terça-feira, 9 de abril de 2019

WWF-Brasil lança Guia de Consumo Responsável de Pescado

O estudo completo pode ser acessado em: www.wwf.org.br/consumoconsciente

▪          Sobrepesca e falta de gestão pesqueira são os principais elementos que contribuem para a redução dos estoques. Se nada mudar, no longo prazo, a exploração descontrolada de algumas espécies pode levar ao colapso da atividade pesqueira;
▪          Pescadores precisam navegar distâncias cada vez maiores para encontrar estoques economicamente viáveis de exploração. Além de encarecer o produto final, este fato confirma que os estoques mais próximos da costa já estão sobrepescados;
▪          58% dos pescados avaliados pelo WWF-Brasil estão na categoria vermelha, não recomendada para consumo, e apenas 28% das espécies avaliadas possuem alternativas com certificação;
▪          Consumidor não tem informações sobre a procedência e qualidade do que está comendo;
▪          Rastreabilidade e selos de sustentabilidade são parte da solução, mas dependem de iniciativas coletivas e do poder público.

Produzido pelo WWF-Brasil, o Guia de Consumo Responsável de Pescado avaliou 38 espécies de pescado. Além de trazer as avaliações das espécies, mostrando quais são indicadas para consumo e quais devem ser evitadas, o estudo traz também dados sobre o status dos estoques pesqueiros, informações sobre os tipos de produção de pescado (pesca e aquicultura) e seus respectivos impactos no meio ambiente. O objetivo do Guia é informar e esclarecer a população sobre o status do pescado consumido no país, bem como apresentar maneiras de se engajar no consumo responsável de pescado.

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Avaliação das espécies

O estudo aponta que o principal fator de degradação é a sobrepesca, quando os estoques pesqueiros são explorados além da sua capacidade natural de reprodução. O documento revela que, caso nada mude no fraco sistema de gestão pesqueira, no longo prazo a exploração comercial de algumas espécies poderá se tornar inviável do ponto de vista econômico, podendo impactar a cadeia alimentar e causando um efeito em cascata levando o meio ambiente e toda atividade pesqueira ao colapso.

A avaliação das espécies provenientes da pesca é baseada em três pilares: estoque-alvo, efeitos ecológicos da atividade pesqueira, e qualidade da gestão. Para a aquicultura, são levados em conta o uso sustentável dos recursos (como água, eletricidade e ração), as interações e impactos no ecossistema, e a qualidade da gestão.

VERDE - RECOMENDADO
Os tipos de pescado nessa categoria são os mais seguros para serem consumidos. Eles são provenientes de fontes bem geridas, e são capturados ou cultivados de acordo com métodos responsáveis.

AMARELO - CONSUMA COM MODERAÇÃO
Pescado proveniente de fontes que apresentam algum tipo de risco à sustentabilidade. Aumentar a demanda por esse produto pode afetar sua sustentabilidade e causar impacto no meio ambiente. Existe algum problema em relação ao estado do estoque selvagem da espécie, o método de pesca ou cultivo, que deve ser resolvido por meio da gestão pesqueira. Consuma apenas ocasionalmente.

VERMELHO - EVITE
Pescado proveniente de pescarias ou fazendas insustentáveis. Recomenda-se evitar o consumo das espécies listadas nessa categoria, uma vez que elas já estão ameaçadas por sobrepesca, são cultivadas ou retiradas de seu ambiente de forma ecologicamente incorreta, ou ainda sofrem com má gestão. O consumo dessas espécies é prejudicial ao ecossistema e, portanto, não é recomendado.

Segundo o levantamento, das 38 espécies avaliadas, 58% (22) encontram-se na categoria vermelha como, por exemplo, o Camarão-rosa e o Tubarão-azul (Cação). Já na categoria amarela estão 21% (8), entre eles a Tilápia e o Bonito-listrado. Outros 21% (8) foram avaliados na categoria verde, por exemplo, o Salmão-rosa e alguns tipos de moluscos.

Dentre as espécies capturadas na natureza recomendadas para o consumo, da categoria verde, nenhuma é de produção nacional, o que reflete a necessidade de aprimoramento da gestão do pescado brasileiro. Em contrapartida, na aquicultura, o Brasil tem quatro espécies cultivadas na categoria verde, que são o Mexilhão, a Ostra-do-Pacífico, a Ostra-do-Mangue e a Vieira.

Outro dado levantado pelo estudo é que, das principais espécies consumidas no Brasil e avaliadas pelo WWF-Brasil, apenas 28% possuem opção de produtos com certificação quanto à sustentabilidade de pesca ou cultivo.

Segundo a gerente do Programa Marinho do WWF-Brasil, Anna Carolina Lobo, o público consumidor brasileiro é carente de informações sobre os pescados que consome. “Temos pouco ou quase nenhum dado sobre a produção nacional. Dessa forma, os consumidores de pescado não têm as informações necessárias para entender como está a pesca no Brasil e como agir para contribuir na busca de um sistema de produção pesqueira mais equilibrado, que ao mesmo atenda a necessidade de produção de alimentos e respeite os limites da natureza. Este Guia de Consumo Responsável apresenta informações sobre como os estoques pesqueiros estão em níveis críticos, traz recomendações para orientar o consumo de algumas espécies, e quais técnicas de pesca devem ser preferidas por serem menos agressivas ao ecossistema”, afirma Lobo.

O estudo completo pode ser acessado em: www.wwf.org.br/consumoconsciente

O consumidor brasileiro
Além da sobrepesca e da pesca ilegal, a falta de conhecimento dos consumidores e a pouca – ou quase inexistente – oferta de produtos certificados, estão entre os principais motivos que colocam o Brasil entre os países que consomem pescados de forma não sustentável no mundo, não preservando os limites impostos pela própria natureza.

Entre as ações que os consumidores podem fazer está priorizar o pescado com certificação de origem, pesquisar se é uma espécie ameaçada de extinção, consultar sobre período de defeso de cada espécie, época de reprodução em que a pesca é proibida. E por fim, verificar se o tamanho do exemplar que está comprando respeita os requisitos mínimos estabelecidos por lei. Todos esses fatores fazem a diferença na hora de cuidar da sua alimentação e também dos recursos naturais.

Rastreabilidade e certificação de origem
A rastreabilidade e as certificações de sustentabilidade, por exemplo, são elementos fundamentais para ajudar a tornar a cadeia produtiva de pescado mais eficiente. Além de combater e auxiliar a reduzir irregularidades, as certificações são importantes para assegurar a sustentabilidade dos produtos aos consumidores.
As indústrias pesqueiras que seguem boas práticas podem comprovar seus métodos sustentáveis com certificações e selos de pesca sustentável. O Marine Stewardship Council(MSC) e o Aquaculture Stewardship Council (ASC) são duas organizações que emitem estas certificações, permitindo que os consumidores tenham a escolha de comprar pescado capturado e produzido de forma sustentável. O WWF apoia o MSC e o ASC, além de recomendar aos consumidores a pedir e escolher estes frutos do mar certificados.

A falta de uma regulamentação do setor atrelada à inexistência de monitoramento da atividade, compromete ainda mais a transparência e sustentabilidade desta cadeia produtiva, e a qualidade do pescado nacional. Sem fiscalização, o setor fica ainda mais sujeito a fraudes como, por exemplo, vender espécies de peixes mais baratas como sendo animais nobres, e deixa de gerar informações e acompanhar indicadores de estoques pesqueiros no Brasil.

Fonte: WWF-Brasil

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