhum comentário:
Postar um comentário