A consulta pública ficará aberta até 30 de abril.
Está em consulta pública até o fim deste mês um novo
pacote de medidas de combate à corrupção, elaborado pela organização
Transparência Internacional em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). As
medidas são baseadas na experiência de enfrentamento à corrupção de 100 países
e podem ser consultadas pelo público por meio da plataforma Wikilegis.
Considerado pela Transparência Internacional,
organização que divulga anualmente o Índice de Percepção de Corrupção, como o maior pacote
anticorrupção do mundo, o novo conjunto de medidas tem mais de 80 sugestões de
proposições legislativas, como emendas constitucionais e projetos de lei.
Entre os temas colocados em debate estão a redução do
foro privilegiado, criminalização do chamado caixa 2, além da criação de um
Sistema Nacional de Combate à Corrupção e Controle Social e de facilitadores
para a participação popular no processo de produção das leis.
Também estão sob consulta a regulamentação do lobby,
a possibilidade de aplicação da lei da ficha limpa para servidores públicos,
autorização da prisão preventiva de parlamentares, criminalização do
enriquecimento ilícito de agentes públicos, definição dos crimes de abuso de
autoridade e estabelecimento de condições para regular a circulação de dinheiro
em espécie.
O público também poderá opinar sobre a proposta de
estabelecer um teto para o autofinanciamento em campanhas e sobre a extinção do
novo fundo de financiamento eleitoral. Pelas propostas em consulta, os partidos
políticos poderão ser mais responsabilizados ao serem submetidos à legislação
que trata de lavagem de dinheiro e na que determina transparência no acesso à
informação, por exemplo.
Outros pontos como a proteção de denunciantes de
boa-fé, definição de corrupção privada como crime, maior transparência na
seleção de ministros dos tribunais de contas e a criação de um gatilho de
eficiência para garantir duração razoável do processo judiciário também foram
incluídos no pacote.
Histórico
A apresentação das novas medidas dá continuidade de
forma ampliada à mobilização iniciada há três anos com a coleta de mais de 2
milhões de assinaturas em favor da proposta de iniciativa popular com 10
medidas anticorrupção. O chamado pacote das dez medidas, elaborado pelo
Ministério Público Federal, foi apresentado ao Congresso Nacional em março de
2016.
Ainda naquele ano, o plenário da Câmara aprovou o projeto durante uma
madrugada conturbada. Contudo, os deputados retiraram do texto as principais mudanças previstas na proposta
original, fato que motivou a reação de várias instituições. (links)
O novo pacote começou a ser elaborado há um ano com
apoio de mais de 300 instituições e apresenta as medidas consideradas
prioritárias por especialistas nas áreas de prevenção e repressão à corrupção.
Alguns dos temas criticados pela sociedade no pacote anterior foram removidos e
outras abordagens foram incluídas, principalmente com foco na transparência e
no controle social.
Segundo as instituições envolvidas na organização da
consulta pública, a nova agenda pretende ampliar a discussão para além das
questões circunstanciais da política e apresentar soluções estruturais para um
problema sistêmico.
“Esse nosso projeto abre esse espaço de construção
coletiva de ideias e projetos de lei. A gente tem quase 100 especialistas
envolvidos, sem contar todos os outros indivíduos que vão contribuir na
plataforma. Então, é um projeto de construção coletiva de uma agenda muito
importante para o país que é a da anticorrupção.”, disse Michael Freitas
Mohallem, professor da FGV Direito Rio e coordenador do Centro de Justiça e
Sociedade.
Debate eleitoral
Segundo o representante da Transparência Internacional
no Brasil, Bruno Brandão, o pacote tem maior envergadura que o anterior devido
ao momento histórico que o país tem vivido. E um dos principais objetivos da
iniciativa é incluir os temas do pacote no debate eleitoral deste ano.
“ Se tem um momento para ser ambicioso, para o país ter
a ambição de mudar de patamar, de transformação qualitativa no combate e
controle da corrupção, se existe um momento para ser ambicioso é agora, e
talvez o último em algum tempo. Já existe uma fadiga, uma descrença, uma
divisão do país, então, [a corrupção] ainda é o tema número um do debate
público”, avalia.
Passada a etapa de consulta pública, a estratégia da
organização é apresentar o pacote para candidatos e tentar angariar apoio deles
para a apresentação das propostas no Congresso Nacional a partir de 2019.
“ O foco é a adesão dos candidatos assinando um
compromisso com esse pacote, para que ele seja colocado em votação já no início
da próxima legislatura em 2019. Nós vamos buscar os candidatos para a
Câmara dos Deputados e o Senado Federal, um a um, e fazer um trabalho de
convencimento e advocacy para que possam aderir a esse pacote”, explica
Brandão.
Ele esclarece que o candidato poderá apresentar suas
ressalvas ao pacote, mas a ideia é encontrar entre os aspirantes a um cargo no
Parlamento defensores que se manifestem publicamente em favor de mudanças na
legislação de combate à corrupção no país. Os eleitores também serão alvo de
campanhas de estímulo ao debate das questões propostas no pacote.
Uma das organizações que participarão da mobilização
dos candidatos e dos eleitores é o Instituto Mude, que tem disponibilizado cursos online de
cidadania para formar potenciais multiplicadores dos temas contidos
nas medidas. O objetivo é promover a discussão do tema no dia a dia e orientar
os eleitores sobre candidatos investigados por envolvimento em irregularidades.
“Trabalhamos nas dez medidas e entendemos que foi um
passo e que a sociedade aprendeu com o processo como um todo. Agora, essa
oportunidade de novas medidas é uma nova esperança, uma nova possibilidade. [O
período eleitoral] é um momento propício, porque é uma oportunidade que a
população está aberta para o tema corrupção. As pessoas querem saber, querem se
informar e cobrar. Tomara que no processo de voto seja considerado de fato
essas questões mais objetivas de combate à corrupção”, ressalta Patrícia Alves,
uma das porta-vozes do Instituto Mude.
A consulta pública ficará aberta até 30 de abril.
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