Perante uma tragédia humanitária como a que se
vive à sua porta, a Europa constrói muros, ergue vedações, manda as tropas
vigiarem e, regra geral, mostra muito pouca empatia ou compaixão com as vidas
que se perdem pelo caminho.
O discurso do aumento da natalidade tem uma componente racista. A Europa
quer que nasçam nos seus países crianças europeias.
É a explicação simples de
todos os políticos europeus discutirem obsessivamente o problema da natalidade
e “as políticas de natalidade” – nomeadamente quando falam do futuro da
segurança social – e nunca encararem o problema que resolveria a questão da
natalidade e do futuro da segurança social: dar refúgio aos milhares de
crianças que todos os dias procuram a Europa em busca de uma vida melhor, e,
naturalmente, aos seus pais.
É evidente que não há soluções imediatas e rápidas, mas pelo menos
comecemos por nos consciencializar de que o mundo não tem um problema de falta
de crianças: elas estão a atravessar o Mediterrâneo e são deportadas dos vários
países europeus (ou não são à última hora, como aconteceu com a criança que
chorou quando Merkel lhe explicou que “não podiam ficar todos”).
Perante uma tragédia humanitária como a que se vive à sua porta, a Europa
constrói muros, ergue vedações, manda as tropas vigiarem e, regra geral, mostra
muito pouca empatia ou compaixão com as vidas que se perdem pelo caminho.
Como escreveu aqui ontem o Vítor Rainho, a tragédia do leão Cecil é de
longe alvo de muito maior clamor social e mediático – ao ponto de o caçador que
o alvejou andar fugido por receio da justiça popular.
Portugal foi abrigo de refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Foi capaz nessa altura de abrir as suas portas perante a dizimação dos judeus
às mãos do nazismo.
A discussão de políticas de natalidade sem ter em
consideração a quantidade de crianças que querem entrar na Europa e são
barradas pelos muros que tanto o ditador Viktor Órban da Hungria como o
democrata David Cameron do Reino Unido erguem é em si um contra-senso.
Mas um
contra-senso eminentemente racista e xenófobo.
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