Foto: André Gomes de Melo
Do GGN
Antônio Cândido, crítico literário e sociólogo, faleceu
aos 98 anos na madrugada desta sexta-feira (12). Candido estava internado no
Hospital Albert Einstein com problemas no intestino. O velório está sendo
realizado no próprio hospital, no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo.
Candido escreveu livros como Introdução ao Método
Crítico de Silvio Romero, Formação da Literatura Brasileira e Literatura e
Sociedade. Sua obra é considerada como uma das mais fundamentais da
intelectualidade no Brasil.
Do Estadão
Crítico literário e intelectual foi pensador
fundamental do Brasil no século 20
Ubiratan Brasil, Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo
O crítico literário e sociólogo Antonio Candido, dono
de uma das obras mais fundamentais da intelectualidade brasileira, morreu aos
98 anos.
Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em
São Paulo, com problemas no intestino, de acordo com Edla Van Steen. O velório
será no próprio hospital (Av. Albert Einstein, 627 - Morumbi, São Paulo), das
9h às 17h.
Autor de livros fundamentais como Introdução ao Método
Crítico de Silvio Romero (1944), Formação da Literatura Brasileira (1959),
Literatura e Sociedade (1965), entre muitos outros, Candido formou uma maneira
de pensar a literatura brasileira que influenciou toda a crítica literária do
País desde então.
Em 1956, ele criou o Suplemento Literário de O Estado
de S. Paulo, caderno que se tornou paradigma do jornalismo cultural no Brasil.
O crítico e ensaísta se definia como um sobrevivente.
"Sou provavelmente o último amigo vivo de Oswald de Andrade, um escritor
dono de uma personalidade vulcânica", comentou Candido, em rara
entrevista, em Paraty, onde, em 2011, fez a conferência de abertura da 9.ª
Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Como o homenageado era
justamente o autor de Marco Zero, Candido decidiu quebrar seu silêncio - não
gostava de ser entrevistado tampouco de fazer aparições públicas.
O ensaísta mantinha fortes lembranças de Oswald
(1890-1954) justamente por causa de sua personalidade marcante. "Ele tinha
traços de gênio: mesmo não sendo um grande leitor, Oswald captava a essência
dos assuntos e discursava como grande entendedor."
A amizade entre eles começou depois de uma crise – o
escritor não gostou de uma crítica escrita por Candido sobre Marco Zero,
romance de 1943. "O comunismo fez mal para ele, que passou a escrever uma
literatura mais engajada, longe da linguagem telegráfica que era seu melhor
estilo", contou Candido. "Eu era um jovem crítico, estava com 24
anos, e não aceitava aquele silêncio que rondava a obra de Oswald, considerado
um autor inatacável."
Passado o tempo, o próprio Antonio Candido reconheceu o
exagero de sua escrita, a ponto de produzir um longo ensaio em que reconhecia o
valor literário do autor. Foi o suficiente para estabelecer uma amizade
profunda e sincera, que resistiu até às novas críticas de livros.
O exercício, aliás, era arriscado. Candido comentou que
o crítico literário de sua época era obrigado a lidar com nomes que, naquele
momento, ainda eram desconhecidos.
"Certo dia, recebi um livro chamado Perto do
Coração Selvagem, assinado por Clarice Lispector. Pensei que fosse um
pseudônimo, porque isso não é nome de gente, Lispector. Eu não sabia quem era e
precisava dizer se o livro era bom ou era ruim. Ou seja, minha responsabilidade
como crítico era muito grande, pois lidava com autores como Murilo Mendes e
Carlos Drummond de Andrade, que ainda não tinham conquistado notoriedade. Tive
a sorte de viver um tempo de esplendor da literatura brasileira. Mas avaliações
erradas poderiam custar o emprego."
Candido lembrou que, em sua época, a crítica era
militante e alguns jornais tinham o chamado crítico titular. No seu caso, ele
era o do jornal Folha da Manhã, enquanto o do Estado era Tobias Barreto.
"O crítico titular tinha muito autoridade, porque representava o jornal.
Costumo dizer que a crítica literária daquele tempo era uma atividade de alto
risco."
Trabalhou na função durante 24 anos e se orgulhava, por
exemplo, de ter escrito o primeiro artigo analítico sobre a obra de João Cabral
de Melo Neto. "Ele não sabia disso. Foi Drummond quem o informou."
Com o tempo, a função de resenhista foi gradativamente
assumida pelos teóricos de universidade, que preferiam não correr risco.
"Eles escreviam apenas sobre escritores já mortos, com a obra consolidada,
o que evitava julgamentos apressados se fosse o caso de autores ainda
vivos."
Para ele, a crítica era essencialmente exercida por
teóricos universitários. Candido dizia conhecer a maioria, pois foram seus
alunos, formando a "paróquia", como gosta de ironizar. "Admiro
muito as novas gerações de críticos, todos muito eruditos", comentou,
citando Roberto Schwarz e José Miguel Wisnik, entre outros.
Exibindo uma disposição invejável, a que atribui à boa
genética, Antonio Candido reclamou, no entanto, de fazer o trajeto entre São
Paulo e Paraty. "Isso me ensinou que não posso mais viajar de carro."
Também lembrou que vivia "encalhado" no passado, pois ainda utilizava
uma máquina de escrever, dispensando computador, celular e outros produtos da
modernidade. Também desconhecia o que se produz atualmente na literatura,
preferindo a releitura de clássicos. "Faz 20 anos que não leio nada de
novo. Prefiro Dostoievski, Proust, Eça de Queiroz."
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