Espécie,
conhecida como fang blenny, vive em recifes de coral do oceano Pacífico;
segundo novo estudo, criatura se defende com veneno reforçado por potente
analgésico opiáceo
Por Victoria Gill
Repórter de Ciência da BBC News
RICHARD SMITH/OCEANREALMIMAGES.COM
Image caption.
Os
fang blennies medem poucos centímetros e são colorido
Cientistas britânicos e australianos resolveram um
mistério do mundo marinho: os efeitos da mordida indolor de um peixinho
venenoso ornamental.
Eles constataram que o fang blenny, natural de corais
do Oceano Índico, se defende de predadores ministrando opioides - um composto
similar à morfina e à heroína, que causa uma queda súbita na pressão sanguínea
e, aparentemente, distrai o predador por tempo suficiente para que a presa
escape.
A pesquisa, que reuniu especialistas da Liverpool
School of Tropical Medicine, no Reino Unido, e da Universidade de Queensland,
na Austrália, foi publicada na revista especializada Current Biology e é um
exemplo dos segredos escondidos em nossos oceanos.
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Bryan Fry da Universidade de Queensland, explica que
peixes com algum tipo de mordida venenosa normalmente produzem dores imediatas.
"Uma das maiores dores que sofri na minha vida foi
quando fui picado por uma arraia. Foi algo infernal", contou ele.
Por isso, o fang benny aguçou a curiosidade dos
cientistas: eles queriam entender por que sua mordida era indolor.
"Mordidas ou picadas dolorosas são um mecanismo de
defesa útil - os predadores aprendem a evitá-las", explica Nicholas
Casewell, cientista da Liverpool School of Tropical Medicine.
Presas anestésicas
Casewell conta que os estudos sobre o fang blenny
feitos nos anos 70 observaram o comportamento de peixes maiores.
"Eles colocavam os blennies na boca, mas
rapidamente começavam a tremer e a abriam novamente. O fang blenny simplesmente
nadava para fora."
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Ao analisar a composição do veneno dos peixinhos, os
cientistas descobriram o opiáceo, composto conhecido como potente analgésico e
usado tanto como remédio quanto droga recreativa, como no caso da heroína.
Mas esse tipo de composto causa também queda na pressão
sanguínea, levando a tonturas e estado de fraqueza.
"Isso parece causar nos predadores uma perda de
coordenação, permitindo que o blenny fuja", completa Casewell.
Tesouros
A nova descoberta, diz Casewell, é uma amostra da
importância de preservação dos recifes de coral, ameaçados pelo aumento na
temperatura dos oceanos.
"Corremos o risco de extinguir uma espécie que
pode conter algo útil para os humanos. Podemos estar destruindo um recurso
antes mesmo de encontrá-lo."
Bryan Fry faz coro com o colega, apontando para as
aplicações práticas que o fang blenny pode ter para a ciência.
"Seu veneno pode ser a fonte da mais nova droga
analgésica do mercado, mas podemos perder a chance de desenvolvê-la se
extinguirmos o habitat desta e de outras criaturas vivendo em corais."
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