quinta-feira, 28 de junho de 2018

Castração química é a ideia de que o estupro está no pênis, e não na cultura


Por Helena Vitorino no blog A Gata e o Diabo

Sempre que um machista te apresentar a ideia de “Castração Química” para o combate ao estupro, pergunte se ele conhece a história do “Maníaco do Parque”. Isso mesmo, sabe o Maníaco do Parque, o cara que estuprou e matou várias mulheres em São Paulo, usando como arma maior o seu pênis, conhecido na cultura popular como o mais perigoso serial killer da criminologia brasileira? Pergunte se ele conhece essa história.


Pergunte se ele sabe que Francisco de Assis Pereira, o homem que assassinou pelo menos seis mulheres e tentou matar outras noves, era um completo impotente sexual. Pergunte se ele sabia que, mesmo sendo incapaz de manter uma ereção e ejacular normalmente, em relações sexuais naturais, Francisco foi capaz de subjugar, sequestrar e assassinar a sangue frio várias mulheres que seduzia no metro. A impotência não o impediu de ser um maníaco em série, considerado o pior caso deste país. A impotência sexual não o impediu de estuprar.

Por fim, pergunte se ele sabe que castrar um homem e deixá-lo incapaz de manter ereções não impedirá, jamais, que ele subjugue uma mulher, que a estupre, que ele a mate (ele, no mínimo, ficará pensando). Porque os machistas acreditam que o problema social do estupro está no pênis, no órgão sexual, e não na cultura. Eles não associam que o estupro começa no domínio, no poder e na subjugação, no ato de submeter o outro a seus comandos, associando o ato sexual forçoso como forma de inferiorização. Como se o estuprador não pudesse usar um objeto, um artefato, ou até mesmo as próprias mãos pra estuprar alguém. Para os defensores da castração química, a mágica está na anulação do pênis como único responsável pelo crime.


Aqui reside o problema da cultura do estupro. O debate não vai além dos órgãos genitais, não perpassa pela sociedade, sequer aborda os ambientes em que eles mais ocorrem (dentro de casa, perto dos familiares, pelos próprios familiares). Dentro do terreno mais raso que possa existir, a discussão emplacada pela candidata à Presidência Manuela D’Ávila é de que não podemos castrar incessantemente achando que isso resolverá o problema do Brasil. Não se trata apenas de punir, mas de educar para que uma estrutura social, cultural e complexa possa se regenerar.

Tá na hora de achar que um pinto age sozinho, e em vez de castrar órgãos e mentes, façamos diferente.

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