"O
trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse
nome". Ex-agente da CIA revela detalhes sobre as tentativas frustradas de
assassinar Fidel Castro
Por Pragmatismo político
Antonio
Veciana, um cidadão cubano e ex-espião da CIA (Agência Central de
Inteligência dos Estados Unidos), diz que a sua é “uma história de fracasso”,
pois dedicou a vida a tentar matar Fidel Castro e desestabilizar o governo
instituído após a Revolução Cubana – sem sucesso.
Aos 88 anos, Veciana,
que vive em Miami, nos EUA,
falou à agência de notícias AFP sobre sua história, a
propósito do lançamento de seu livro “Trained to kill” (“Treinado para matar”, em tradução
livre).
“O trabalho que eu fazia
era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome”, disse o
ex-agente. “Eu era um terrorista improvável: era magro, asmático e cheio de
inseguranças.”
Ele conta que foi recrutado
em 1959 pelo agente norte-americano David Atlee Phillips, codinome “Bispo”, que
o treinou em Havana para matar Fidel –
que, após sobreviver a mais de 600 tentativas frustradas de
assassinato, morreu em novembro do ano passado de causas naturais.
Veciana trabalhava
como contador no Banco Nacional de Cuba e aprendeu a passar despercebido,
planejar ações, ser inescrupuloso e não confiar em ninguém.
“A princípio, a ideia era
desestabilizar”, contou, dizendo que seu trabalho era criar e espalhar
informações falsas sobre supostas ações do governo cubano.
A primeira que criou foi um
boato sobre uma suposta lei que permitiria que o governo retirasse os direitos
legais e de custódia dos pais sobre seus filhos.
A partir desse rumor, entre
1960 e 1962 cerca de 14 mil crianças e adolescentes foram enviados por suas
famílias para os EUA, um êxodo infanto-juvenil conhecido como “Operação
Peter Pan”. A operação foi apoiada pela Igreja Católica, que enviava os menores
desde Cuba e os recebia em acampamentos na Flórida.
“Muitos pais e mães se
encontraram com seus filhos depois, mas outros nunca mais os viram, porque
morreram ou porque não conseguiram sair do país”, disse Veciana, que diz
não se arrepender de seu papel na separação de milhares de famílias.
“Pode ter sido irresponsável,
mas eu fiz o que fiz por convicção”, afirmou. “Estava convencido de que estava
fazendo a coisa certa, e faria de novo.”
Ele fugiu para os EUA em
1961 após uma tentativa frustrada de assassinar Fidel
Castro. Em Miami, ele fundou um grupo paramilitar chamado Alpha 66, que
nos anos 1960 e 70 promoveu ações – cuja magnitude era “sempre exagerada”,
segundo ele – contra o governo cubano.
Veciana disse ter se sentido
“traído” pelo então presidente dos EUA, John F.
Kennedy, que retirou o apoio norte-americano a grupos paramilitares de
cubanos anticastristas na tentativa frustrada de invasão da Baía dos Porcos, em
1961.
À AFP, ele disse
ter visto o ex-agente Bispo se encontrar com o ex-fuzileiro naval Lee
Harvey Oswald meses antes do assassinato de Kennedy,
em 1963. Oswald foi depois identificado como o atirador que matou o então
presidente dos EUA em Dallas, no Texas.
Veciana tentou mais uma vez
matar Fidel durante uma visita do líder cubano a Santiago do Chile – e mais uma
vez falhou. Seus esforços para difamar Ernesto
“Che” Guevara depois da morte do revolucionário argentino na Bolívia,
em 1967, também falharam, já que Che acabou se tornando um ícone mundial da
esquerda.
Ele se aposentou em 1979,
após 20 anos de tentativas frustradas de derrubar Fidel e
a Revolução Cubana. “Eu tento não pensar muito nisso,
porque a minha história é uma história de fracassos”, disse o ex-agente à
AFP.
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