sábado, 14 de abril de 2018

Entrevista: Lédio Rosa fala sobre futuro político, por DS

Lédio Rosa de Andrade, 35 anos de magistratura, 25 anos como juiz e dez como Desembargador. Coordenou o projeto Lar Legal, que tinha como finalidade dar título de propriedade às pessoas pobres que não conseguiam legalizar sua situação. Nesse tempo que fiquei, entregamos mais de seis mil títulos e ainda tem tramitando mais de 15 mil títulos. Cada título é uma família atendida. Eu avalio que dentro do possível eu fiz o que podia, e saio satisfeito.

Por Diário do Sul

O tubaronense Lédio Rosa de Andrade, que se filiou ao PT no final de março – após sua aposentadoria como desembargador, esteve nessa sexta-feira no Diário do Sul.

O desembargador aposentado e ex-colunista do DS diz que ainda não está definido quanto a uma possível candidatura ao governo do Estado ou não. Mas garante que seu mote político será a luta contra a injustiça. “Foram 35 anos de magistratura, lutando sempre contra a injustiça, agora parto para uma outra vertente, desta vez com um viés político-partidário, mas continuarei tendo na luta contra a injustiça e na democracia minha grande motivação”, destaca Lédio.

Ele afirma que não se filiou ao PT com a intenção de negociar cargos. “Primeiramente, quero conhecer mais todo este caminho. Preciso estar mais em contato com o povo, com os próprios militantes, conhecê-los e ver o que realmente querem e até o que pensam a meu respeito. Só depois de tudo isso poderemos definir algo a respeito de cargos e candidatura”, pontua.

Em entrevista ao DS, Lédio Rosa de Andrade fala sobre seu trabalho como desembargador, sobre a crise das instituições no Brasil, sua possível pré-candidatura ao governo do Estado e, ainda, avalia a situação do seu agora partido, o PT, e também sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


-Como o senhor avalia seu trabalho como desembargador?
Lédio Rosa de Andrade – Nestes 35 anos de magistratura, fiquei 25 anos como juiz e dez como desembargador. Eu sempre fiz política, não política-partidária, porque é proibido pela Constituição e eu sempre respeitei. Mas sempre fiz política no sentido científico da palavra, as relações sociais do poder, e eu busquei fazer nestes meus 35 anos uma prática política judiciária que viesse atender aos interesses da sociedade como um todo, não somente das partes favorecidas, que eram minha prioridade, mas das partes produtivas também. Fui também, por exemplo, o coordenador do projeto Lar Legal, que tinha como finalidade dar título de propriedade às pessoas pobres que não conseguiam legalizar sua situação. Nesse tempo que fiquei, entregamos mais de seis mil títulos e ainda tem tramitando mais de 15 mil títulos. Cada título é uma família atendida. Eu avalio que dentro do possível eu fiz o que podia, e saio satisfeito.

-O senhor ministrou palestra nessa sexta-feira com o tema “A crise das Instituições no Brasil”. Como o senhor vê a situação atual?
Lédio – Eu vejo de forma alarmada, porque o Brasil hoje tem um parlamento totalmente acuado – com raras exceções de parlamentares autênticos e livres. Um parlamento refém de uma situação de crise absoluta. Nós temos um Executivo que entrou de forma totalmente ilegítima e que está governando ao partilhar o orçamento público. Um orçamento que, em vez de fazer bens e obras em benefício da população, está servindo para manter o presidente em pé. E um Judiciário que não se entende, que tem uma parte que busca defender o Estado Democrátrico de Direito, mas tem uma outra parte, junto a uma parte do Ministério Público, e uma parte da polícia que estão fazendo práticas antidemocráticas, destruindo o Estado democrático de direito e, lamentavelmente, até agora, pelo menos, com a complascência dos tribunais superiores. Os ataques frontais ao Estado democrático de direito, às liberdades individuais, estão sendo avalizados pelos tribunais superiores. E esta incerteza está permitindo o avanço deste autoritarismo dentro do Judiciário. Isto é muito grave. É preciso que as pessoas saibam disso.

-O senhor é pré-candidato ao governo do Estado? Como o senhor tem percebido a receptividade? Pode concorrer a outro cargo que não o governo?
Lédio – Eu fui convidado pelo PT para me filiar e ser pré-candidato ao governo. Eu ponderei, pois entrar no partido já com um cargo não é a melhor porta. Eu sou muito profissional neste ponto. O que eu disse para o partido é que não vou dizer que não, mas eu prefiro deixar a coisa correr até se aproximar um pouco da convenção. Eu nunca fui filiado ao PT. O partido não me conhece, a militância não me conhece, então eu preciso ter este contato para saber se sou aprovado internamente e depois ver qual a melhor proposta. Ser for pra ser governador, eu vou. Se for pra ser senador, eu vou. Não estou impondo. Então, neste momento, estou esperando um pouco mais. Quanto à receptividade, foi melhor do que eu pensava. Eu sempre tive dúvida, porque o PT é um partido diferente dos outros, pois tem muitas alas. Então eu tinha uma certa
preocupação sobre como seria recepcionado. Até o momento, no entanto, eu não tive nenhuma oposição interna. Comecei minha caminhada vindo para minha região, afinal sou tubaronense, e estou sendo muito bem recebido e estou muito satisfeito. Creio que poderei contribuir muito.

-Como o senhor avalia, tanto como partidário do PT quanto como sua visão jurídica, a prisão do Lula?
Lédio – Eu, como visão jurídica, digo isso com tranquilidade absoluta – eu fui juiz penal durante muitos anos, sou professor da Ufsc de criminologia, e posso assegurar, sem nenhum receio, não há (e não estou aqui dizendo que o Lula é santo) neste processo elementos jurídicos suficientes para uma condenação. É, sem dúvida nenhuma, um julgamento político. E é um julgamento que todo cidadão brasileiro sabia, antes de começar o processo, antes de serem ouvidas as testemunhas, que ele seria condenado. Isso é uma ofensa ao Estado democrático de direito. O Lula não teve um juiz imparcial, que é a garantia de qualquer lugar do mundo ocidental, que é um juiz que não se possa previamente saber se vai condenar ou absolver. Eu tenho feito a seguinte pergunta: por que o Lula foi preso, qual a acusação? A acusação que está na cabeça do povo brasileiro é que ele se corrompeu, e como propina ganhou um apartamento – o tríplex, e também a reforma de uma cozinha. Só que não é assim. A denúncia não é que ele ganhou. É que a empresa não cobrou a diferença do apartamento que ele já tinha no mesmo prédio pelo triplex na cobertura em questão. Botaram na cabeça que ele ganhou um apartamento inteirinho, e não é assim. O que eu afirmo com tranquilidade, eu vi o processo, é que o Moro condenou ele com 15 indícios. A própria sentença diz isso. Somados os 15 indícios se chega à conclusão de prova.

-Como o senhor vê o PT para esta eleição?
Lédio – Eu vejo o PT um partido – as pessoas, bastante sofridas, tristes, bastante magoadas com tudo isso, mas vejo também um grupo de pessoas que não quer abandonar os ideais, que quer voltar a lutar, que não aceita que o sonho de um país melhor acabou. E o que eu acho que é a minha função é resgatar este PT, é dizer que sim é possível, que não é preciso abandonar os sonhos, o sonho é maior que uma condenação – justa ou injusta – e que não podemos abandonar a luta. A gente tem a obrigação de continuar. Se estou aqui hoje é porque sou um idealista. Ainda acredito que é possível. Voltei para a luta de novo.

-Como o senhor observa a questão das coligações com o PT, que não são práticas comuns, principalmente em Tubarão?
Lédio – As coligações normalmente são levadas pelo presidente do partido e pela direção. No momento, que eu saiba, o PT está correndo sozinho em nível estadual, até porque os partidos menores de esquerda se coligaram com o PSD, e quanto aos partidos de direita, não têm sentido eles se coligarem com o PT, porque se pensa diferente. Pode ser que no segundo turno haja alguma coligação, mas no primeiro turno não. Eu acho que se o PT for para o segundo turno, ele faz a coligação com outros partidos.

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