quinta-feira, 6 de abril de 2017

TSE faz teatro sem prazo para sair de cartaz



TSE faz teatro sem prazo para sair de cartaz

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho


Becas negras com adornos vermelhos combinando com o cenário ao fundo, tudo fazia lembrar um teatro do absurdo, jogo de cena de cartas marcadas para não se chegar nunca ao final do espetáculo.

Afinal, a esta altura da temporada, a cassação da chapa Dilma-Temer não interessa mais a ninguém, nem ao PSDB, que deu início ao processo, com quatro ações por abuso de poder econômico no Tribunal Superior Eleitoral, logo após a sua derrota em 2014.

Temer só pensa em chegar ao final do mandato, Dilma não quer perder seus direitos políticos e os sete ministros do TSE, com transmissão de TV ao vivo, não têm a menor pressa em sair de cena.

Pela amostra do primeiro dia de julgamento, que foi suspenso duas horas depois de começar, este teatro pode continuar em cartaz até a campanha eleitoral de 2018, ou seja, não servirá para nada.

O espetáculo jurídico dará uma parada em abril porque Gilmar Mendes, presidente do TSE e conselheiro informal de Michel Temer, vai passar o mês viajando.

Nesta quinta-feira, Gilmar vai para Boston, nos Estados Unidos; em seguida, viaja para Portugal e de lá emenda até Paris para acompanhar as eleições presidenciais na França. Tudo muito chique.

O Brasil que espere. Como o superministro é, ao mesmo tempo, diretor de cena, roteirista e protagonista da peça, nada vai acontecer na sua ausência.

Se não houver imprevistos, o julgamento só será retomado em maio, quando dois dos ministros do TSE já tiverem sido substituídos por outros mais simpáticos ao Palácio do Planalto.

Para começo de conversa, a maioria decidiu dar mais cinco dias de prazo para as alegações finais dos advogados de Dilma e Temer, e reabrir a oitiva de testemunhas indicadas pelas defesas e pelo Ministério Público.

Embora o maior interessado em empurrar esta decisão para as calendas seja o presidente Michel Temer, quem pediu mais cinco dias de prazo para as alegações finais foi Flávio Caetano, o advogado de Dilma Rousseff.

Nervoso, confuso e prolixo, embora seja contra a "procrastinação" dos trabalhos, como repetiu várias vezes, o ministro relator Herman Benjamim deu início ao debate ao propor um prazo menor e menos testemunhas: "Se não, vamos querer ouvir Adão e Eva e a serpente". Foi derrotado.

Houve momentos de bate-bocas mais acalorados, que lembraram as antigas mesas redondas de futebol nas noites de domingo na TV, mas no final todos trocaram elogios mútuos e se parabenizaram pelos trabalhos.

Termos como "aije" (ação de investigação judicial eleitoral) e "aime" (ação de impugnação de mandato eletivo) eram usados à vontade em lugar de pênalti ou impedimento numa linguagem própria que só eles entendem.

Quando o ministro Napoleão Maia soltou a mesóclise "ouvi-lo-á", todos riram, quebrando um pouco a solenidade das intermináveis citações de leis, artigos e parágrafos.

Parecia tudo muito bem ensaiado, com alguns improvisos eruditos de Gilmar Mendes, sempre ele, que a qualquer momento cortava sem dó a fala de outros ministros para dar seus pareceres jurisprudenciais.

Trinta meses após o início do processo, o teatro montado no TSE estava começando a decidir o destino da nossa República.

Vida que segue.

Foto mayconarmagedom.blogspot.com

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