Por Luis Nassif
Peça 1 – o fator Alexandre de Moraes
Analise-se, primeiro, a ficha de Alexandre de
Moraes:
1. Suspeitas de captar
clientes entre grupos beneficiados por ele enquanto Secretário de Administração
da gestão Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo.
2. Estimulador da violência
inaudita da PM paulista contra estudantes secundários, inclusive permitindo o
trabalho de grupos de P2 contra adolescentes.
3. Autor de um plano de
segurança condenado unanimemente por todos os especialistas no tema.
4. Acusação de plágio em
suas obras e uma resposta ridícula, na sabatina do Senado: a de que
manifestações em sentenças de Tribunais superiores (no caso, da Espanha) não
contempla direito autoral. Ora, ele copiou as manifestações sem aspas – isto é,
apropriou-se do texto copiado.
5. Nenhuma dúvida sobre a
parcialidade com que irá se conduzir no Supremo Tribunal Federal (STF).
O que explicaria, então, a quantidade de apoios que
recebeu de entidades e juristas, quase tão expressivo quanto as manifestações
de indignação.
Peça 2 - os apoios a Alexandre de
Moraes
O que o Conselho Nacional de Procuradores Gerais do
Ministério Público dos Estados, a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), o
Ministro Celso de Mello, o diretor da Escola de Direito da FGV-SP Oscar
Vilhena, a OAB nacional, a Associação dos Juízes Federais (AFUFE), a Associação
Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Gilmar Mendes, o procurador
Carlos Fernando dos Santos Lima e a Procuradoria Geral da República (PGR) tem
em comum, a ponto de hipotecar apoio à indicação de Moraes?
1. São radicalmente
antipetistas e tiveram papel no movimento de deposioção de Dilma Rousseff.
2. Compõem uma frente
informal de apoio ao PSDB.
O apoio dado à indicação de Alexandre de Moraes
inaugura o segundo ciclo da Lava Jato, de partidarização maior ainda do
Judiciário, que será a grande marreta sobre a cabeça do lulismo.
Entra-se, agora, no segundo tempo do golpe, com a
tentativa de institucionalização do protagonismo
do Judiciário e do ataque final à
candidatura de Lula em 2018
Peça 3 – como será o segundo tempo
As características do segundo tempo estão dadas.
Em breve, haverá a explosão das delações da
Odebrecht, de alto impacto, mas sem foco definido devido à extensão das
denúncias. Durante algumas semanas se ouvirão os ecos da bomba. Depois,
volta-se ao dia a dia da Lava Jato.
O fluxo de fatos e factoides surgirá de dois
centros: o TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4aRegião), julgando as
sentenças de Sérgio Moro; e o Supremo Tribunal Federal (STF), analisando as
denúncias de Rodrigo Janot.
No inferno, os réus sem prerrogativa de foro; no
purgatório, alguns caciques do PMDB; no paraíso, o PSDB.
Com a garantia do voto de Alexandre de Moraes pela
prisão após a confirmação de sentença em 2ainstância, e sabendo-se
de antemão do posicionamento político dos desembargadores, se terá a cada
semana uma prisão nova a ser celebrada.
Já o ritmo das denúncias dos políticos com foro
privilegiado dependerá exclusivamente da PGR que já demonstrou à farta seu
jogo, cuidando de asfaltar as estradas que o levam ao PSDB ao indicar como
vice-procurador José Bonifácio Borges de Andrada, umbilicalmente ligado ao PSDB
de Aécio Neves.
Janot é todo-poderoso, porque suas armas são
fundamentalmente subjetivas – isto é, dependem exclusivamente de sua vontade.
Bastará acelerar as ações contra o PMDB e segurar
as denúncias contra o PSDB para promover a cristianização final do PMDB (de
Cristiano Machado, candidato a presidente abandonado por seus
correligionários). Ou basta produzir uma denúncia inepta para assegurar a
blindagem do réu.
Tem-se, então, todos os pontos críticos sob
controle:
1. Na PGR, Janot e
Bonifácio.
2. No Supremo, Gilmar,
Toffoli, Alexandre, Barroso.
3. No Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), Gilmar, possivelmente Alexandre e novos Ministros nomeados por
Temer.
4. No Ministério da
Justiça, alguém da confiança de Temer.
5. Na PGR e na Polícia
Federal, uma frente política cerrada contra o PT.
Peça 4 – a força tarefa da Lava Jato
A força tarefa da Lava Jato – juiz, procuradores e
delegados – praticamente dá seu trabalho por encerrado. Agora, é apenas
aguardar a confirmação das sentenças de Sérgio Moro e correr para o abraço.
Como profissionais aplicados, em todo caso,
deixaram lotadas as estantes das delações, permitindo boa margem de manobra
para a PGR. E continuarão trabalhando incessantemente para encontrar algo que
inviabilizar a candidatura de Lula.
Peça 5 – a dificuldade do jogo de
cena
Aí se entra em um terreno complexo: como
administrar a malta, a opinião pública sedenta de sangue?
Na bomba Odebrecht, o sistema Globo e os jornalões
certamente focalizarão preferencialmente no PT e no PMDB. Mas não haverá
como esconder os malfeitos dos tucanos.
O jogo do PGR e da mídia é fundamentalmente
hipócrita. Mas não há hipocrisia que resista à luz do sol. A cada dia que
passa, mais nítido fica a parcialidade da mídia e de Janot. A recuperação de
parte da popularidade de Lula é a prova mais significativa.
Com as revelações da Odebrecht, o leão se
contentará apenas com a carne de petistas ou irá querer carne nova?
A cada dia que passa, novos veículos vêm se somar
aos trabalhos pioneiros dos blogs, aplicando um dos princípios básicos do
jornalismo: revelar o lado oculto da notícia. Há tempos a imprensa
internacional rompeu a dependência dos órgãos de imprensa nacionais. É BBC, El
Pais, Washington Post, New York Times, Guardian, todos de olho em um jogo de
cartas marcadas.
Quanto tempo a hipocrisia nacional resistirá a essa
devassa?
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