terça-feira, 18 de abril de 2017

Operação Odebrecht divulga qual e quanto cada político de SC teria ganhado


A expressão caixa 2 é que o termo define as doações não contabilizadas, portanto, não declaradas aos órgãos de fiscalização, a candidatos e partidos. Assim seriam classificados os R$ 20,1 milhões que políticos de Santa Catarina ou seus representantes teriam pedido à Odebrecht de 2010 a 2014.

Mais do que trazer valores à tona, as delações de ex-executivos da empreiteira divulgadas nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF) escancaram a naturalidade com que ocupantes de (ou aspirantes) a cargos eletivos e a iniciativa privada conviveriam com essa prática.

O governador Raimundo Colombo aparece em cinco ocasiões nos depoimentos. Em duas, então senador, concorria pela primeira vez ao governo catarinense. Na época, ele teria recebido R$ 2 milhões da empresa pelo caixa 2 para a campanha ao Executivo estadual e a empresa havia se negado a repassar mais R$ 4 milhões, requeridos sob o pretexto de vencer a eleição no primeiro turno. Em outra, já governador, supostamente solicitou (e levou) R$ 3 milhões, também no caixa 2, para ajudar o aliado Cesar Souza Jr. na corrida à prefeitura de Florianópolis em 2012. E mais duas durante a própria reeleição, quando teria ganhado R$ 7 milhões – R$ 5 milhões na largada, R$ 2 milhões na reta final –, sempre via caixa 2.

Somados, os valores associam Colombo, à maior fatia dos aportes citados a catarinenses pelos delatores ou entre as citações em planilhas entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR) no âmbito da Operação Lava-Jato. Os R$ 12 milhões correspondem a 75% do total que a empreiteira alega ter doado a políticos do Estado por fora, sem registros na contabilidade oficial. As cifras ratificariam ainda o que o ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht (condenado a 19 anos e quatro meses de prisão), disse à Justiça: cerca de três quartos dos gastos em uma campanha viriam de caixa 2. Em 2010, o caixa 1 de Colombo foi de R$ 3,2 milhões; em 2014, de R$ 12,6 milhões.

Outra afirmação de Odebrecht que estaria se confirmando à medida que vêm sendo reveladas as relações incestuosas entre homens públicos e financiadoras de campanha, diz respeito à impossibilidade de vitória nas urnas sem a injeção de recursos não contabilizados.

“Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa 2. O cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era de caixa 2”, disse o empresário.

No caso dos catarinenses, o nível de acertos da empreiteira é de tirar o chapéu. Dos concorrentes que teria apoiado por baixo dos panos, com exceção da sucessão estadual de 2010 e da municipal de Blumenau em 2012, nas quais apostou em três nomes em cada (ou seja, perderia em dois), o único derrotado foi o ex-pedetista Tico Lacerda, para a Assembleia Legislativa.

Juiz eleitoral em Florianópolis de 2004 a 2011, o hoje procurador do município Oscar Juvêncio Borges Neto não tem a certeza do ex-presidente da empreiteira. Mas alimenta a mesma suspeita:

“Infelizmente, não sei se há um político eleito no Brasil sem caixa 2”, admite.


Do *Diário Catarinense

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