terça-feira, 4 de abril de 2017

Filme chapa branca, com verba pública


Foto: Ana Maria Lima/Divulgação

Do Blog de Marcelo Auler no GGN

Filme chapa branca, com verba pública

Marcelo Auler

Oficialmente, o filme “Polícia Federal, A Lei é Para Todos” tem financiamento privado, de investidores cujo produtor, Tomislav Blazic, evita revelar. Na prática, a equipe que está produzindo para o cinema a versão oficial das primeiras 24 Fases da Operação Lava Jato, contou até com verba pública, ainda que não oficialmente. Viaturas descaracterizadas e agentes da Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Estado do Paraná se deslocaram, durante o último carnaval, ao estado de São Paulo para colaborarem nas filmagens, segundo informações que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) divulgará nesta terça-feira (04/04) na Câmara dos Deputados, ao encaminhar novo pedido de informações e providências ao Ministério da Justiça. Além de contar com homens da Superintendência que, com seus familiares, fizeram “pontas” nas encenações, a produção do filme recebeu apoio de outras formas. Para filmar dentro do prédio do DPF em Curitiba, os trabalhos foram suspensos no dia 18 e 19 de novembro passado, uma sexta-feira e um sábado, inclusive para entrega de passaportes. Elas perduraram até o domingo (20/11).


No ofício a Moro, Igor diz que não repassou o filme. Mas o repórter da Veja diz que o assistiu.

Quem mentiu? - Em ofício ao juiz Sérgio Moro, datado de 27 de março, o delegado Igor Romário de Paula, coordenador da  Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR), garantiu que “não foram cedidas quaisquer imagens, sejam elas fotografias ou vídeos, relacionadas à ação policial decorrente da 24ª Fase da Operação Lava Jato a qualquer pessoa, empresa ou veículo de comunicação por parte da Polícia Federal“. Disse ainda que, “em momento algum as imagens realizadas naquela data foram fornecidas a terceiros, sendo anexadas ao processo eletrônico correspondente somente imagens do depoimento realizado e posteriormente degravado“.

Onze dias antes, o repórter da revista Veja, Ulisses Campbell, ao entrevistar Blazic na TV Veja (veja integra abaixo) não escondeu seu acesso à filmagem da condução coercitiva de Luís Inácio Lula da Silva, em março de 2016, como descreveu detalhes da reação do ex-presidente e de sua mulher, Marisa Letícia, para enfim perguntar como essas cenas, “filmadas sem qualquer filtragem”, serão tratadas no filme? O produtor nem sequer negou que tenha tido acesso ao filme, apenas explicou a necessidade de corte:

“A gente vai procurar buscar toda essa realidade, sem dúvida nenhuma. Não sei te dizer se ela toda vai estar ali, porque hoje, o filme, já estamos com 2 horas e 10 minutos de filme, não é? É longo, o cinema nacional não tem esse padrão“. (sic)

Ao autorizar a condução coercitiva de Lula, mesmo sem ele jamais ter sido intimado a depor e nunca ter se recusado a prestar esclarecimentos, o juiz Moro determinou expressamente a proibição de qualquer filmagem:

“Expeça-se quanto a ele mandado de condução coercitiva, consignando o número deste feito, a qualificação e o respectivo endereço extraído da representação. Consigne-se no mandado que NÃO deve ser utilizada algema e NÃO deve, em hipótese alguma, ser filmado ou, tanto quanto possível, permitida a filmagem do deslocamento do ex-presidente para a colheita do depoimento”.


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