Beba da fonte - ouça os depoimentos dos delatores
O depoimento do ex-diretor da área Internacional da
Petrobras, Nestor Ceveró, ao juiz Sergio Moro, nesta quarta (24), frustrou o
Ministério Público Federal na ação em que Lula é acusado de receber propina da
OAS na forma de um triplex, entre outras vantagens indevidas. Isso porque
Cerveró, um dos principais delatores da Lava Jato, negou que Lula tenha
negociado cargo, pedido ou recebido recursos desviados dos cofres públicos ou
mesmo que tinha conhecimento do "esquema" na estatal.
Aos 12 minutos, uma procuradora da República pergunta a
Cerveró qual o papel de Lula em sua nomeação para a diretoria Internacional
durante o primeiro mandato do petista. Cerveró contou que foi patrocinado por
um governador do Mato Grosso, o Zeca do PT, mas que, na prática, respondia
"especificamente" ao senador cassado Delcídio do Amaral, com quem
trabalhou na Petrobras desde os anos FHC.
Segundo Cerveró, quem negociava cargos na Petrobras com
partidos aliados, durante o governo Lula, era o ex-ministro José Dirceu, e não
o ex-presidente. O MPF alega que Lula tinha participação direta nessas escolhas
e sabia da função "arrecadatória" das diretorias.
"Meu vínculo era com o PT, particularmente o
Delcídio. Mas houve enfraquecimento político de Delcídio [em meados de 2005,
por conta do Mensalão]." Depois desse desgaste, o PMDB conseguiu barganhar
o espaço Delcídio na estatal, e passou a dividir Cerveró.
Ele também reforçou que Delcídio entrou na Petrobras
nos anos 1990 não indicado pelo PSDB, seu partido à época, mas pelo PMDB de
"Geddel e Jader". Cerveró ainda reafirmou que Delcídio ´também
cobrava propina em cima de contratos para construção de termelétricas na gestão
FHC, embora o ex-senador tenha negado isso na frente do juiz Sergio Moro.
Por volta dos 21 minutos e 30 segundos do primeiro
vídeo, a representante do MPF pergunta: "O então presidente da República,
senhor Luis Inácio, sabia da utilização da diretoria para fazer essa
distribuição de valores para partidos?", ao que Cerveró respondeu:
"Eu não sei dizer. (...) Eu nunca tive nenhuma conversa privada sobre esse
assunto com o presidente Lula. (...) Eu sabia que levariam essa informação, de
que eu também esava sendo apoiado pelo PMDB no Senado, mas não me disseram nada
sobre [ele sabia] quanto eu deveria contribuir."
ABREU E LIMA
Aos 24 minutos, a Procuradoria aborda um trecho da
delação premiada em que Cerveró fala que Lula influenciava na política de
desenvolvimento da Petrobras e teria, portanto, acompanhado de perto a obra da
refinaria de Abreu e Lima.
Segundo o MPF, três contratos envolvendo esta e a
refinaria Getúlio Vargas, que somariam R$ 87 milhões em desvios, seriam o
objeto da acusação contra Lula. A Lava Jato sustenta que o ex-presidente
recebeu, em contrapartida a essas obras, um apartamento triplex no Guarujá,
cerca de R$ 1 milhão despendidos na manutenção do acervo presidencial, além de
"governabilidade" - pois o esquema na Petrobras garantiu apoio na
Câmara e Senado.
Cerveró disse que Lula tinha um acordo com o então
governador Jarbas Vasconcellos para que a refinaria fosse construída em
Pernambuco. Ele negou que Lula tenha influenciado diretamente em qualquer
contrato executado pela diretoria Internacional. Disse que teve "todo
apoio" para levar a Petrobras a atuar em 26 países.
BR DISTRIBUIDORA
Sobre a BR distribuidora, o MPF quis saber se Cerveró
teve apadrinhamento político.
A partir dos 7 minutos do vídeo abaixo, Cerveró disse
que soube que teve uma reunião em que Lula teria dito que era impossível
mantê-lo na Petrobras porque o PMDB estava obstruindo a pauta na Câmara, de
olho na diretoria Internacional.
"No relato de José Eduardo Dutra [ex-diretor da
Petrobras] a mim, Lula teria dito: 'Como fica o Nestor?' Nessa época, a
diretoria financeira da BR estava sem titular. Dutra informou (...) que Lula
disse que 'se o Nestor estivesse de acordo, seria nomeado'.
"A delação de Fernando Baiano diz que José Carlos Bumlai
teria procurado Michel Temer para evitar que Cerveró perdesse o cargo na
Petrobras. Esse favor estaria ligado à ajuda de Cerveró para quitar uma dívida
do PT, de 2006, com o Banco Schahin, através da contratação do grupo para atuar
na Petrobras. Cerveró diz que fez a contratação do Schahin porque José Sergio
Gabrielli pediu para ele resolver essa dívida de cerca de R$ 15 milhões.
DELCÍDIO
No último vídeo, em que Moro começa a fazer perguntas a
Cerveró, o delator admite que pagou 2,5 milhões de dólares "em várias
vezes" ao ex-senador Delcídio do Amaral. A propina seria para quitar
dívida da campanha de 2006, quando ele foi candidato ao governo de Mato Grosso
do Sul.
Diante de Moro, Cerveró esclarece que Delcídio tinha
preocupação em não ser citado na Lava Jato e que não sabia da participação de
Lula num esquema para evitar uma delação. Na visão dele, seu advogado, Edson
Ribeiro, recebia dinheiro de Delcídio para evitar qualquer acordo com o MPF.
À defesa de Lula, Cerveró falou que o programa que FHC
criou para tentar evitar um apagão foi o que viabilizou negociações de propina
entre agentes da Petrobras e empresas interessadas em construir as
termelétricas.
Sobre o triplex, Cerveró não tinha informações além do
que viu na grande mídia.
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