Como se não bastasse o elevado nível de desemprego de jovens
no país, 89% das pessoas de 18 a 24 anos de idade que conseguiram uma ocupação
remunerada nos últimos 12 meses foram parar no mercado de trabalho informal,
recebendo salários abaixo da média e sem garantias trabalhistas...
Por Valor Econômico
Como se não
bastasse o elevado nível de desemprego de jovens no país, 89% das pessoas de 18
a 24 anos de idade que conseguiram uma ocupação remunerada nos últimos 12 meses
foram parar no mercado de trabalho informal, recebendo salários abaixo da média
e sem garantias trabalhistas, mostra levantamento da consultoria IDados obtido
pelo Valor. Do segundo trimestre de 2018 ao mesmo período deste ano, 230 mil
jovens de 18 a 24 anos conseguiram uma ocupação. Entre eles, apenas 32,5 mil
eram empregos no setor privado com carteira.
O restante
foi parar em empregos precários, principalmente em vagas sem carteira (85,1
mil) ou no trabalho por "conta própria" sem CNPJ (119 mil). Os dados
chamam atenção num momento em que o governo finaliza um pacote de medidas que
inclui o estímulo ao primeiro emprego de jovens, por meio da desoneração da
folha de pagamento. O pacote também deve incluir outras medidas como reforço de
programas de qualificação profissional e acesso facilitado ao microcrédito. O
levantamento mostra que os empregos com carteira de trabalho assinada foram
gerados especialmente nas atividades chamadas de "outros serviços"
(41,6 mil vagas líquidas), categoria que reúne profissões como cabeleireiros,
embelezamento e cuidados pessoais. Outras 26,9 mil vagas foram criadas no setor
de agricultura e pesca no período.
Ao mesmo
tempo que esses setores geraram empregos com carteira para jovens, o saldo foi
negativo para atividades de comércio (32,5 mil vagas fechadas de forma
líquida), construção civil (-21,1 mil vagas) e educação (-9.800 postos), no
segundo trimestre deste ano, sempre considerando a comparação ao mesmo período
do ano passado. Segundo José Pastore, professor de relações de trabalho da
Universidade de São Paulo (USP), são dois os fatores principais que explicam a
dificuldade do jovem em conseguir emprego. "As empresas consideram que o
jovem não tem experiência, então não dão preferência a ele", afirma.
"E os encargos sociais são os mesmos para contratar alguém com experiência
ou sem, o que desestimula a contratação do jovem."
Pastore
avalia que a desoneração de folha é, dessa forma, boa por atacar um dos fatores
que inibem a contratação dos jovens. Já os programas de qualificação em
parceria com o Sistema S, também parte do pacote, enfrentam a outra ponta da
questão. O sociólogo reconhece, porém, que reduzir o custo do trabalho não
resolve sozinho o problema. "O emprego depende de investimentos e
crescimento econômico, mas, dentro do atual quadro de baixo crescimento, um
estímulo às empresas abrirem as portas é uma medida necessária", afirma
Pastore. Uma parcela significativa dos jovens de 18 a 24 anos segue em busca de
oportunidade de trabalho. Mesmo mais escolarizados do que as gerações
anteriores, muitos desses jovens profissionais esbarram na falta de experiência
para acessar o mercado de trabalho e também acabam sendo alvo mais frequentes
em momentos de corte. Dados do IBGE mostram que 4 milhões de jovens de 18 a 24
anos estavam desempregados no segundo trimestre deste ano. Dessa forma, a taxa
de desemprego da faixa etária estava em 25,8% no segundo trimestre deste ano.
Esse percentual é três vezes mais elevado, por exemplo, do que na faixa de 40 a
59 anos, que está em 7,2%. O desemprego médio geral estava em 12%. Se incluído
nesses cálculos os jovens subocupados (empregados, mas que gostariam de
trabalhar mais) e da chamada força de trabalho potencial (que não buscam
emprego, mas estão disponíveis), 7,2 milhões de pessoas de 18 a 24 anos têm a
mão de obra "desperdiçada".
Essa é a
medida chamada de subutilização, cuja taxa estava em 41% no segundo trimestre
deste ano. Com um quadro geral tão ruim de emprego, os profissionais mais
jovens também sofreram com o encolhimento salarial. Na média, a renda caiu de
R$ 1.191 no segundo trimestre de 2018 para R$ 1.173 no mesmo período deste ano,
baixa de 1,5%. É um desempenho pior do que a média geral dos trabalhadores, que
viram a renda cair 0,2%. Para Sérgio Firpo, professor do Insper, a desoneração
da folha de pagamentos como estímulo à contratação de jovens pode ser um
paliativo ao desemprego nas faixas etárias mais baixas, mas melhor política é
estimular o jovem a permanecer na escola. "O desemprego entre a juventude
é alto em todos os países, mas, no Brasil, ele cresceu muito recentemente por
causa da crise", observa Firpo. "Muitos jovens tiveram que ajudar a
recompor renda familiar, entrando precocemente no mercado de trabalho. Isso
afetou a capacidade deles de acumular capital humano e ter renda futura mais
alta."
Nesse
cenário, o economista avalia que, pensando na renda futura e no crescimento da
produtividade, seria mais importante gastar recursos públicos para aumentar a
qualidade da educação - particularmente no ensino médio público, em que a
evasão é elevada - ou em incentivos às famílias dos jovens para que eles se
mantenham na escola. O professor também avalia que um escalonamento do salário
mínimo por faixa etária talvez fosse uma medida mais bem focalizada do que a
desoneração de folha, embora mais difícil de tornar viável. "Criar
subsídio para as firmas contratarem jovens me parece uma forma de universalizar
algo que poderia ser focado naquele jovem que não tem emprego porque o salário
mínimo é muito elevado para aquilo que ele consegue agregar de produtividade às
empresas", afirma. "Talvez fosse o caso de se pensar em ter
diferentes pisos salariais dependendo da idade."
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