Não entendo
por que o próprio Tribunal Eleitoral não pode esclarecer quanto da dinheirama
foi declarada e aprovada por ele e de quanto ele nem sentiu o cheiro - Luis
Fernando Veríssimo
Por Luis Fernando
Veríssimo no blog do Noblat
A Operação Lava-Jato foi descrita por um dos seus alvos
como uma “sangria” a ser estancada antes que causasse mais estragos.
Se está em andamento, nos corredores sombrios do poder,
um processo de abafa da Lava-Jato sem dar muito na vista, só sabe quem frequenta
os corredores sombrios.
O recém-empossado ministro da Justiça declarou que não
tocará na Polícia Federal e não intervirá na Lava-Jato. Em outras palavras, que
vai deixar sangrar.
Quando eu era guri, na Idade Média, cruzava-se dedos
para dizer uma mentira, o que absolvia o mentiroso.
Ninguém observou os dedos do novo ministro enquanto ele
falava. Mas dizem que ele é um cara legal e fará o que falou, ou não fará o que
se teme.
O “Jornal Nacional” dá os nomes dos investigados pela
Lava-Jato e por outras operações, mas nunca deixa, corretamente, de procurar
representantes dos citados ou os próprios citados para ouvir suas defesas.
Com a enxurrada de novos denunciados aparecendo todos
os dias e com as delações se multiplicando, pode-se prever que em breve todo o
“Jornal Nacional” será tomado pelos nomes dos acusados e pelas suas
explicações, não sobrando tempo nem para a meteorologia com a Maju.
As explicações se repetem, sem muita variação. Todos
são inocentes. Nada do que receberam foi para o caixa dois ou para seus bolsos,
tudo foi para o caixa um, devidamente registrado pelo Tribunal Eleitoral.
Não entendo por que o próprio Tribunal Eleitoral não
pode esclarecer quanto da dinheirama foi declarada e aprovada por ele e de
quanto ele nem sentiu o cheiro, ou se tem competência para fazer isso, ou não
quer se envolver.
A esquerda, ainda ressentida com a condução coercitiva
do Lula e a gravação e o vazamento ilegais de conversa da Dilma, então na
Presidência, pode se consolar com a ideia de que Moro e seus justiceiros
desencadeiam um ataque sem precedentes ao capitalismo de compadres brasileiro.
Não se pode nem dizer que a Odebrecht, as empreiteiras
e outras empresas flagradas comprando favores de políticos sejam anomalias, e o
propinato, uma perversão a ser exorcizada para que os negócios voltem à
normalidade.
A normalidade, no capitalismo de compadres brasileiro,
é a promiscuidade do capital predador com o poder à venda, e assim tem sido há
décadas.
O que vem depois da Lava-Jato? A que normalidade se
volta, uma nova ou a de sempre? E até que ponto a sangria será tolerada?
No passado se recorria à sangria para fins
terapêuticos. No nosso caso, talvez o paciente não aguente.
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