quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Lula não negociou cargo, não pediu propina nem sabia de esquema na Petrobras, diz Cerveró

Beba da fonte -  ouça os depoimentos dos delatores

O depoimento do ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Ceveró, ao juiz Sergio Moro, nesta quarta (24), frustrou o Ministério Público Federal na ação em que Lula é acusado de receber propina da OAS na forma de um triplex, entre outras vantagens indevidas. Isso porque Cerveró, um dos principais delatores da Lava Jato, negou que Lula tenha negociado cargo, pedido ou recebido recursos desviados dos cofres públicos ou mesmo que tinha conhecimento do "esquema" na estatal.

Aos 12 minutos, uma procuradora da República pergunta a Cerveró qual o papel de Lula em sua nomeação para a diretoria Internacional durante o primeiro mandato do petista. Cerveró contou que foi patrocinado por um governador do Mato Grosso, o Zeca do PT, mas que, na prática, respondia "especificamente" ao senador cassado Delcídio do Amaral, com quem trabalhou na Petrobras desde os anos FHC.

Segundo Cerveró, quem negociava cargos na Petrobras com partidos aliados, durante o governo Lula, era o ex-ministro José Dirceu, e não o ex-presidente. O MPF alega que Lula tinha participação direta nessas escolhas e sabia da função "arrecadatória" das diretorias.

"Meu vínculo era com o PT, particularmente o Delcídio. Mas houve enfraquecimento político de Delcídio [em meados de 2005, por conta do Mensalão]." Depois desse desgaste, o PMDB conseguiu barganhar o espaço Delcídio na estatal, e passou a dividir Cerveró.

Ele também reforçou que Delcídio entrou na Petrobras nos anos 1990 não indicado pelo PSDB, seu partido à época, mas pelo PMDB de "Geddel e Jader". Cerveró ainda reafirmou que Delcídio ´também cobrava propina em cima de contratos para construção de termelétricas na gestão FHC, embora o ex-senador tenha negado isso na frente do juiz Sergio Moro.

Por volta dos 21 minutos e 30 segundos do primeiro vídeo, a representante do MPF pergunta: "O então presidente da República, senhor Luis Inácio, sabia da utilização da diretoria para fazer essa distribuição de valores para partidos?", ao que Cerveró respondeu: "Eu não sei dizer. (...) Eu nunca tive nenhuma conversa privada sobre esse assunto com o presidente Lula. (...) Eu sabia que levariam essa informação, de que eu também esava sendo apoiado pelo PMDB no Senado, mas não me disseram nada sobre [ele sabia] quanto eu deveria contribuir."

ABREU E LIMA

Aos 24 minutos, a Procuradoria aborda um trecho da delação premiada em que Cerveró fala que Lula influenciava na política de desenvolvimento da Petrobras e teria, portanto, acompanhado de perto a obra da refinaria de Abreu e Lima.

Segundo o MPF, três contratos envolvendo esta e a refinaria Getúlio Vargas, que somariam R$ 87 milhões em desvios, seriam o objeto da acusação contra Lula. A Lava Jato sustenta que o ex-presidente recebeu, em contrapartida a essas obras, um apartamento triplex no Guarujá, cerca de R$ 1 milhão despendidos na manutenção do acervo presidencial, além de "governabilidade" - pois o esquema na Petrobras garantiu apoio na Câmara e Senado.

Cerveró disse que Lula tinha um acordo com o então governador Jarbas Vasconcellos para que a refinaria fosse construída em Pernambuco. Ele negou que Lula tenha influenciado diretamente em qualquer contrato executado pela diretoria Internacional. Disse que teve "todo apoio" para levar a Petrobras a atuar em 26 países.

BR DISTRIBUIDORA

Sobre a BR distribuidora, o MPF quis saber se Cerveró teve apadrinhamento político.

A partir dos 7 minutos do vídeo abaixo, Cerveró disse que soube que teve uma reunião em que Lula teria dito que era impossível mantê-lo na Petrobras porque o PMDB estava obstruindo a pauta na Câmara, de olho na diretoria Internacional.

"No relato de José Eduardo Dutra [ex-diretor da Petrobras] a mim, Lula teria dito: 'Como fica o Nestor?' Nessa época, a diretoria financeira da BR estava sem titular. Dutra informou (...) que Lula disse que 'se o Nestor estivesse de acordo, seria nomeado'.

"A delação de Fernando Baiano diz que José Carlos Bumlai teria procurado Michel Temer para evitar que Cerveró perdesse o cargo na Petrobras. Esse favor estaria ligado à ajuda de Cerveró para quitar uma dívida do PT, de 2006, com o Banco Schahin, através da contratação do grupo para atuar na Petrobras. Cerveró diz que fez a contratação do Schahin porque José Sergio Gabrielli pediu para ele resolver essa dívida de cerca de R$ 15 milhões.

DELCÍDIO

No último vídeo, em que Moro começa a fazer perguntas a Cerveró, o delator admite que pagou 2,5 milhões de dólares "em várias vezes" ao ex-senador Delcídio do Amaral. A propina seria para quitar dívida da campanha de 2006, quando ele foi candidato ao governo de Mato Grosso do Sul.

Diante de Moro, Cerveró esclarece que Delcídio tinha preocupação em não ser citado na Lava Jato e que não sabia da participação de Lula num esquema para evitar uma delação. Na visão dele, seu advogado, Edson Ribeiro, recebia dinheiro de Delcídio para evitar qualquer acordo com o MPF.

À defesa de Lula, Cerveró falou que o programa que FHC criou para tentar evitar um apagão foi o que viabilizou negociações de propina entre agentes da Petrobras e empresas interessadas em construir as termelétricas.

Sobre o triplex, Cerveró não tinha informações além do que viu na grande mídia.

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