quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O modelo consumista da sociedade ocidental e o manifesto dos 15 mil


por Carlos Coimbra no GGN

Nesta minha primeira e honrosa participação no GGN, que tem por finalidade discutir nuances do triângulo (não tão amoroso) de ciência, política e cultura, levantarei a lebre, repetitiva mas necessária, do debate científico mundial sobre mudanças climáticas e sobre a degradação ambiental.

Vamos às ocorrências.
Na última segunda feira, 13 de novembro, um manifesto científico foi publicado pela assombrosa cifra de 15 mil biólogos, físicos, astrônomos, químicos, climatologistas e outros cientistas ligados ao meio ambiente de mais de 184 países.
Manifestos são concretamente ações políticas, declarações públicas de princípios e intenções, instrumentos claros da denúncia pública.
A ação é uma extensão e atualização (mais dramática) de um texto assinado em 1992, no Rio de Janeiro (na Eco-92) por 1.700 cientistas. O líder da ação é o físico, ganhador do prêmio Nobel, Henry Kendall.
No caso do manifesto em questão, o seu foco recai na crise atual relacionada ao modelo ocidental de consumo e em suas consequências ambientais. O título do manifesto: “Os ecossistemas e sua subsequente capacidade de sustentar o tecido da vida”.
Uma das principais recomendações dos autores do apelo se refere à redução do consumo material pela sociedade como um todo. O manifesto descreve que a forma como o modelo ocidental de consumo se alastrou no mundo a partir dos anos 1950 é mais grave do que o próprio crescimento demográfico da humanidade.
O inusitado é que desde o início de 2017 a comunidade científica está atônita: os Estados Unidos, principal motor mundial da degradação do meio ambiente, mormente em relação à questão climática, estão dominados por uma administração completamente climatocética. Basta ver as primeiras ações de Donald Trump em relação às políticas ambientais. O mega-empresário-presidente retirou os EUA dos principais acordos climáticos assinados até o ano passado. Nesse sentido, apenas dois países no mundo não têm assinatura protocolada no Acordo de Paris: EUA e Síria.
Já a China, ao contrário dos EUA, se engajou de corpo e alma, pelo menos até o momento, em um sólido programa de desenvolvimento de energias renováveis. A motivação para isso vem não só da questão climática, mas também porque a população chinesa convive diariamente com a agressiva poluição provinda da queima maciça de combustíveis fósseis proporcionada pelo rápido desenvolvimento industrial daquele país. Atualmente, como resultado dessas políticas de energia limpa, China desde 2014 é liderança global na produção de energia solar e eólica.
Voltando ao manifesto dos 15 mil, ele pode ser resumido de forma prática a partir de seus oito objetivos principais:
·         Estabelecer reservas naturais protegidas e interligadas para conservar habitats naturais;
·         Conter as ações de conversão de florestas, pradarias, serrados e espaços selvagens em superfícies agrícolas ou em áreas urbanas;
·         Reflorestar o quanto possível regiões devastadas com espécies nativas para o restabelecimento dos processos ecológicos;
·         Reduzir o desperdício de alimentos por meio da educação e melhorias em infraestrutura;
·         Promover uma reorientação do regime alimentar na direção de dietas ricas em vegetais;
·         Retirar investimentos dos setores altamente poluentes e estufas como o caso das energias fósseis;
·         Lutar contra a perda da fauna, a caça predatória e o tráfico de espécies protegidas;
·         Redução da taxa de crescimento por meio de ações mais efetivas de educação sexual.
Por fim, não menos importante, a provável semente para o manifesto acima descrito é o estudo encomendado pelo famoso Clube de Roma em 1972. A encomenda foi feita ao Massachussets Institute of Technology (MIT) e o estudo foi liderado pelo cientista social Dennis Meadows. O produto desse estudo é o famoso texto The Limits to Growth, um relatório sobre as consequências ambientais do contínuo crescimento econômico nos moldes dos anos 1960 e 1970The Limits to Growth foi provavelmente o primeiro documento científico a alertar sobre a natureza insustentável do modelo de crescimento ocidental. Após as fortes críticas tecidas pelas diversas escolas de economistas da época, o documento foi rotulado como material irrelevante e relegado ao esquecimento.

Talvez os grandes estudos e pesquisas realizados por cientistas de todo mundo em várias áreas acabaram por ressuscitar o tema que está muito longe de ser uma teoria da conspiração, como quer a administração Trump. Os milhares de artigos de climatologistas, físicos, químicos, filósofos, biólogos, economistas, cientistas sociais, podem ser obtidos em várias bases de conhecimento científico, como o NASA/ADS (arquivo de dados da NASA com Harvard), arxiv.org (Cornell), IPCC (ONU) e tantos outros.

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