A expressão caixa 2 é que o termo define as doações não
contabilizadas, portanto, não declaradas aos órgãos de fiscalização, a
candidatos e partidos. Assim seriam classificados os R$ 20,1 milhões que
políticos de Santa Catarina ou seus representantes teriam pedido à Odebrecht de
2010 a 2014.
Mais do que trazer valores à tona, as delações de
ex-executivos da empreiteira divulgadas nesta semana pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) escancaram a naturalidade com que ocupantes de (ou aspirantes) a
cargos eletivos e a iniciativa privada conviveriam com essa prática.
O governador Raimundo Colombo aparece em cinco ocasiões
nos depoimentos. Em duas, então senador, concorria pela primeira vez ao governo
catarinense. Na época, ele teria recebido R$ 2 milhões da empresa pelo caixa 2
para a campanha ao Executivo estadual e a empresa havia se negado a repassar
mais R$ 4 milhões, requeridos sob o pretexto de vencer a eleição no primeiro
turno. Em outra, já governador, supostamente solicitou (e levou) R$ 3 milhões,
também no caixa 2, para ajudar o aliado Cesar Souza Jr. na corrida à prefeitura
de Florianópolis em 2012. E mais duas durante a própria reeleição, quando teria
ganhado R$ 7 milhões – R$ 5 milhões na largada, R$ 2 milhões na reta final –,
sempre via caixa 2.
Somados, os valores associam Colombo, à maior fatia dos
aportes citados a catarinenses pelos delatores ou entre as citações em
planilhas entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR) no âmbito da
Operação Lava-Jato. Os R$ 12 milhões correspondem a 75% do total que a
empreiteira alega ter doado a políticos do Estado por fora, sem registros na
contabilidade oficial. As cifras ratificariam ainda o que o ex-presidente do
grupo, Marcelo Odebrecht (condenado a 19 anos e quatro meses de prisão), disse
à Justiça: cerca de três quartos dos gastos em uma campanha viriam de caixa 2.
Em 2010, o caixa 1 de Colombo foi de R$ 3,2 milhões; em 2014, de R$ 12,6
milhões.
Outra afirmação de Odebrecht que estaria se confirmando
à medida que vêm sendo reveladas as relações incestuosas entre homens públicos
e financiadoras de campanha, diz respeito à impossibilidade de vitória nas
urnas sem a injeção de recursos não contabilizados.
“Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa 2. O
cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era de
caixa 2”, disse o empresário.
No caso dos catarinenses, o nível de acertos da
empreiteira é de tirar o chapéu. Dos concorrentes que teria apoiado por baixo
dos panos, com exceção da sucessão estadual de 2010 e da municipal de Blumenau
em 2012, nas quais apostou em três nomes em cada (ou seja, perderia em dois), o
único derrotado foi o ex-pedetista Tico Lacerda, para a Assembleia Legislativa.
Juiz eleitoral em Florianópolis de 2004 a 2011, o hoje
procurador do município Oscar Juvêncio Borges Neto não tem a certeza do
ex-presidente da empreiteira. Mas alimenta a mesma suspeita:
“Infelizmente, não sei se há um político eleito no
Brasil sem caixa 2”, admite.
Do *Diário Catarinense
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