Por
Lucas Rocha - Desacato
Em
um ano cheio de enredos emblemáticos, o desfile das escolas de samba do Rio de
Janeiro pode ver a tradicional Portela levar um samba crítico para a Marquês de
Sapucaí. Das 16 obras que seguem em disputa interna que vai escolher o hino
oficial de 2020, a considerada favorita traz versos fortes exaltando os povos
indígenas e criticando o presidente Jair Bolsonaro e o prefeito Marcelo
Crivella.
Com
o enredo “Guajupiá, terra sem males”, inspirado em um mito tupi-guarani
considerado pelo historiador Luiz Antonio Simas “um elemento central da
cosmogonia e da ontologia dos tupis”, a Portela viu 25 grupos de sambistas
inscreverem composições para falar sobre a temática, que pretende abordar
a força da ancestralidade e o legado dos tupinambás, que ocupavam a região
do Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses.
Passada
a primeira fase, um dos destaques, aclamado pela crítica, tem sido a música de
Valtinho Botafogo & Cia, que reafirma o papel de resistência do povo
indígena e traz uma crítica explícita contra o governo federal e municipal.
“Nossa aldeia é sem partido ou facção. Não tem bispo, nem se curva a capitão”,
diz trecho da obra, em referência ao presidente Jair Bolsonaro e ao prefeito
Marcelo Crivella.
A
composição ainda traz versos como “Se Guanabara é resistência, o índio é arco,
é flecha, é essência” e fala em respeitar a natureza “para o imenso azul do céu
nunca mais escurecer”, em uma referência ao episódio em que a fumaça das
queimadas da Amazônia deixou o céu de São Paulo acinzentado, no mês de agosto.
Além
de Valtinho, outras composições que seguem vivas na disputa também trazem
elementos críticos, como a também aclamada obra de Waguinho, Zé Luiz e Willian,
que canta que a “entre a fumaça e o imenso concreto nesta cidade que aos poucos
morre, meu rio, parece que a natureza diz, a vida segue andando por um fio”, e
a de Marquinho do Pandeiro, que prega a demarcação das terras. “E Xamã falou da
bravura, mais sagrada, que terra boa, é terra preservada. E Xamã falou da
bravura, mais sagrada, que terra boa, é terra demarcada”, diz o refrão do meio
da composição de Pandeiro, Joseth Rodrigues, Flavio Viana, Charles Braga,
Dollores, Phabbio Salvatt, Tuca e Antonio De Matos.
A
final do processo de escolha do samba da Portela para 2020 será no dia 11 de
outubro e as eliminatórias acontecem todos as sextas e domingos, na quadra da
escola, em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. A Portela é a maior
vencedora do carnaval carioca, com 22 títulos, sendo o último em 2017, ao lado
da Mocidade Independente.
Além
da Portela, outras escolas também apresentam temas carregados de críticas para
o Carnaval de 2020, como a Mangueira,
que foi campeã
em 2019 falando sobre a história
não-oficial, e a Mocidade, que vai contar sobre a vida da cantora Elza
Soares, marcada pela resistência. Enquanto a Verde e Rosa ainda não
definiu a música do ano que vem, a vencedora de 2017 – junto da
Portela – já tem hino oficial.
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