Este texto foi publicado
originalmente em edição extra da newsletter do Intercept Brasil. Ela é enviada
aos sábados, mas durante a cobertura do coronavírus teremos edições
extraordinárias.( Foto: David Turnley/Getty Images)
Por theintercept
ESTE TEXTO É UM PEDIDO: deixe
sua empregada em casa durante a crise de coronavírus e siga pagando seu
salário ou diária. Essas mulheres, em sua maioria, são mães, chefes de família
e financeiramente vulneráveis.
Como netos, filhos e sobrinhos de mulheres que
encontraram no trabalho doméstico a solução para não morrer de fome – as
mulheres de nossa família são migrantes do interior e chegaram à cidade
grande apenas com a roupa do corpo —, afirmamos: sua empregada dificilmente
pedirá quarentena. O motivo? Ela precisa do salário.
Temos 20 e poucos anos, fazemos faculdade e estágio, e
agora estamos de home office por tempo indeterminado por conta
do coronavírus. O nosso trabalho nos permite isso. Mas nossas avós, mães e tias
não têm essa opção.
Nos últimos dias, o primeiro caso de transmissão local
do novo coronavírus chamou atenção dos leitores da coluna do Lauro Jardim. Os patrões, moradores de um bairro de classe
alta do Rio de Janeiro, foram testados positivo para a covid-19 e se colocaram
em quarentena — com a empregada não infectada junto.
Outro caso aconteceu em Feira de Santana, na Bahia: uma
mulher que voltou de viagem da Itália, contaminou sua empregada que, por sua vez, contaminou
seus pais idosos. O mais recente, ocorrido em Miguel Pereira, no Rio de
Janeiro, foi fatal: uma idosa de 63 anos faleceu com sintomas de coronavírus. A vítima teve
contato com sua empregadora, que veio da Itália e testou positivo para a
covid-19. A morte foi confirmada na estatística do coronavírus.
Quem cresceu sentindo os efeitos da falta de direitos
básicos trabalhar em condições de risco não assustam. Pelo contrário:
fazem parte da história das mulheres de nossas famílias que relatam situações
de desmandos e prepotência na casa dos patrões.
É sobre opressão social que falamos. Para manter seus
privilégios, empregadores têm colocado em risco a vida da empregada, da família
da empregada, a sua própria vida e a vida de sua família —
sem contar o trajeto que a empregada faz na ida e na volta, porque o
rastro de pessoas infectadas pode ser enorme. A cada espirro ou tosse de
alguém dentro do ônibus, elas nos relatam ter um ataque de pânico com medo
de contrair o vírus.
Mas,
afinal, qual é a saída?....
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