A
partir dos depoimentos dos deputados, o relator do inquérito, Alexandre de
Moraes, afirmou que provas colhidas apontam para a real possibilidade de
existência de uma associação criminosa dedicada à disseminação de #FakeNews – o
“Gabinete do Ódio”.
(Túnel que dá acesso do
Palácio do Planalto ao anexo II. Crédito: Marcos Corrêa/PR).
Por Flávia Said – Congresso em Foco
No inquérito que apura esquema de notícias falsas e
ataques a ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF), deputados federais que foram aliados do
presidente Jair
Bolsonaro forneceram detalhes sobre o modus operandi do
chamado “Gabinete do Ódio”.
Trata-se de uma estrutura que desfere ataques ofensivos
a diversas pessoas, às autoridades e às instituições, com conteúdo de ódio,
subversão da ordem democrática e incentivo à quebra da normalidade
institucional.
partir dos depoimentos dos deputados, o relator
do inquérito, Alexandre
de Moraes, afirmou que provas colhidas e laudos
periciais apontam para a real possibilidade de existência de uma
associação criminosa dedicada à disseminação de fake news – o “Gabinete
do Ódio”.
Coordenação feita por assessores
O deputado federal Heitor Freire (PSL-SP) citou os
nomes de Matheus Sales, Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomaz como
principais integrantes do “Gabinete do Ódio”. Sales e Arnaud são
assessores especiais da Presidência da República e Diniz é assessor da
Secretaria de Comunicação Social (Secom). Os três são próximos ao
vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ) e despacham no Palácio do Planalto.
Carlos é o filho zero dois do presidente e está na
linha de frente do confronto e do tom beligerante da família nas redes sociais.
O vereador é tido como o responsável pelas estratégias para as mídias digitais.
Freire disse que a atuação é regionalizada, com vários
colaboradores nos diferentes estados, a grande maioria sendo assessores de
parlamentares federais e estaduais. O uso das estruturas públicas para fins
político-ideológicos foi detalhado pelo deputado.
Em seu depoimento, ele afirma que esses assessores
parlamentares administram diversas páginas nas redes sociais, incluindo grupos
de Whatsapp, e por meio dessas páginas divulgam postagens ofensivas, quase
sempre orientados pelo trio de assessores da Presidência.
Por sua vez, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) disse
ter percebido que o movimento se organizava para atacar incessantemente a
honra de qualquer pessoa que ousasse discordar da orientação do que chamou de
“grupos conservadores extremistas”.
Segundo ele, a desmoralização do Supremo, do Senado e
da Câmara visava pregar a desnecessidade de existência dessas instituições e,
assim, alcançar uma ruptura constitucional.
Dois deputados que foram aliados de primeira hora de
Bolsonaro, Joice
Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre
Frota (PSDB-SP), reiteraram as acusações que já vêm fazendo no
âmbito da Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) das fake news, que funciona
no Congresso Nacional desde o ano passado.
Coordenação nas redes sociais
Joice, que foi líder do governo do Congresso, afirmou
que a organização atuava de forma coordenada nas redes sociais. “Quando surgia
alguma postagem ou hashtag ofensiva ao STF ou algum de seus membros, um dos
integrantes do grupo retransmitia e em questão de minutos isso era disseminado
pelas redes sociais e para inúmeros outros grupos, seja pela atuação de
integrantes da organização, seja por utilização de robôs”, afirmou Joice.
Segundo ela, a cúpula dessa organização trabalha com a
construção de narrativas e estuda os canais mais eficazes para sua rápida
divulgação, contando para isso com o chamado “efeito manada”.
Ao reiterar a tese de uma coordenação nacional, Frota
afirmou que a disseminação quase que simultânea, em diversos perfis do Twitter,
de estados muito distantes, e com textos idênticos, é prova cabal da utilização
de robôs.
Ele indicou que residência situada na QL 19, em
Brasília, ocupada atualmente pelo blogueiro Allan dos Santos, pode ser a “sede”
da milícia de ataques virtuais. No lugar funciona um estúdio do site “Terça
Livre”, que veicula conteúdos de extrema-direita favoráveis ao presidente
Bolsonaro.
O deputado Heitor Freire
exemplificou a coordenação dos ataques com o vídeo que compara o STF a
uma hiena que deveria ser fustigada por um leão, representado pelo presidente
Bolsonaro. De acordo com o deputado, a postagem ocorreu de forma quase
simultânea em diversas páginas do Facebook.
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