Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966. - 61.
Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a
morte!
O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!
Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor
és tu também.
Onde nada está tu habitas e onde tudo estás — (o teu
templo) — eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma para te amar.
Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra,
ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu.
Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem
folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos.
Faz com que eu saiba amar os outros como irmãos e
servir-te como a um pai.
[...]
Minha vida seja digna da tua presença.
Meu corpo seja digno da terra, tua cama.
Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho
que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar
em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e
torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e
adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim.
1912?
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