Uma certeza se pode ter: a maluquice perversa a que o
Brasil está entregue não terminará bem. ( Destaque: Coppo di
Marcovaldo, Inferno (1260-70). Fragmento de mosaico do teto do Batistério de
Florença)
Nos últimos dias houve outra mudança de tipificação e
de grau nas tensões disseminadas por Jair Bolsonaro e sua tropa de choque. As
palavras impeachment, queda, saída, providências das instituições, e mais variantes
há mais de ano caídas em conformado silêncio, voltaram com força a tema de
conversas e mesmo da imprensa. “A democracia é o regime da responsabilidade, o
que implica a necessidade de punir a autoridade que se desvia da lei”, disse
a Folha (“Sob
ataque, aos 99”) sobre a conduta de Bolsonaro e lembrando-se de sua própria
grandeza. Coube à Folha, no passado, dar outros problemáticos
passos iniciais.
Aproxima-se uma situação-limite. A inclusão de
generais em torno de Bolsonaro tem a ver com a ditadura, claro, mas
também com um motivo prático e imediato: formar uma guarda pretoriana, a partir
da ideia de que nenhuma instituição ou movimento público confrontaria essa
representação do Exército com a tentativa de um impeachment, que também a
alcançaria.
Esses generais, como o capitão que os comanda, são
todos formados pela ditadura. Bolsonaro, no entanto, aumenta as extravasões da
sua condição de alheio aos padrões dados como normalidade mental. Com seus
ministros, expande as medidas danosas a sucessivos setores, não se interessa
pelo desemprego, agrava os problemas de saúde e educação, submete-se aos
exploradores legais e ilegais da riqueza mineral e florestal, ataca o Congresso
e o Judiciário, leva o país a reverter tudo o que o fez respeitado nas relações
internacionais.
No nível mais pessoal, Bolsonaro não deixará de
contrariar a quase unanimidade de apegados ao meio ambiente, refletir as suas
posições racistas, homofóbicas, elitistas, pró-violência, e de menosprezo ao
corpo feminino. Esse elenco breve de ações do governante improvisado e de
conduta pessoal, em permanente agravamento, já seria suficiente para amplificar
o cansaço de grande parte do país com sua desordem geral. Há mais, porém.
Os indícios de ligação
dos Bolsonaro com milicianos, ou mesmo com milícia, há tempos se mostraram
suficientes para justificar providências legais e parlamentares. Aos bastante
divulgados, juntam-se agora dois ainda mais incisivos.
O primeiro é a revelação de visitas
de Flávio Bolsonaro ao miliciano capitão Adriano da Nóbrega no
presídio. Não era, portanto, coisa do foragido Queiroz a relação do miliciano
com o gabinete parlamentar de Flávio, onde empregou parentes. A relação era com
Flávio Bolsonaro, direta e íntima.
A segunda revelação, feita
pelo governador baiano Rui Costa, é a fraude de Flávio Bolsonaro para
mostrar-se defensor, com Jair, de apuração rigorosa da morte de Adriano —como
faria qualquer desinteressado da queima de arquivo. Flávio Bolsonaro exibiu nas
redes um vídeo falso do cadáver, com marcas que seriam de agressão, e com
etiqueta do IML da Bahia. Mas Adriano ficou com o ferimento de saída de uma
bala nas costas, e o cadáver exibido por Flávio não tem tal perfuração. Nem o
vídeo foi feito no IML baiano.
Jair Bolsonaro, é interessante notar, foi o
primeiro a quem ocorreu uma ligação das mortes de Adriano da Nóbrega e de
Marielle Franco: “Já tomei as providências legais para uma perícia independente
[de Adriano]. Sem isso, você não tem como buscar até, quem sabe, quem matou a
Marielle”. A segunda perícia está feita, e quem vai buscar o que está por
trás e por cima dos dois casos? A polícia da Bahia é a matadora de Adriano, a
do Rio avançou no caso Marielle e, para indicar o(s) mandante(s), empacou. A Polícia
Federal está sob Sergio Moro. E não seria inovadora a montagem de uma farsa
para culpar o PT, como Bolsonaro já fez.
A repetida agressão de Bolsonaro às mulheres, bem
representadas por Patrícia Campos Mello, teve um efeito na opinião nacional
que abalou até bolsonaristas graníticos, com exceção do empresariado graúdo,
associado à Bolsa, a Paulo Guedes e daí a Bolsonaro. Somadas a esse efeito as
outras produções de Bolsonaro e a contribuição do mais desequilibrado general
Augusto Heleno, avançou-se mais. Na obscuridade.
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