Por Luis Nassif no GGN
A Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, traz uma
comprovação básica: o nível de emburrecimento nacional é invencível. O senso
comum definitivamente se impôs nas discussões públicas. E não se trata apenas
da atoarda que vem do Twitter e das redes sociais. O assustador é que órgãos
centrais da República – como o Ministério Público, a Polícia Federal, o
Judiciário – tornaram-se reféns do primarismo analítico.
Como é possível que concursos disputadíssimos tenham
resultado em corporações tão obtusamente desinformadas, a ponto de não ter a
menor sensibilidade para o chamado interesse nacional. Não estou julgando
individualmente delegados ou procuradores. Conheço alguns de alto nível. Me
refiro ao comportamento dessas forças enquanto corporação.
Tome-se o caso da Operação Carne Fraca.
A denúncia chegou há dois anos na ABIN (Agência
Brasileira de Inteligência). O delator informou que a Secretaria de Vigilância
Sanitária no Paraná tinha sido loteada para o PMDB. Levantaram-se provas de
ilícitos em alguns frigoríficos.
Por outro lado, há uma guerra fitossanitária em nível
global, em torno das exportações de alimentos. Se os delegados da Carne Seca
não fossem tão obtusos, avaliariam as consequências desse bate-bumbo e
tratariam de atuar reservadamente, desmantelando a quadrilha, prendendo os
culpados.
Mas, não. O bate-bumbo criou uma enorme vulnerabilidade
para toda a carne exportada pelo país. Os anos de esforços gerais para livrar o
país da aftosa, conquistar novos mercados, abrir espaço para as exportações
ficaram comprometidos pelo exibicionismo irresponsável desse pessoal.
Ou seja, havia duas formas de se atingir os mesmos
resultados:
1. Uma
investigação rápida, discreta e sigilosa.
2. O
bate-bumbo de criar a maior operação da história, afim de satisfazer os jogos
de poder interno da PF.
As duas levariam ao mesmo resultado e a primeira
impediria o país de ter prejuízos gigantescos, que pudessem afetar a vida de
milhares de fornecedores, o emprego de milhares de trabalhadores, a receita
fiscal dos impostos que deixarão de ser pagos pela redução das vendas – e que
garantem o salário do Brasil improdutivo, de procuradores e delegados.
Qual das duas estratégias seria mais benéfica para o
país? A primeira, evidentemente.
No entanto, o pensamento monofásico que acomete o país,
não apenas entre palpiteiros de rede social, mas entre delegados de polícia,
procuradores da República, jornalistas imbecilizados é resumido na frase-padrão
de Twitter: se você está criticando a Carne Fraca, então você é a favor de
vender carne podre.
Podre se tornou a inteligência nacional quando perdeu o
controle de duas corporações de Estado – MPF e PF – permitindo que fossem
subjugadas pelo senso comum mais comezinho. E criou uma geração pusilânime de
donos de veículos de mídia, incapazes de trazer um mínimo de racionalidade a
essa barafunda, permitindo o desmonte do país pela incapacidade de afrontar o
senso comum de seus leitores.
Veja bem, não se está falando de capacidade analítica
de entender os jogos internacionais de poder, a geopolítica, o interesse
nacional, as sutilezas dos sistemas de apoio às empresas nacionais. A questão
em jogo é muito mais simples: é saber discernir entre uma operação discreta e
outra que afeta a imagem do Brasil no comércio mundial.
No entanto, essa imbecilidade, de que a destruição das
empresas brasileiras contaminadas pela corrupção, permitirá que viceje uma
economia mais saudável, é recorrente nesse reino dos imbecis. E se descobre que
a estultice da massa é compartilhada até por altos funcionários públicos,
regiamente remunerados, que se vangloriam de cursos e mais cursos aqui e no
exterior. O sujeito diz asneiras desse naipe com ar de sábio, reflexivo. E é
saudado por um zurrar unânime da mídia.
Discuti muito com uma antiga amiga, quando mostrava os
impactos dessas ações nos chamados interesses nacionais e via mão externa, e
ela rebatia com conhecimento de causa: não são conspiradores, são primários.
Imbecil é o país que se desarma completamente,
Judiciário, mídia, organizações que se jactam de ter Escolas de Magistratura,
de Ministério Público, de Polícia Federal e o escambau, permitindo mergulhar na
mais completa ignorância institucional.
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