Por Luis Nassif no GGN
Fiz uma provocação no Twitter, sobre o linchamento do
Nego do Borel. Admito que estraguei o ritual sangrento do linchamento.
Agora, vamos abrir a discussão.
Há o ponto inicial, programas de televisão, em
concessões públicos, explorando o voyeurismo do público, como A Fazenda, da TV
Record, e o BBB, da Globo. Criam um clima de sexualização, estimulam a pegação,
permitem a bebedeira e permitem noitadas tórridas, para deleite do público.
Nesse cenário, dois participantes se embebedam, o Nego
do Borel e a modelo Dayane Mello. Ambos vão para a cama, um rapaz pleno de
testosterona, bêbado, e uma mulher totalmente bêbada. As câmeras vão
registrando. E a direção de TV vibrando com as prováveis cenas tórridas, que
poderão fazer o deleite do distinto público voyeur. Nenhuma preocupação com a
segurança da jovem, nenhum movimento para impedir o assédio do jovem bêbado,
nenhum limite à bebedeira prévia.
No dia seguinte, estoura o escândalo: estupro de
vulnerável: o jovem bêbado abusou da moça bêbada, que não tinha condições de se
defender! Imediatamente a Record expulsa o Nego do Borel e aciona seu jurídico
para engrossar as acusações de estupro.
Vamos por partes.
Nesse modelo de programa, as emissoras têm o mesmo
papel dos cafetões. Exploram o sexo, ganham com ele e não se responsabilizam
por nada.
Fosse um país sério, haveria a responsabilização da
seguinte ordem:
1. TV Record seria responsabilizada por ter criado o
clima propício ao suposto crime cometido. Teria que ser punida com multas e com
TAC (Termos de Ajustamento de Conduta), assim como a TV Globo com o BBB.
2. A Constituição é clara quanto às exigências para
concessões públicas, de respeito a princípios éticos. Logo, a União é
responsável por não fiscalizar adequadamente as emissoras de televisão.
3. Do mesmo modo, o Ministério Público Federal poderá
ser responsabilizado por incluir os abusos cometidos na lista as prerrogativas
de imprensa. E não atuar quando esses programas violam seguidamente noções de
dignidade humana.
4. A mídia também poderá ser responsabilizada por
naturalizar e dar divulgação ampla a esse tipo de programa.
Mas tudo foi resolvido com a demonização do Nego do
Borel. Pega-se um jovem, pleno de testosterona, coloca-o em um ambiente de
estímulo amplo à sexualização, permite-se que ele se embebede e leve para a
cama uma mulher igualmente bêbada. Depois de consumado o crime, basta levá-lo
ao cadafalso da opinião pública e todos os pecados serão perdoados, o das
emissoras, o do poder público, o do MPF e o da mídia. Se ele já implicava nesse
risco, porque foi convidado?
De todos os implicados, eu diria que o único que pode
recorrer a atenuantes é o único acusado até agora, o Nego do Borel.
Poderá alegar em suia defesa:
1. Foi induzido pelo clima de ampla sexualização do
programa.
2. Estava bêbado quando cometeu o estupro.
3. Mesmo assim, se comprovado o estupro de vulnerável,
tem que ser punido sim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário