Num cenário em que o jornalismo profissional tem
assumido um ingrato protagonismo nas disputas políticas que ocorrem no Brasil,
mais uma vez, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, protagoniza grave
episódio de machismo, sexismo e misoginia. Nesta terça-feira (18/02), o
mandatário decidiu atacar a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de
S.Paulo, em pronunciamento com falas de conotação sexual, gravadas em vídeos
transmitidos ao vivo.
A jornalista vem sendo alvo de pesados ataques virtuais
dos seguidores do presidente e do próprio clã bolsonarista por seu trabalho de
jornalismo investigativo, que denunciou o pagamento, por um grupo de
empresários apoiadores de Bolsonaro, para envio em massa de mensagens falsas
por meio de aplicativo, na campanha presidencial de 2018.
Na semana passada, a premiada repórter foi novamente
atacada nas redes sociais, após mentiras declaradas por um depoente na CPMI das
Fake News. Na ocasião, Hans River Nascimento, ex-empregado de uma agência de
disparo de mensagens digitais mentiu em depoimento, com declarações de cunho
sexista, injuriando a repórter e pondo em xeque seu rigoroso trabalho
jornalístico.
O filho do presidente, deputado federal Eduardo
Bolsonaro, repercutiu as declarações mentirosas sobre a produção da matéria
jornalística em sua conta no Twitter e no plenário da Câmara, inflamando os
seguidores a alimentarem a rede de ódio contra Patrícia na internet.
A partir deste episódio, as mulheres jornalistas desse
país também foram vítimas de viralização de vídeo, imagens e “memes” que
relacionam a apuração de matérias jornalísticas e a produção de notícias a
troca por sexo. Assim, a pouco mais de duas semanas do 8 de Março, data
emblemática da luta feminista, toda uma categoria profissional é atingida pela
violência de gênero.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mais uma
vez, manifesta repúdio ao teor do pronunciamento do presidente e, junto com sua
Comissão Nacional de Mulheres, coloca-se como incansável na tarefa de
denunciar, tão sistemático quanto forem, os absurdos declarados por Jair
Bolsonaro.
Dedicamos nossa solidariedade e atuação sindical, seja
no campo político ou no jurídico (em fase de encaminhamento), às mulheres desse
país, às mulheres jornalistas, às mulheres trabalhadores, na pessoa de Patrícia
Campos Mello, na certeza de que não passarão os insultos e ofensas de cunho
machista, sexista e misógino. Que nosso grito de repúdio sirva para frear tais
comportamentos, vindos de quem quer que seja, sobretudo do mandatário da Nação,
que deveria defender toda a população e, sobretudo, as maiorias silenciadas de
direitos.
Brasília, 18 de fevereiro de 2020
Comissão Nacional de Mulheres da FENAJ
Federação Nacional dos Jornalistas
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