A conversão em
casamento da união estável entre pessoas do mesmo sexo já é autorizada por juízes.
No entanto, há casos de recusa, fundamentada na inexistência de previsão legal
expressa
Projeto altera o Código Civil para reconhecer como
família “a união estável entre duas pessoas”, independentemente da orientação
sexual. Senadores contrários à mudança anunciam recurso para que proposta vá a
plenário antes de seguir para a Câmara.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado
aprovou, nesta quarta-feira (3), em turno suplementar, o projeto de lei que
reconhece legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A proposta, que
tramita há seis anos, chega agora à sua última fase de tramitação na Casa. O
texto já poderia ser enviado diretamente à Câmara, mas deve seguir para o
plenário, a pedido de um grupo de senadores contrários à mudança na lei.
Autora do projeto, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP)
classificou a aprovação do relatório do senador Roberto Requião (PMDB-PR) como
um “avanço muito significativo”. Ela lembrou que, apesar de o Supremo Tribunal
Federal (STF) ter reconhecido, em 2011, a união estável para casais do mesmo
sexo, equiparando-os aos heterossexuais, o Código Civil ainda trata como
casamento apenas a relação entre um homem e uma mulher. “A aprovação de hoje,
na CCJ, com relatório e substitutivo do senador Roberto Requião, prevê justamente
essa mudança fundamental no Código Civil, para dispor que o casamento poderá
ser entre pessoas”, disse Marta.
A conversão em casamento da união estável entre pessoas
do mesmo sexo já é autorizada por juízes. No entanto, há casos de recusa,
fundamentada na inexistência de previsão legal expressa. O projeto de lei tem
como objetivo eliminar as dificuldades nesses casos, mas não permite o chamado
“casamento direto”, em que o casal passa por um processo de habilitação, mas
não precisa comprovar união estável.
Resistência declarada
A principal resistência à proposta vem do senador Magno
Malta (PR-ES), da bancada evangélica, que anunciou a coleta de assinaturas para
levar a discussão ao plenário. Ele chamou o casamento entre pessoas do mesmo
sexo de “aberração”. Os senadores Eduardo Amorim (PSDB-SE), Eduardo Lopes
(PRB-RJ) e Wilder Morais (PP-GO) também anunciaram voto contrário ao projeto.
Eles devem apoiar o recurso para que a proposição, que tramitava em caráter
terminativo, ou seja, sem a necessidade de passar pelo plenário, seja submetida
a todos os 81 senadores.
O substitutivo havia sido aprovado em primeiro
turno no último dia 8 de março. Atualmente, o Código Civil reconhece como
entidade familiar “a união estável entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família”. Com o projeto, a lei será alterada para estabelecer
como família “a união estável entre duas pessoas”, mantendo o restante do texto
do artigo.
De acordo com o substitutivo aprovado, a união estável
“poderá converter-se em casamento, mediante requerimento formulado dos
companheiros ao oficial do Registro Civil, no qual declarem que não têm
impedimentos para casar e indiquem o regime de bens que passam a adotar,
dispensada a celebração”.
No relatório que acompanha o substitutivo, Requião
lembrou decisão de 2011 do Supremo que reconhece o direito à formalização da
união entre casais homossexuais. Ele observou, no entanto, que é
responsabilidade do Legislativo adequar a lei em vigor ao entendimento
consagrado pelo STF.
Contrário
Contrário à proposta, Magno Malta apresentou emenda ao
texto, rejeitada pelo relator por ser considerada equivalente a um substitutivo
ou “voto em separado”, o que é vedado na análise em turno suplementar, ou seja,
seria antirregimental. Com a emenda que apresentou, Malta pretendia manter o
instituto do casamento, no Código Civil, apenas como ato entre um homem e uma
mulher.
Para rejeitar a emenda, Requião reafirmou que a
interpretação do STF relativa ao dispositivo constitucional sobre o casamento
atribui aos pares homossexuais o direito ao casamento civil. Sustentou que esse
é o princípio a ser admitido em lei, ainda que o colega senador resista à
ideia, com base em “princípios morais que não admitem o casamento homoafetivo”.
Com informações da Agência Senado
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