sexta-feira, 3 de maio de 2019

Empresas de congressistas devem R$ 320 milhões à Previdência

45 deputados e 3 senadores aparecem como donos ou sócios de companhias que devem mais de R$ 40 mi
ao INSS. Parte do débito está em pagamento
Consulte a lista dos devedores Lima/Poder360


TIAGO MALI – PODER360

Ao menos 48 dos votos que serão dados no Congresso durante a reforma da Previdência virão de políticos que devem ao INSS. Companhias nas quais 45 deputados e 3 senadores aparecem como donos, sócios ou presidentes somam R$ 320 milhões de dívidas previdenciárias com a União. Os dados são de levantamento do Drive/Poder360 a partir de informações obtidas por meio de pedido pela Lei de Acesso à Informação à PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional).

É possível consultar os congressistas cujas empresas possuem dívidas neste link. A reportagem entrou em contato com todos os gabinetes dos 48 políticos citados, por email e telefone. Nem todos enviaram manifestações. As respostas de quem se posicionou explicando os débitos podem ser acessadas aqui. Este texto será atualizado caso outro congressista citado decida enviar seu posicionamento.

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DÍVIDA REGULAR E IRREGULAR

Dessa cifra, R$ 191 milhões são classificados como dívida irregular, e estão em processo de cobrança. As companhias nesta situação não podem tirar Certidão Negativa de Débitos, o que as impede de pegar empréstimos em bancos públicos, de participar de licitações e de obter uma série de licenças, entre outras restrições.

O restante (R$ 129 milhões) é classificado como dívida regular. Isso significa que a empresa do congressista foi reconhecida como devedora, mas teve o débito parcelado/garantido, entrou em processo de negociação ou obteve decisão judicial suspendendo temporariamente a cobrança.

MAIORES DEVEDORES 

Eis uma lista com os congressistas cujas empresas mais devem à Previdência:


10 congressistas cujas empresas mais devem à Previdência
nome
cargo
dívida irregular (R$)
dívida regular (R$)
dívida total (R$)
Fernando Collor (PTB-AL)
Senador
136.238.222
3.790.774
140.028.995
Elcione Barbalho (MDB-PA)
Deputada Federal
23.900.321
23.098.248
46.998.569
Pedro Westphalen (PP-RS)
Deputado Federal
3.898.398
40.236.569
44.134.966
Professor Alcides (PP-GO)
Deputado Federal
9.770.755
34.081.199
43.851.953
Newton Cardoso Júnior (MDB-MG)
Deputado Federal
3.612.421
14.316.232
17.928.653
Haroldo Cathedral (PSD-RR)
Deputado Federal
2.420.937
7.789.481
10.210.418
Acir Gurgacz (PDT-RO)
Senador
4.195.737
885.060
5.080.797
Celso Russomanno (PRB-SP)
Deputado Federal
658.842
1.592.462
2.251.304
Gonzaga Patriota (PSB-PE)
Deputado Federal
403.878
1.344.121
1.747.999
João Henrique Caldas (PSB-AL)
Deputado Federal
1.209.532
0
1.209.532
fonte: PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional) - dados enviados em 25/04/2019;
- dívida irregular: em processo de cobrança
- dívida regular: parcelada, garantida, em negociação ou suspensa temporariamente 


Em março deste ano, o governo apresentou o Projeto de Lei nº 1.646/2019, para combater o devedor contumaz e fortalecer a cobrança da dívida ativa. A proposta estabelece que pessoas físicas ou jurídicas com débitos acima de R$ 15 milhões por mais de um ano e que praticam fraudes fiscais poderão ser consideradas devedores contumazes após procedimento administrativo com direito a se defenderem. O devedor poderá o CNPJ da empresa cancelado e ser impedido de obter qualquer benefício fiscal por 10 anos.

Entre os congressistas, aqueles cujas empresas têm dívidas somadas acima de R$ 15 milhões são:

1. COLLOR (PTB-AL)
Os débitos previdenciários de companhias onde o senador licenciado e ex-presidente aparece como sócio somam R$ 140 milhões. Referem-se a empresas do grupo de mídia da família que deixaram de pagar o INSS: Gazeta de Alagoas (R$ 74 milhões), Gráfica Gazeta de Alagoas Ltda (R$ 380 mil), Rádio Clube de Alagoas (R$ 3,7 milhões), Rádio Gazeta de Alagoas (R$ 3 milhões), TV Gazeta de Alagoas (R$ 59 milhões) e TV Mar (R$ 100 mil).
Contatada pela reportagem, a assessoria de Collor diz que ele não participa diretamente da administração das empresas. Informa, contudo, que as empresas aderiram a programas de parcelamento para regularizar a situação. No entanto, dos R$ 140 milhões devidos, R$ 136 milhões são classificados pela PGFN como dívida em situação irregular.

2. ELCIONE BARBALHO (MDB-PA)
Depois de Collor, a congressista cujas empresas acumulam as maiores dívidas é Elcione Barbalho (MDB-PA): são R$ 47 milhões, mais da metade em situação irregular. Como no caso de Collor, os débitos se referem a empresas de mídia da família. A deputada é sócia dos Diários do Pará (devem R$ 23 milhões) e da Rede Brasil Amazônia de Televisão (R$ 24 milhões). A deputada diz que os débitos estão parcelados no PERT (Programa Especial de Regularização Tributária).

3. PEDRO WESTPHALEN (PP-RS)
A terceira maior dívida envolve duas empresas relacionadas ao deputado: o Hospital Santa Lúcia (R$ 44 milhões) e ao Esporte Clube Guarani de Cruz Alta (R$ 120 mil). Assim como Elcione Barbalho, Pedro diz ter parcelado as dívidas de seu hospital pelo PERT. O congressista acrescenta que o débito está em discussão judicial. Ele também diz que não tem mais relação com Esporte Clube Guarani de Cruz Alta, e enviou à reportagem documento de leilão do clube que não faz citação ao deputado, embora seu nome ainda apareça em consultas na Receita como presidente da instituição.
Quase toda a dívida de R$ 44 milhões relacionada ao deputado é referente à Associação Aparecidense de Educação, na qual ele consta como presidente. Dessa cifra, apenas R$ 1,4 milhão se referem a Faculdade Alfredo Nasser e a Ribeiro Alves Produtos Alimentícios. Até o fechamento desta reportagem, ele não se manifestou sobre o assunto.

5. NEWTON CARDOSO JR. (MDB-MG)
As dívidas de R$ 18 milhões com a Previdência estão relacionadas a 4 empresas do conglomerado da  família do deputado: Companhia Siderúrgica Pitangui (R$ 13 milhões), Godoy Indústria de Alimentos (4 milhões), NC participações e consultoria (R$ 200 mil) e Rio Rancho Agropecuária (R$ 900 mil).

OUTRAS GRANDES DÍVIDAS
O deputado Haroldo Cathedral (PSD-RR) tem 3 empresas de ensino e uma de construção que devem juntas R$ 10 milhões. Ele afirma que os débitos foram negociados, parcelados e estão em processo de quitação.

A maior parte da dívida de R$ 5 milhões das empresas do Senador Acir Gurgacz (PDT-RO) está ligada à empresa Coexp Comércio e Construção. Ele afirma que não participa da administração da empresa, que ela sofreu com a crise econômica, que havia participado de um Refis posteriormente cancelado e que tem buscado regularizar a situação.

Já o deputado Celso Russomano (PRB-SP) esclarece que a dívida com previdência de R$ 2 milhões se refere ao Bar do Alemão, no qual é sócio com uma participação de 20%. Ele afirma que os débitos foram parcelados e estão sendo pagos.

Gonzaga Patriota (PSB-PE) e João Henrique Caldas (PSB-AL) não se manifestaram sobre suas dívidas acima de R$ 1 milhão.

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