Cientista político
Jessé Souza: '[Estamos] enfrentando um inimigo de altíssimas proporções [que]
se põe de uma forma internacional'
Por Luis Nassif
do GGN
Michel Temer já está no poder há mais de seis meses e a
crise política não foi estancada. Analistas, sejam eles economistas, cientistas
políticos ou da própria imprensa nem mais arriscam prever o futuro próximo da
frágil democracia brasileira.
A instabilidade política é um fenômeno que tem se
espalhado não só no Brasil, mas em todos os países nos últimos anos. Se por um
lado é difícil prever onde os dados lançados pelos jogadores mais influentes do
sistema político-econômico irão levar as populações de cada país, por outro, é
possível compreender no exemplo brasileiro os interesses por trás da mudança
abrupta no poder, e que levou ao afastamento da presidente Dilma. E um dos
principais pensadores desse tema hoje no país é o professor da Universidade
Federal de Brasília (UnB), Jessé Souza, autor de dois sucessos literários
publicados nos últimos anos, "A tolice da inteligência brasileira"
(2015) e "A radiografia do Golpe" (2016).
Em entrevista para Luis Nassif, do Jornal GGN, Jessé
esclarece os motivos do desequilíbrio causador da pior crise financeira já
enfrentada no país hoje: a inabilidade do grupo que assumiu o poder, através do
golpe, de construir uma narrativa coerente com o que prometeu à sociedade, ou
seja, de que era necessário derrubar um governo incompetente, em termos de
gestão, para colocar o país nos trilhos, revelando que o único interesse real
era retomar o poder, pelo poder, incentivados por interesses norte-americanos
e, de forma mais abrangente, pelo capitalismo mundial.
O mais interessante, pontua Jessé, é que as elites
nacionais podem até pensar, num primeiro momento, que saíram ganhando com o
investimento que fizeram na crise política que alterou o governo, mas agora,
sem capacidade de tirar o país da tempestade, correm sérios riscos de serem
devoradas pela massa sedenta por “justiça” contra a corrupção que ajudaram a
criar.
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