A possibilidade de
aumento da jornada diária para até 12 horas, anunciado pelo ministro do
Trabalho, é apenas uma delas.
O anúncio de
que a reforma trabalhista proposta pelo governo poderá ampliar a jornada diária
em até 12 horas, feito pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, nesta
quinta-feira (7), trouxe preocupação ao Planalto.
Dada a
repercussão negativa da declaração, o presidente não eleito Michel Temer (PMDB)
orientou Nogueira a reafirmar que não haverá retiradas de direitos dos
trabalhadores.
As centrais
sindicais não receberam a notícia com surpresa, já que esta medida é apenas uma
das ameaças à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) propostas pelo governo
Temer. Junto a novos planos do Executivo, somam-se projetos antigos em
andamento no Congresso Nacional, que agora devem ser priorizados e ganham mais
força para aprovação.
A Central
Única dos Trabalhadores (CUT) convocou uma greve nacional no dia 22 de
setembro. Já os sindicatos de metalúrgicos de diversas regiões do país devem
paralisar suas atividades no dia 29 de setembro contra os retrocessos.
Entenda cada
uma das propostas:
1) Flexibilização da jornada de
trabalho
Alvo de
críticas mais recentes, o ministro Ronaldo Nogueira afirmou durante encontro
com representantes da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) que o governo
pretende ampliar a jornada de trabalho a 48 horas semanais, com um teto de 12
horas diárias. Hoje a carga diária é limitada a 8 horas. O ministro teve que se
explicar, devido à grande repercussão.
À Rádio
Estadão, ele ponderou que o padrão normal e legal continuará sendo o de 8 horas
diárias e 44 horas semanais, e que a reforma permitirá que as convenções
coletivas tenham a opção de flexibilizar a forma como a jornada será realizada.
O governo
estuda também a criação de dois novos contratos de trabalho: por horas
trabalhadas ou por produtividade, com jornadas inferiores a 44 horas semanais e
salários proporcionais. As centrais sindicais refutam a proposta.
A polêmica
da jornada de trabalho se arrasta desde julho quando, após uma reunião com
Temer, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson
Andrade, citou que a França, antes com limite de 36 horas semanais, teria
permitido jornada semanal de trabalho de até 80 horas, e que isso era um
exemplo para o Brasil.
Andrade
errou duas vezes em sua declaração. Em primeiro lugar, a legislação trabalhista
francesa estabelece 35 horas semanais normais, e não 36; em segundo, a nova lei
estipula que, em casos de emergência e após negociação com sindicato, as horas
extras poderão chegar às tais 12 horas diárias e 60 horas semanais.
Após o rebuliço
nas redes sociais, a declaração foi corrigida pela CNI, que afirmou que o
presidente se enganou com a citação.
2) Terceirização
Aprovado na
Câmara (PL 4330/2004) e tramitando atualmente no Senado, o Projeto de Lei da
Câmara (PLC) 30/2015 autoriza a terceirização das atividades-fim. A proposta
universaliza, assim, tipos de contratos que hoje só podem ser realizados quando
se referem a atividades-meio, como limpeza e segurança — ou seja, serviços que
não tenham relação com o produto ou serviço oferecido pela empresa.
Além disso,
o projeto diminui a responsabilidade da empresa que contrata a prestadora com a
Justiça, caso não haja cumprimento de obrigações trabalhistas. Desde que exija
da contratada comprovantes mensais, a empresa fica isenta da responder a
processos judiciais.
O governo já
deu indícios que deve se esforçar para que o PLC seja aprovado ainda em 2016.
Desde que assumiram pastas, Ronaldo Nogueira e o ministro da Casa Civil, Eliseu
Padilha, mostraram-se favoráveis à ampla regulamentação da atividade
terceirizada.
Padilha
chegou a dizer a empresários que o país precisa “caminhar no rumo da
terceirização”.
3) Negociado sobre o legislado
O termo diz
respeito à prevalência das negociações em detrimento da lei. Atualmente em
tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 4193 autoriza que os
direitos previstos na CLT possam ser amplamente negociados entre os
trabalhadores e contratantes.
De acordo
com o projeto, todos os itens listados poderiam ser negociados e, após
alterados em acordos coletivos, as novas regras não poderiam ser derrubadas na
Justiça. Neste sentido, outro projeto de lei discutido é o PL 427, que institui
a negociação individual entre empregado e empregador. A negociação coletiva
seria fragilizada com a prática.
Na prática,
a iniciativa não revoga a CLT, mas a enfraquece a tal ponto que benefícios como o 13º salário, as férias, o
adicional noturno, licença-paternidade e salário mínimo podem ser
relativizados.
A reforma
trabalhista do PMDB estuda permitir que convenções coletivas prevaleçam sobre
as normas legais. Ou seja, empresas poderão reduzir salários e aumentar a
jornada diária de trabalho dos seus empregados.
A CLT,
afirmou o ministro Nogueira, teria se transformado uma “colcha de retalhos” que
permite “interpretações subjetivas”.
4) Reforma da Previdência
Uma das
principais medidas previstas por Temer, a Reforma da Previdência deverá
aumentar a idade mínima de aposentadoria para 65 anos e igualar a idade entre
homens e mulheres e entre trabalhadores do campo e da cidade.
Além disso,
a proposta prevê vinculação dos benefícios da previdência aos reajustes de
salários mínimos, que hoje são atualizados pelo crescimento da economia nos
dois últimos anos e pela inflação do ano anterior.
A ideia é
que as aposentadorias passem a ser ajustadas apenas pela inflação, reduzindo os
gastos do governo.
Neste vídeo,
o Brasil de Fato explica o porquê especialistas refutam a tese de que exista um
déficit da Previdência Social, o que justificaria essa reforma.
5) Congelamento dos editais para
servidores públicos
Um dos
maiores temores dos movimentos sociais, já que congela em 20 anos o orçamento
para Saúde e Educação, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 também tem
impactos no mundo do trabalho, mais precisamente sobre os servidores públicos.
Complementar à Reforma da Previdência, a PEC
também congelará, se aprovada, a realização de novos concursos públicos e os
salários dos servidores, além de impedir a criação de novos cargos e a
reestruturação da carreira.
Por Brasil
de Fato
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