por Sérgio Saraiva
Então, chegam notícias de que o velho comunista está
morto.
Nos últimos dias, vários comunistas se foram. Pensei
mesmo se tratar de uma epidemia desconhecida que varre os ares da América
Latina. De Valparaíso a Havana passando por Macondo e São Luís do Maranhão. Mas
esse comunista velho morreu assassinado.
Em verdade, já estava morto há alguns anos.
Matou-o aquele que lhe era mais íntimo. Aquele com quem
dividia paixões. Mas não matou-o por amores ou por ódios. Matou-o porquê o
velho comunista se tornara incômodo, renegado.
Crime político? Não, eutanásia.
Conquanto, pelos obituários, nos chegue que também o
poeta estaria morto.
Teria morrido de morte natural. Morte incomum para um
poeta. Por estes cantos gerais, quando a peste não lhes alcança o peito ou a
corda se entrelaça em seus pescoços, simplesmente abrem o gás.
Mentem os jornais. E enganam-se os poetas. Os poetas
suicidas e aqueles que tão somente se deixam morrer de velhos. Poeta não morre.
Por certo que seu cadáver concreto como vil metal não
tem a liberdade poética de negar o que acaba de afirmar. Mas não descem ao
túmulo seus poemas sujos. Tampouco em sua rigidez de métrica decassílaba se
encerram suas lutas corporais.
Os poetas não morrem. Não lhes é dada tal remição de
pecados versejados em rimas ou livres como escravos libertos. Seus versos vagam
dentro da noite veloz a assombrar corações desabrigados e a amaldiçoá-los com
seus mistérios.
PS: a Oficina de Concertos Gerais e
Poesia não fecha em luto pela morte de poeta. Pé de pato mangalô
três vezes.
Fonte GGN
Fonte GGN
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