sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Os muros da vergonha europeia e ocidental um contra-senso racista e xenófobo

Perante uma tragédia humanitária como a que se vive à sua porta, a Europa constrói muros, ergue vedações, manda as tropas vigiarem e, regra geral, mostra muito pouca empatia ou compaixão com as vidas que se perdem pelo caminho.

O discurso do aumento da natalidade tem uma componente racista. A Europa quer que nasçam nos seus países crianças europeias.

É a explicação simples de todos os políticos europeus discutirem obsessivamente o problema da natalidade e “as políticas de natalidade” – nomeadamente quando falam do futuro da segurança social – e nunca encararem o problema que resolveria a questão da natalidade e do futuro da segurança social: dar refúgio aos milhares de crianças que todos os dias procuram a Europa em busca de uma vida melhor, e, naturalmente, aos seus pais.

É evidente que não há soluções imediatas e rápidas, mas pelo menos comecemos por nos consciencializar de que o mundo não tem um problema de falta de crianças: elas estão a atravessar o Mediterrâneo e são deportadas dos vários países europeus (ou não são à última hora, como aconteceu com a criança que chorou quando Merkel lhe explicou que “não podiam ficar todos”).

Perante uma tragédia humanitária como a que se vive à sua porta, a Europa constrói muros, ergue vedações, manda as tropas vigiarem e, regra geral, mostra muito pouca empatia ou compaixão com as vidas que se perdem pelo caminho.

Como escreveu aqui ontem o Vítor Rainho, a tragédia do leão Cecil é de longe alvo de muito maior clamor social e mediático – ao ponto de o caçador que o alvejou andar fugido por receio da justiça popular. 

Portugal foi abrigo de refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Foi capaz nessa altura de abrir as suas portas perante a dizimação dos judeus às mãos do nazismo. 

A discussão de políticas de natalidade sem ter em consideração a quantidade de crianças que querem entrar na Europa e são barradas pelos muros que tanto o ditador Viktor Órban da Hungria como o democrata David Cameron do Reino Unido erguem é em si um contra-senso. 
Mas um contra-senso eminentemente racista e xenófobo.

Ana Sá Lopes
Jornal i

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