Por Helena Vitorino no blog A Gata e o Diabo
Sempre que um machista te apresentar a ideia de
“Castração Química” para o combate ao estupro, pergunte se ele conhece a
história do “Maníaco do Parque”. Isso mesmo, sabe o Maníaco do Parque, o cara
que estuprou e matou várias mulheres em São Paulo, usando como arma maior o seu
pênis, conhecido na cultura popular como o mais perigoso serial killer da
criminologia brasileira? Pergunte se ele conhece essa história.
Pergunte se ele sabe que Francisco de Assis Pereira, o
homem que assassinou pelo menos seis mulheres e tentou matar outras noves, era
um completo impotente sexual. Pergunte se ele sabia que, mesmo sendo incapaz de
manter uma ereção e ejacular normalmente, em relações sexuais naturais,
Francisco foi capaz de subjugar, sequestrar e assassinar a sangue frio várias
mulheres que seduzia no metro. A impotência não o impediu de ser um maníaco em
série, considerado o pior caso deste país. A impotência sexual não o impediu de
estuprar.
Por fim, pergunte se ele sabe que castrar um homem e
deixá-lo incapaz de manter ereções não impedirá, jamais, que ele subjugue uma
mulher, que a estupre, que ele a mate (ele, no mínimo, ficará pensando). Porque
os machistas acreditam que o problema social do estupro está no pênis, no órgão
sexual, e não na cultura. Eles não associam que o estupro começa no domínio, no
poder e na subjugação, no ato de submeter o outro a seus comandos, associando o
ato sexual forçoso como forma de inferiorização. Como se o estuprador não
pudesse usar um objeto, um artefato, ou até mesmo as próprias mãos pra estuprar
alguém. Para os defensores da castração química, a mágica está na anulação do
pênis como único responsável pelo crime.
Aqui reside o problema da cultura do estupro. O debate
não vai além dos órgãos genitais, não perpassa pela sociedade, sequer aborda os
ambientes em que eles mais ocorrem (dentro de casa, perto dos familiares, pelos
próprios familiares). Dentro do terreno mais raso que possa existir, a
discussão emplacada pela candidata à Presidência Manuela D’Ávila é de que não
podemos castrar incessantemente achando que isso resolverá o problema do
Brasil. Não se trata apenas de punir, mas de educar para que uma estrutura
social, cultural e complexa possa se regenerar.
Tá na hora de achar que um pinto age sozinho, e em vez
de castrar órgãos e mentes, façamos diferente.
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