Por Josias de Souza em seu Blog
Rodrigo Maia está a caminho de se tornar uma
unanimidade entre os seus pares. Até os poucos adversários políticos elogiam
seu desempenho como presidente-tampão da Câmara. Mas o deputado leva uma enorme
desvantagem em relação ao antecessor. Eduardo Cunha, como um clássico herói
nietzschiano, assumia sua vilania. Maia, ao contrário, flerta com a anistia
para o crime de caixa dois sem assumir a perversidade contra o bom senso e a
mais elementar noção de ética.
O debate sobre a anistia, que já era um escândalo, foi
transformado por Maia num insulto. Questionado sobre o tema, o deputado
atribuiu a culpa aos brasileiros que endossaram o pacote embrulhado pelos
procuradores da Lava Jato, contendo as dez medidas contra a corrupção.
“Não fomos nós que colocamos [o tema], mas os 2 milhões
de brasileiros que apoiaram a proposta [dos procuradores]”, disse Maia. “Eles é
que colocaram a criminalização em debate. E nós devemos debater a matéria. Este
e todos os outros pontos que estão no projeto.”
Para Maia, é natural que, diante da levantada de bola
dos brasileiros, os deputados discutam a autoanistia. A única dúvida é quanto à
forma. Vale a pena escutar o presidente da Câmara: “Tem quem diga que só votar
o texto que veio da sociedade já separa o presente do passado, tem gente que
diz que não.”
O que Maia afirmou, com outras palavras, foi o
seguinte: “Falta apenas decidir se a desfaçatez será subentendida ou
escrachada, com a aprovação de uma emenda que deixe ainda mais explícito tudo o
que já está na cara.”
Escondido atrás de sua pseudo-neutralidade, Maia evita
revelar sua preferência. “O importante é que a gente vote a matéria na comissão
e depois no plenário. O texto que a comissão e o plenário vão aprovar é o texto
da maioria. Então, a maioria tem que se colocar e ver qual o texto que quer
aprovar.”
Não ocorreu a Rodrigo Maia dizer “quem sabe a gente
evita pautar a anistia” ou “não vamos cutucar a opinião pública com vara curta”
ou talvez um pragmático “cuidado, gente, o autoperdão numa hora dessas, depois
que a casa da Odebrecht caiu, pode pegar muito mal…”.
É preferível um presidente da Câmara que se comporte
como um vilão convicto, afrontando a opinião comum, do que um personagem que
ofende a inteligência alheia com sua falsa imparcialidade. Ao eleger os
brasileiros como cúmplices da anistia, Maia expõe não uma debilidade pessoal,
mas a insensibilidade de um sistema político apodrecido.
Eleito pelo Rio de Janeiro, Maia talvez devesse
proporcionar a si mesmo um teste. Sugere-se que compareça à Central do Brasil
em horário de grande movimento. Ali, do alto de um caixote, deve peguntar em
voz alta o que os transeuntes acham da ideia de perdoar os políticos que
receberam dinheiro por baixo da mesa. É aconselhável que comece a correr quando
ouvir algo assim: “Vai à…”
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