terça-feira, 21 de março de 2017

Mar de lixo, por Gustavo Gollo


Por Gustavo Gollo no GGN

Tempos atrás, a indústria de refrigerantes chegou à saturação nos países ricos. Todas as pessoas já bebiam muito refrigerante e era impossível fazê-las beber mais, ou encontrar mais gente que ainda não bebesse, levando o setor a uma crise: impossível continuar crescendo. Ante o impasse, os fabricantes decidiram inventar alguma saída. Pensaram, pensaram, até que um pilantra teve uma ideia: vender água! Ideia surpreendente, mas, perguntaram, que tipo de imbecil iria comprar água? O pilantra respondeu: deixa na minha, nasce um otário a cada dia! Então, ele pegou uma grana para fazer uma campanha publicitária, pagou para dizer que sua água era deliciosa e a que bebiam imunda, e os trouxas acreditaram.

Esses caras, os fabricantes e vendedores de água, estavam lesando as pessoas, mas estavam fazendo algo ainda pior, um mal mais duradouro: faziam embalagens quase indestrutíveis para a água que vendiam. Funciona assim, o cara convenceu a galera de que a água do filtro, que ele tomou durante a vida inteira era ruim, que a sua era melhor, mas ela vinha numa garrafinha, ou num copo de polietileno feito para durar milhares de anos! Veja o contrassenso; a pessoa toma um copo d'água, joga fora o copo, e ele fica por aí durante milhares de anos. No início ninguém quis prestar atenção no problema, mas acabaram vendo que as garrafas PET iam se acumulando, acumulando e... …e acumulando! Cada vez mais, sempre. Viram que aquilo não pararia nunca, continuaria a se acumular transformando o planeta inteiro num imenso lixão. Imagine cada pessoa tomando duas garrafas de água por dia; são bilhões de garrafas diárias que permanecerão por aí durante séculos. Queimá-las seria ruim, geraria gases tóxicos, contaminaria o ar e chamaria a atenção. Inventaram, então, umas reciclagens mentirosas, umas formas de jogar o lixo para baixo do tapete, transformando, por exemplo, as garrafas em roupas. Mas os dejetos dos materiais, das roupas, no caso, continuariam por mil anos, o problema continuava, embora embaixo do tapete: “reciclar” as garrafas significava apenas destruir as provas do crime, o material PET permanece inundando o ambiente.


O absurdo é gritante: um completo despropósito embalar água em um copo, ou garrafa milenar. Não existe lugar para tanto lixo. Temos que parar de fabricar coisas assim, tão disparatadas, temos que parar de comprar essas coisas imediatamente. (Isso vale também para as garrafas de refrigerantes).

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