Lédio
Rosa de Andrade, 35 anos de magistratura, 25 anos como juiz e dez como Desembargador.
Coordenou o projeto Lar Legal, que tinha como finalidade dar título de
propriedade às pessoas pobres que não conseguiam legalizar sua situação. Nesse
tempo que fiquei, entregamos mais de seis mil títulos e ainda tem tramitando
mais de 15 mil títulos. Cada título é uma família atendida. Eu avalio que
dentro do possível eu fiz o que podia, e saio satisfeito.
Por Diário do Sul
O tubaronense Lédio Rosa de Andrade, que se filiou ao
PT no final de março – após sua aposentadoria como desembargador, esteve nessa
sexta-feira no Diário do Sul.
O desembargador aposentado e ex-colunista do DS diz que
ainda não está definido quanto a uma possível candidatura ao governo do Estado
ou não. Mas garante que seu mote político será a luta contra a injustiça.
“Foram 35 anos de magistratura, lutando sempre contra a injustiça, agora parto
para uma outra vertente, desta vez com um viés político-partidário, mas
continuarei tendo na luta contra a injustiça e na democracia minha grande
motivação”, destaca Lédio.
Ele afirma que não se filiou ao PT com a intenção de
negociar cargos. “Primeiramente, quero conhecer mais todo este caminho. Preciso
estar mais em contato com o povo, com os próprios militantes, conhecê-los e ver
o que realmente querem e até o que pensam a meu respeito. Só depois de tudo
isso poderemos definir algo a respeito de cargos e candidatura”, pontua.
Em entrevista ao DS, Lédio Rosa de Andrade fala sobre
seu trabalho como desembargador, sobre a crise das instituições no Brasil, sua
possível pré-candidatura ao governo do Estado e, ainda, avalia a situação do
seu agora partido, o PT, e também sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
-Como o senhor avalia seu trabalho como desembargador?
Lédio Rosa de Andrade – Nestes 35 anos de magistratura,
fiquei 25 anos como juiz e dez como desembargador. Eu sempre fiz política, não
política-partidária, porque é proibido pela Constituição e eu sempre respeitei.
Mas sempre fiz política no sentido científico da palavra, as relações sociais
do poder, e eu busquei fazer nestes meus 35 anos uma prática política
judiciária que viesse atender aos interesses da sociedade como um todo, não
somente das partes favorecidas, que eram minha prioridade, mas das partes
produtivas também. Fui também, por exemplo, o coordenador do projeto Lar Legal,
que tinha como finalidade dar título de propriedade às pessoas pobres que não
conseguiam legalizar sua situação. Nesse tempo que fiquei, entregamos mais de
seis mil títulos e ainda tem tramitando mais de 15 mil títulos. Cada título é
uma família atendida. Eu avalio que dentro do possível eu fiz o que podia, e
saio satisfeito.
-O senhor ministrou palestra nessa sexta-feira com o
tema “A crise das Instituições no Brasil”. Como o senhor vê a situação atual?
Lédio – Eu vejo de forma alarmada, porque o Brasil hoje
tem um parlamento totalmente acuado – com raras exceções de parlamentares
autênticos e livres. Um parlamento refém de uma situação de crise absoluta. Nós
temos um Executivo que entrou de forma totalmente ilegítima e que está
governando ao partilhar o orçamento público. Um orçamento que, em vez de fazer
bens e obras em benefício da população, está servindo para manter o presidente
em pé. E um Judiciário que não se entende, que tem uma parte que busca defender
o Estado Democrátrico de Direito, mas tem uma outra parte, junto a uma parte do
Ministério Público, e uma parte da polícia que estão fazendo práticas
antidemocráticas, destruindo o Estado democrático de direito e,
lamentavelmente, até agora, pelo menos, com a complascência dos tribunais
superiores. Os ataques frontais ao Estado democrático de direito, às liberdades
individuais, estão sendo avalizados pelos tribunais superiores. E esta
incerteza está permitindo o avanço deste autoritarismo dentro do Judiciário.
Isto é muito grave. É preciso que as pessoas saibam disso.
-O senhor é pré-candidato ao governo do Estado? Como o
senhor tem percebido a receptividade? Pode concorrer a outro cargo que não o
governo?
Lédio – Eu fui convidado pelo PT para me filiar e ser
pré-candidato ao governo. Eu ponderei, pois entrar no partido já com um cargo
não é a melhor porta. Eu sou muito profissional neste ponto. O que eu disse
para o partido é que não vou dizer que não, mas eu prefiro deixar a coisa
correr até se aproximar um pouco da convenção. Eu nunca fui filiado ao PT. O
partido não me conhece, a militância não me conhece, então eu preciso ter este
contato para saber se sou aprovado internamente e depois ver qual a melhor
proposta. Ser for pra ser governador, eu vou. Se for pra ser senador, eu vou.
Não estou impondo. Então, neste momento, estou esperando um pouco mais. Quanto
à receptividade, foi melhor do que eu pensava. Eu sempre tive dúvida, porque o
PT é um partido diferente dos outros, pois tem muitas alas. Então eu tinha uma certa
preocupação sobre como seria recepcionado. Até o
momento, no entanto, eu não tive nenhuma oposição interna. Comecei minha
caminhada vindo para minha região, afinal sou tubaronense, e estou sendo muito
bem recebido e estou muito satisfeito. Creio que poderei contribuir muito.
-Como o senhor avalia, tanto como partidário do PT
quanto como sua visão jurídica, a prisão do Lula?
Lédio – Eu, como visão jurídica, digo isso com
tranquilidade absoluta – eu fui juiz penal durante muitos anos, sou professor
da Ufsc de criminologia, e posso assegurar, sem nenhum receio, não há (e não
estou aqui dizendo que o Lula é santo) neste processo elementos jurídicos
suficientes para uma condenação. É, sem dúvida nenhuma, um julgamento político.
E é um julgamento que todo cidadão brasileiro sabia, antes de começar o
processo, antes de serem ouvidas as testemunhas, que ele seria condenado. Isso
é uma ofensa ao Estado democrático de direito. O Lula não teve um juiz
imparcial, que é a garantia de qualquer lugar do mundo ocidental, que é um juiz
que não se possa previamente saber se vai condenar ou absolver. Eu tenho feito
a seguinte pergunta: por que o Lula foi preso, qual a acusação? A acusação que
está na cabeça do povo brasileiro é que ele se corrompeu, e como propina ganhou
um apartamento – o tríplex, e também a reforma de uma cozinha. Só que não é
assim. A denúncia não é que ele ganhou. É que a empresa não cobrou a diferença
do apartamento que ele já tinha no mesmo prédio pelo triplex na cobertura em
questão. Botaram na cabeça que ele ganhou um apartamento inteirinho, e não é
assim. O que eu afirmo com tranquilidade, eu vi o processo, é que o Moro
condenou ele com 15 indícios. A própria sentença diz isso. Somados os 15
indícios se chega à conclusão de prova.
-Como o senhor vê o PT para esta eleição?
Lédio – Eu vejo o PT um partido – as pessoas, bastante
sofridas, tristes, bastante magoadas com tudo isso, mas vejo também um grupo de
pessoas que não quer abandonar os ideais, que quer voltar a lutar, que não
aceita que o sonho de um país melhor acabou. E o que eu acho que é a minha
função é resgatar este PT, é dizer que sim é possível, que não é preciso
abandonar os sonhos, o sonho é maior que uma condenação – justa ou injusta – e
que não podemos abandonar a luta. A gente tem a obrigação de continuar. Se
estou aqui hoje é porque sou um idealista. Ainda acredito que é possível.
Voltei para a luta de novo.
-Como o senhor observa a questão das coligações com o
PT, que não são práticas comuns, principalmente em Tubarão?
Lédio – As coligações normalmente são levadas pelo
presidente do partido e pela direção. No momento, que eu saiba, o PT está
correndo sozinho em nível estadual, até porque os partidos menores de esquerda
se coligaram com o PSD, e quanto aos partidos de direita, não têm sentido eles
se coligarem com o PT, porque se pensa diferente. Pode ser que no segundo turno
haja alguma coligação, mas no primeiro turno não. Eu acho que se o PT for para
o segundo turno, ele faz a coligação com outros partidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário