Disputa por tempo de propaganda gratuita é um
fator que define a busca por coligações | Foto: Reprodução
Por Lalo Leal
Da RBA no Sul 21
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Entramos em um novo ano eleitoral com mais dúvidas do
que certezas. Há quem duvide até da possibilidade de termos eleições
presidenciais em 2018. E não é para menos. Volta-se a falar em parlamentarismo,
rejeitado duas vezes pelo voto popular em nossa história, mas que ressurge como
um fantasma capaz de impedir o livre exercício presidencial, no temor de que
este venha a ser conduzido por ideias e ações desenvolvimentistas e populares.
Outra alternativa, ainda que não impeça a eleição, é
torná-la não representativa da vontade dos eleitores. Isso decorreria do
impedimento, via judiciário, da candidatura Lula, líder consolidado em todas as
pesquisas de intenção de voto.
Apesar dessas incertezas, os partidos já viraram o ano
articulando estratégias eleitorais. Entre elas está a formação de coligações
não só capazes de aumentar na prática o tamanho dos apoios recebidos pelos
partidos, mas também, e com grande interesse, de ampliar o tempo de determinado
candidato nos programas eleitorais obrigatórios no rádio e na televisão.
Apesar do crescimento e da influência cada vez maior da
internet, o rádio e principalmente a TV ainda têm um peso quase decisivo nas
eleições brasileiras. Exemplo recente é a vitória de João Doria no primeiro
turno para a prefeitura de São Paulo, um produto midiático cuidadosamente
embalado para atender os anseios dos eleitores, incentivados pela própria
mídia, de alguém refratário à política tradicional e com perfil de gestor
empresarial.
É bom saber o que está em jogo. A propaganda eleitoral
começa no dia 31 de agosto e vai até 4 de outubro, três dias antes do primeiro
turno. São dois tipos de propaganda: dois blocos com duração de 12min30s
exibidos à tarde (das 13h às 13h12m30s) e à noite (das 20h30 às 20h42m30s), nas
terças, quintas e sábados, e as inserções – peças de propaganda do tipo
“comerciais” de TV – de 30 segundos ou um minuto de duração, veiculadas entre
os programas das emissoras das 5h às 24h, num total de 14 minutos diários.
A luta por esse espaço é feroz. O tempo de cada partido
ou coligação de partidos no rádio e na TV é determinado pelo tamanho de cada um
deles. Dai a formação de conglomerados partidários muitas vezes não muito
homogêneos do ponto de vista programático.
Segundo análises realizadas ao final do ano passado,
divulgadas pela Folha de S.Paulo, o PMDB e seus aliados do chamado “centrão”
teriam 39% do total de tempo de propaganda no rádio e na TV, quase 5 minutos em
cada bloco de 12 minutos e 30 segundos. Em seguida, mas com bem menos tempo,
viria o PT com 13% (1min35s), o PSDB com 10% (1min18s) e o PDT com 4% (33s),
isso se não conseguirem fazer coligação com algum outro partido.
Claro que existem outros fatores a interferir nas
decisões de voto, como por exemplo os debates televisados entre os candidatos.
Mas eles também reverberam no horário eleitoral obrigatório. A gafe de um
candidato ou uma proposta considerada impopular são exploradas ao máximo pelos
adversários em seus programas levando, muitas vezes, à reorientação do voto do
eleitor.
E há ainda a internet, com suas redes sociais, sendo
usadas cada vez mais profissionalmente nas disputas eleitorais. No caso
brasileiro ela ainda não se equipara à TV como força de persuasão mas, dentro
dos seus limites, tem mostrado influência. Basta lembrar o candidato derrotado
em 2010 para a presidência da República, José Serra, chamando de “blogueiros
sujos” os responsáveis por blogs e sites que veiculavam notícias que não o
agradavam durante a campanha eleitoral.
De lá para cá multiplicaram-se as empresas prestadoras
de serviços aos partidos e candidatos para manter e alimentar as redes sociais.
Aí não há o limite legal de tempo como ocorre com o rádio e a TV, além de permitir
o surgimento dos “perfis falsos” atuando a favor ou contra determinados
candidatos.
Segundo reportagem da BBC Brasil, uma dessas agências
contratou cerca de 40 pessoas para fazer a manutenção dos perfis falsos. O
objetivo é manipular a opinião pública, o que vem sendo feito desde 2012, mas
que ganhou dimensão maior a partir da eleição de 2014.
A estratégia é simples. Criam-se personagens na
internet com uma série de características que os tornam aparentemente reais.
Surgem figuras com rosto e uma história pessoal: de onde é, se é casado, se tem
filhos e quais são seus gostos, hobbies e profissão. Dessa forma, se manifestam
sobre assuntos variados, muitos deles domésticos e triviais, entremeando-os com
opiniões políticas e eleitorais, geralmente apoiando um ou outro candidato.
Um tipo de atuação comum, segundo a reportagem, era
deixar comentários em sites de notícias e votar em enquetes como as
regularmente lançadas pelo site do Senado. “Às vezes, dez pessoas ficavam
votando em determinada opção durante oito horas por dia”, diz um dos
entrevistados pela BBC Brasil que atuou numa dessas assessorias de comunicação.
Cabe ressaltar que a criação de perfis falsos é crime
de falsa identidade. A reforma eleitoral proibiu “a veiculação de conteúdos de
cunho eleitoral” por meio de “cadastro de usuário de aplicação de internet com
a intenção de falsear a identidade”. Vamos torcer para que a lei seja realmente
aplicada em 2018. Os perfis falsos, se prosperarem, contribuirão ainda mais
para distorcer a necessária liberdade de escolha do eleitor.
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