O ex-senador Nelson Wedekin divulgou hoje um
texto em que responde à nota da auto-intitulada "Rede de Controle da
Gestão Pública"
"NUNCA HOUVE PRISÃO TÃO DESNECESSÁRIA”
Por Nelson Wedekin
A Rede de Controle da Gestão Pública no Estado de Santa
Catarina emitiu nota , com o apoio do Ministério Público Federal, para
justificar as ações das autoridades de Estado na prisão do ex-reitor Luiz
Carlos Cancellier de Olivo.
A prisão temporária de Cancellier, segundo a nota, foi
"entendida como necessária pela Polícia Federal, chancelada pelo
Ministério Público Federal e firmada pela Justiça Federal ". Prisão
necessária, na avaliação de autoridades de Estado, ainda que Cancellier não
tivesse antecedentes criminais, morasse em endereço certo, não tivesse intenção
de fuga, pudesse ser localizado a qualquer hora na Universidade onde era o
reitor.
Senhores da Rede : a prisão de Cancellier foi
necessária única e exclusivamente porque autoridades de Estado concordaram
entre si, do alto de seu poder discricionário, que era necessária. Nunca houve
prisão tão desnecessária.
Segundo a tal Rede, tudo se deu nos trâmites normais na
lei, por causa de fatos "comprovados nos autos". Os fatos
comprovados, até agora, foram a prisão temporária do reitor, a revista íntima,
a roupa laranja de presidiário, as correntes nos pés e as algemas nas mãos do
ex-reitor. Fato comprovado foi a operação ruidosa, o espetáculo de mídia, que
envolveu 105 agentes federais, e que bem contada, custou aos cofres da Nação
mais do que o valor dos recursos supostamente desviados. Fato cada vez mais
comprovado foi a demonstração desproporcional de poder e força bruta, consumada
por autoridades de Estado.
A Rede atesta que a operação "Ouvidos Moucos"
foi realizada por agentes acima de qualquer suspeita, "já provados em
outras circunstâncias". E por que o ex-reitor Cancellier não era acima de
qualquer suspeita? Quem lhes outorgou o título de "acima de qualquer
suspeita", só a eles, e a ninguém mais? Podem dizer-se acima de qualquer
suspeita, e distribuir suspeições a seu talante e gosto?
A nota da Rede - Rede que apareceu de repente, não se
sabe de onde - também assinala que "não é possível e tão pouco (sic)
responsável concluir que todos erraram em sua atuação, achincalhando
instituições e pessoas que têm prestados relevantes serviços ao país ".
Instituições não erram. São as pessoas que erram. E aquelas autoridades
específicas, mencionadas na nota, erraram, sim, e do erro grave, da falta de
medida, da atuação imoderada, da ação temerária resultou uma tragédia.
Falam de instituições, mas não lembram que a ação
desastrada envolvia a instituição UFSC, no mínimo tão respeitável quanto às que
eles servem. Também não lhes passou pela cabeça que, além deles, existem outras
tantas pessoas que também têm serviços relevantes prestados ao país.
Quando os senhores descobrirem, enfim, que não lhes
pertence o monopólio da virtude, da honestidade, da exação no cumprimento do
dever, e dos bons serviços prestados ao país, talvez cometam menos equívocos e
menos ações temerárias, evitem linchamentos morais e tragédias como a do
professor Cancellier. Talvez se tornem mais humanos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário