Os
animais ajudam na locomoção de pessoas com deficiência visual
Por Andreia Verdélio – Agência
Brasil
O servidor público Silvo
Gois de Alcântara, de 44 anos, recebeu a labradora Bia em sua casa há quase
três anos. Ela é o seu terceiro cão-guia e o proporciona melhor qualidade de
vida e mais autonomia e segurança para se locomover. “A mudança de vida com o
cão-guia é muito significativa em todos os sentidos”, disse ele à Agência
Brasil, hoje (25), dia em que é celebrado o Dia Internacional do Cão-Guia.
Alcântara tem deficiência
visual severa. Ele foi diagnosticado ainda criança com uma doença degenerativa
que leva à cegueira total e há mais de 20 anos teve a queda mais intensa na
capacidade de enxergar. Sempre usou bengala para se locomover, até que em 2002
recebeu o Vircan, seu primeiro cão-guia, que já morreu. Depois veio a Naná, já
aposentada, mas que ainda vive com a família de Alcântara, e hoje conta com o
auxílio da Bia.
A principal mudança, segundo
ele, é na locomoção, já que o cão-guia é treinado, por exemplo, para localizar
escadas, entradas e saídas e faixa de pedestres, além de desviar de todos os
obstáculos, em qualquer nível de altura. “Quando eu pego o equipamento, ela já
vem saltando e quer sair com a gente”, disse.
Além de melhorar a
locomoção, o cão-guia ajuda na socialização do deficiente visual. “Nós temos
muito mais interação com a sociedade, as pessoas se aproximam, conversam”,
disse, contando que já passou por situações em que estava com a bengala e foi
ignorado e já com o cão-guia recebeu a atenção devida.
O servidor faz parte do
Projeto Cão-guia de Cegos do Distrito Federal, da Associação Brasiliense de
Ações Humanitárias. Criada em 2001, já entregou 51 cães-guia no Distrito
Federal e em outros estados do país. O projeto conta com um centro de
treinamento em parceria com Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, além de
outros apoiadores.
A coordenadora do projeto
Lúcia Campos disse que o principal desafio ainda é conseguir recursos. “O
projeto só existe porque tem excelentes parcerias”, disse. O custo para formar
um cão-guia, segundo ela, chega a R$ 40 mil. A entidade não recebe nenhum tipo
de financiamento público e, além das parcerias, vive de doações e das ações da
Associação Amigos do Cão-guia.
O treinamento de um cão-guia
não é simples e dura cerca de oito meses. Antes disso, eles passam por um
período de socialização, aproximadamente por um ano e meio, com as chamadas
famílias hospedeiras. Elas têm a responsabilidade de levar os cães aos mais
diversos locais para que eles conheçam o mundo no qual estarão inseridos ao
guiar as pessoas com deficiência visual, como shoppings, restaurantes, ônibus,
metrô, praças e escolas.
Lúcia Campos conta que hoje
no DF existem dez filhotes em socialização e sete cães em treinamento. Segundo
ela, há em torno de 150 cães-guia em atividade no país, para um público enorme
de pessoas com deficiência visual. Conforme o último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, há no país mais de 6,6
milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual severa, sendo que 506,3
mil se declararam cegas.
“É um trabalho que aqui no
Brasil tem muitas dificuldades. A falta de recursos é muito grande mesmo”,
disse, ao defender a concessão de incentivos fiscais para as empresas e pessoas
físicas interessadas em apoiar esse tipo de projeto.
Em 2005, foi sancionada a
Lei 11.126 que fala sobre o direito do portador de deficiência visual de entrar
e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado do cão-guia. A
coordenadora alerta, entretanto, que as pessoas precisam respeitar o animal.
“Quando o cão está trabalhando não chame atenção, se alguém tirar a atenção do
cão-guia pode colocar o deficiente visual em risco. Isso é muito importante.
Ele é fofinho, mas está trabalhando”, disse, explicando que, caso o responsável
pelo cão autorize e tire a guia do animal, aí sim ele está livre para brincar.
Quem tiver interesse em ter
um cão-guia deve entrar em contato pelo e-mailcaoguiadf.cadastro@gmail.com.
Para quem tiver interesse em ser voluntário ou se tornar família hospedeira, o
e-mail de contato é ocaoguiadf@gmail.com. Na página do Projeto Cão-guia de Cegos
DF, no Facebook, também é possível acompanhar as ações do projeto e como fazer
doações.
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