por Carlos Coimbra no GGN
Nesta minha primeira e honrosa participação no GGN, que
tem por finalidade discutir nuances do triângulo (não tão amoroso) de ciência,
política e cultura, levantarei a lebre, repetitiva mas necessária, do debate
científico mundial sobre mudanças climáticas e sobre a degradação ambiental.
Vamos às ocorrências.
Na última segunda feira, 13
de novembro, um manifesto científico foi publicado pela assombrosa
cifra de 15 mil biólogos, físicos, astrônomos, químicos,
climatologistas e outros cientistas ligados ao meio ambiente de mais de 184
países.
Manifestos são concretamente
ações políticas, declarações públicas de princípios e intenções, instrumentos
claros da denúncia pública.
A ação é uma extensão e
atualização (mais dramática) de um texto assinado em 1992, no Rio de Janeiro
(na Eco-92) por 1.700 cientistas. O líder da ação é o físico, ganhador do
prêmio Nobel, Henry Kendall.
No caso do manifesto em
questão, o seu foco recai na crise atual relacionada ao modelo ocidental de
consumo e em suas consequências ambientais. O título do manifesto: “Os
ecossistemas e sua subsequente capacidade de sustentar o tecido da vida”.
Uma das principais
recomendações dos autores do apelo se refere à redução do consumo material pela
sociedade como um todo. O manifesto descreve que a forma como o modelo
ocidental de consumo se alastrou no mundo a partir dos anos 1950 é mais grave
do que o próprio crescimento demográfico da humanidade.
O inusitado é que desde o início de 2017 a comunidade científica
está atônita: os Estados Unidos, principal motor mundial da degradação do
meio ambiente, mormente em relação à questão climática, estão dominados
por uma administração completamente climatocética.
Basta ver as primeiras ações de Donald Trump em relação às políticas
ambientais. O mega-empresário-presidente retirou os EUA dos principais acordos
climáticos assinados até o ano passado. Nesse sentido, apenas dois países no
mundo não têm assinatura protocolada no Acordo de Paris: EUA e Síria.
Já a China, ao contrário dos
EUA, se engajou de corpo e alma, pelo menos até o momento, em um sólido
programa de desenvolvimento de energias renováveis. A motivação para isso vem
não só da questão climática, mas também porque a população chinesa convive
diariamente com a agressiva poluição provinda da queima maciça de combustíveis
fósseis proporcionada pelo rápido desenvolvimento industrial daquele país.
Atualmente, como resultado dessas políticas de energia limpa, China desde 2014
é liderança global na produção de energia solar e eólica.
Voltando ao manifesto dos 15
mil, ele pode ser resumido de forma prática a partir de seus oito objetivos
principais:
·
Estabelecer reservas naturais protegidas e interligadas para
conservar habitats naturais;
·
Conter as ações de conversão de florestas, pradarias, serrados e
espaços selvagens em superfícies agrícolas ou em áreas urbanas;
·
Reflorestar o quanto possível regiões devastadas com espécies
nativas para o restabelecimento dos processos ecológicos;
·
Reduzir o desperdício de alimentos por meio da educação e
melhorias em infraestrutura;
·
Promover uma reorientação do regime alimentar na direção de
dietas ricas em vegetais;
·
Retirar investimentos dos setores altamente poluentes e estufas
como o caso das energias fósseis;
·
Lutar contra a perda da fauna, a caça predatória e o tráfico de
espécies protegidas;
·
Redução da taxa de crescimento por meio de ações mais efetivas
de educação sexual.
Por fim, não menos importante, a provável semente para o
manifesto acima descrito é o estudo encomendado pelo famoso Clube de Roma em
1972. A encomenda foi feita ao Massachussets Institute of Technology (MIT)
e o estudo foi liderado pelo cientista social Dennis Meadows. O
produto desse estudo é o famoso texto The Limits to Growth, um
relatório sobre as consequências ambientais do contínuo crescimento econômico
nos moldes dos anos 1960 e 1970. The Limits to Growth foi
provavelmente o primeiro documento científico a alertar sobre a
natureza insustentável do modelo de crescimento ocidental. Após as fortes
críticas tecidas pelas diversas escolas de economistas da época, o
documento foi rotulado como material irrelevante e relegado ao
esquecimento.
Talvez os grandes estudos e
pesquisas realizados por cientistas de todo mundo em várias áreas acabaram por
ressuscitar o tema que está muito longe de ser uma teoria da conspiração, como
quer a administração Trump. Os milhares de artigos de climatologistas, físicos,
químicos, filósofos, biólogos, economistas, cientistas sociais, podem ser
obtidos em várias bases de conhecimento científico, como o NASA/ADS (arquivo de
dados da NASA com Harvard), arxiv.org (Cornell), IPCC (ONU) e tantos outros.
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