Foto Priscila
Loch
O Jornal Notisul de hoje, traz uma entrevista de Priscila Loch com o Prefeito eleito de
Imbituba Rosenvaldo Junior (PT). Chama a atenção duas questões:
- primeiro uma proximidade inquietante com a administração
do PSDB de Jaison, inclusive durante a campanha como mesmo diz o Prefeito
eleito, “durante a campanha, tivemos contato com pessoas de dentro da prefeitura
para levantamento de dados, de receitas, de custos”.
- segundo, o culto à personalidade assumida publicamente.
Quando perguntado se ele não teve medo de que a situação do PT em nível
nacional interferisse negativamente no resultado municipal, respondeu ... “O
que mostramos na campanha é que, acima dos partidos, estão as pessoas e quem
vai administrar não é o partido, é uma pessoa, é o Rosenvaldo Júnior”...
É lamentável alçando-se à categoria de semideus Rosenvaldo, eleito pelo PT, não tenha a consciência
que os partidos são instrumento da transformação social, da construção de uma
sociedade (dos trabalhadores, dos estudantes, dos intelectuais, dos movimentos
religiosos, das mulheres, dos negros, dos Gays e de muitos daqueles que lutavam
por uma sociedade mais justa!.
O Prefeito eleito cultuando a personalidade rompe a
luta daqueles que defendem a
democratização das decisões políticas, desvaloriza o debate político e
despolitiza os conflitos políticos sociais.
Leia a entrevista na integra:
“Há uma grande vantagem em relação a outros municípios”
Priscila Loch
Tubarão
Tudo indica
que o prefeito eleito de Imbituba Rosenvaldo Júnior (PT) não terá problemas
para acessar todas as informações necessárias para iniciar o seu mandato, em
janeiro de 2017. Além da transição amigável e tranquila, a atual gestão deve
deixar as contas em dia, e isso é um grande diferencial em tempos de crise,
quando a maioria dos municípios está com a ‘corda no pescoço’.
Notisul -
Você tem dimensão da atual situação de Imbituba hoje?
Rosenvaldo
- Temos uma noção de como está a situação econômica da cidade e da prefeitura.
Durante a campanha, tivemos contato com pessoas de dentro da prefeitura para
levantamento de dados, de receitas, de custos. O atual prefeito, Jaison
Cardoso, já se reuniu conosco e com a sua equipe. Vivemos um momento bastante
maduro na política municipal e o Jaison tem se colocado dessa forma, bastante
aberto, abriu a prefeitura para a gente. Estamos montando oficialmente uma
equipe de transição. Temos tido bastante contato com a realidade financeira e
acredito que vamos poder começar o mandato sem uma quebra de continuidade, já
sabendo dos problemas que estão nos esperando.
Notisul -
São muitos os problemas?
Rosenvaldo
- Na verdade, acho que temos muito a investir na cidade, muitas coisas a serem
realizadas, mas do ponto de vista atual podemos dizer que a gestão vai deixar
as contas em dia. Isso é uma grande vantagem em relação a outros municípios que
vivem uma dificuldade para fechar as suas contas. O prefeito Jaison, pelo que
tem nos colocado, vai conseguir entregar a prefeitura com as contas fechadas,
sem grande poder de investimento e claro que essa crise que assola o país
afetou Imbituba também, afetou a arrecadação e se perdeu muito poder de
investimento. E, para podermos cumprir aquilo que pregamos em campanha, fazer
as obras que a população tanto precisa e tanto cobra, vamos ter que melhorar a
arrecadação, diminuir custos, reduzir o tamanho da máquina. É um trabalho que
vamos ter que fazer a partir de agora. Mas pelo menos o 13° vai estar pago, vai
estar tudo certinho, tudo em dia.
Notisul -
Que problemas terão que ser resolvidos já nos primeiros dias de mandato?
Rosenvaldo
- Algumas questões já estão sendo alinhavadas com a atual gestão. Coisas que
não podem parar. Por exemplo, na área da educação, tem a colônia de férias nas
creches, para as crianças que os pais trabalham no verão. Temos uma demanda
grande de postos de trabalho por causa do turismo, precisamos manter abertos
hotéis e pousadas. Já temos que definir agora para em janeiro não ter esse
problema de continuidade. Tem a questão do hospital, a qual temos que manter o
repasse, tem que manter medicações. Muitos dos convênios e licitações de
materiais que vamos precisar no início do ano estamos conversando para em
janeiro não ter falta, como medicação, combustível para os carros da prefeitura.
Esses são os primeiros passos que precisamos dar agora. Temos também a Festa
Nacional do Camarão, que tradicionalmente é feita nos meses de janeiro ou
fevereiro. Estamos conversando para ver se mantemos nessa data ou postergamos
um pouco. Se for mantida a data, provavelmente vai ter que ser feita essa
organização antes mesmo de assumirmos.
Notisul - A
transição tem ocorrido com tranquilidade? Que informações foram solicitadas à
atual gestão?
Rosenvaldo
- Está bastante tranquila, conversei com Jaison algumas vezes já e marcamos uma
agenda de transição, já montamos uma equipe. A nossa equipe tem o nosso
secretário de finanças conosco. Os primeiros documentos que solicitamos são
justamente sobre a questão orçamentária da prefeitura, para ficarmos a par do
tamanho de orçamento que teremos a partir de 2017. Tem várias obras que estão
em fase de conclusão ou estão paralisadas por causa de atrasos de repasses
estaduais e federais. Isso também está entre os problemas que vamos tentar
resolver já de início. O Jaison está bastante empenhado nisso, quer terminar as
obras que começou. Inclusive, foi a Brasília, já tentando resolver esses
atrasos para ver se consegue terminar as obras e entregar com esse problema a
menos. Apesar de termos sido uma candidatura de oposição à atual administração,
que já está há 12 anos - o Jaison foi sucessor do Beto Martins -, sempre
tivemos uma relação respeitosa, diálogo bastante aberto e até de cordialidade.
Isso facilita bastante e, como já disse, uma política madura é boa para o
município, porque quando o prefeito dificulta as informações para quem está
entrando ele está dificultando o trabalho para a comunidade.
Notisul -
No que você credita a vitória nas urnas, sendo que a chapa de oposição tinha
muito mais partidos coligados e nomes já bastante conhecidos do eleitor?
Rosenvaldo
- Por mais paradoxal que seja, talvez tenha sido isso, o fato de eles terem
juntado uma gama muito grande de partidos historicamente adversários. Num
momento em que nacionalmente as pessoas pregam por mudanças. Então, acho que
isso deixou muito o eleitor imbitubense com dúvida de qual o real motivo dessa
junção. O atual prefeito vem seguindo uma sequência de três mandatos do PSDB em
Imbituba e, com toda essa onda de mudança que vivemos no país - poucos foram os
prefeitos reeleitos -, talvez essa coligação tenha tido esse efeito contrário,
das pessoas votarem na mudança, na renovação. Por outro lado, nunca tive
mandato, é o meu primeiro. Sou um profissional da área da saúde, sou médico
cardiologista, e não represento o político tradicional. Talvez a minha imagem
de profissional que não é político tenha ajudado nesse sentimento de mudança,
de tentar uma administração que seja diferente, que olhe menos pela veia
política e mais pela veia administrativa, técnica, que é o que pregamos na
campanha.
Notisul -
Justamente por essa onda de mudança, não tivesse medo de que a situação do PT
em nível nacional interferisse negativamente no resultado municipal?
Rosenvaldo
- Claro que sim, e vamos dizer até que atrapalhou na nossa campanha. Muitas
vezes, tivemos esse questionamento ao longo da campanha, em debates, do
adversário e do próprio eleitor. O que mostramos na campanha é que, acima dos
partidos, estão as pessoas e quem vai administrar não é o partido, é uma pessoa,
é o Rosenvaldo Júnior, junto com o vice Zaga. Foi isso que tentei mostrar, que
sou um cara honesto, trabalhador, não tenho dívida nenhuma com a justiça. Foi
nisso que as pessoas acreditaram e esse trabalho vamos manter durante os
próximos quatro anos para que as pessoas depois possam acreditar que pode ser
diferente mesmo sendo do PT.
Notisul - O
que podemos esperar do seu mandato?
Rosenvaldo
- Tenho dito para as pessoas que podem esperar muito trabalho, muita dedicação
da minha parte, uma administração absolutamente transparente, com o máximo
cuidado e zelo ao dinheiro público, que é dinheiro nosso. Vamos economizar
naquilo que pode ser economizado, enxugar a máquina e, como eu disse, para
podermos ter investimento. Sabemos que temos que investir em saúde, em
educação, e todos os prefeitos sabem que o que a população cobra é uma saúde
melhor, melhor atendimento nos postos e hospital, educação de qualidade. Mas só
vamos conseguir isso se tivermos recursos para investir. Se não cuidarmos bem
da área administrativa, para fazer com que os recursos sejam investidos
realmente naquilo que precisa, não conseguiremos cumprir os nossos compromissos
de campanha. Então, pode-se esperar de mim bastante trabalho, bastante
honestidade, bastante cuidado no trato com o dinheiro e bastante
profissionalismo.
Notisul - O
fato de você ser médico pode contribuir para melhorias na saúde. Tem até uma
certa pressão dos eleitores. Que investimentos são possíveis e necessários?
Rosenvaldo
- Com certeza, o fato de eu ser médico traz uma responsabilidade muito maior
para mim nessa área, talvez a área mais crítica nas administrações municipais.
Sabemos que não vai ser possível resolver o problema da saúde em quatro anos e,
se nada mudar, nem em oito, nem em 20 anos. Temos que melhorar bastante, as
pessoas acreditaram e muitos votos que tivemos foi para melhorar a saúde. Vamos
ter que investir bastante nessa área, temos muito a melhorar em Imbituba em
duas questões: a nossa saúde básica, os nossos postos de saúde, em que o médico
está pouco presente. Temos que valorizar a categoria, conversar com os
profissionais da saúde para que possamos fazer com que os postos tenham
atendimento melhor. E para isso precisa de investimento, pois precisamos pagar
melhor o médico para ele poder estar no posto; e precisamos investir no nosso
hospital, o São Camilo, que faz o atendimento de Imbituba e da região, para
melhorar a qualidade de atendimento na emergência e para os pacientes
internados. É uma proposta de campanha nossa a luta de desenvolver no nosso município
uma UTI. Hoje, dependemos de Tubarão e todos sabem o quão difícil, quão
superlotada está. Está cada vez mais difícil para nós, a tendência é que cada
vez consigamos menos encaminhar os nossos pacientes para Tubarão. Já estivemos
inclusive em contato com o vice-governador, Eduardo Moreira, que é da nossa
região e vai assumir provavelmente em breve o governo do estado, e ele se
colocou bastante disposto a ajudar e a investir para podermos dentro do nosso
mandato efetivar a UTI em imbituba.
Notisul -
Você iniciou as conversas com lideranças, incluindo deputados e o
vice-governador, com o objetivo de já encaminhar pedidos por recursos para o
próximo ano. Alguma boa notícia nesse sentido?
Rosenvaldo
- Até o último dia 20, podíamos solicitar verbas para os municípios por meio de
emendas parlamentares. Já temos verbas garantidas dos deputados Décio Lima,
Pedro Uczai, do meu partido. O Zaga, meu vice, também fez contato com o Mauro
Mariani, Ronaldo Benedet e outros deputados federais do PMDB para garantir verbas
para investir na infraestrutura da cidade. Tem bastante coisa encaminhada e
vamos entrar em 2017 já com bastante recurso para investir em obras de creches,
postos de saúde, estradas e vamos conseguir já iniciar algumas obras.
Notisul -
De mãos limpas por Imbituba foi o slogan principal de sua campanha. O que isso
vai significar na prática?
Rosenvaldo
- Na prática, isso significa, como disse antes, maior cuidado com os gastos
públicos. Esse slogan fez parte da nossa campanha pelo fato de eu e o Zaga não
termos passado político e não termos nenhuma mácula junto à justiça. Não temos
processos na justiça e estamos absolutamente livres de qualquer questionamento
jurídico, com relação a corrupção. Assim queremos levar nossa administração.
Não há secretários anunciados, a não ser o secretário da fazenda, Jari
Dalbosco, ex-comandante da Polícia Militar, que foi o primeiro presidente e
fundados do Observatório Social de Imbituba. Fui recentemente a uma reunião com
o Observatório e fizemos o convite, justamente para mostrar esse nosso
interesse e desejo de mostrar nosso cuidado com o gasto público. Ele já está
participando do processo de transição.
Notisul -
Em seu plano de governo, foi proposto cobrir 30% do município com saneamento
durante os quatro anos de mandato. Como é possível tirar esse projeto do papel?
Rosenvaldo
- Essa é uma outra questão que temos que resolver já de início, a gestão da
água e o saneamento em Imbituba. Há alguns anos, o prefeito decidiu romper o
contrato com a Casan e municipalizou a gestão da água, acabou terceirizando e
hoje é uma outra empresa. Mas nesse período não houve nenhum investimento em
saneamento. O contrato é emergencial, que não previa isso, só que previa que
esse dinheiro pago pelo contribuinte fosse para um fundo municipal de
saneamento, para que o município pudesse investir. Mas hoje não tem dinheiro
algum nesse fundo. Temos que rever isso. Como está hoje não vamos conseguir
cumprir essa meta de 30% de saneamento. Estamos pensando em outras
alternativas. Tem processo de concessão que previa 30 anos, mas foi embargado
ou está em vista no Tribunal de Contas do Estado. Temos que ver se vamos
retomar isso ou vamos retomar com a Casan. Inclusive, já estivemos na Casan,
conversando com o presidente. A companhia está interessada em voltar para
Imbituba e, se isso ocorrer, há a previsão de investimento de R$ 60 milhões em
saneamento. Esse dinheiro praticamente já cumpriria nossa meta. Buscamos meios
para ter recursos para este investimento.
Notisul -
Na educação, de que forma se pode melhorar o atendimento?
Rosenvaldo
- Imbituba até evoluiu bastante nos últimos anos. O Ideb é prova disso, tivemos
bons resultados, com escolas que já atingiram a meta de 2024. Mas claro que
sempre temos a melhorar. Precisamos muito democratizar o nosso ensino, fazer
com que a classe educadora e a própria comunidade escolar possam nos ajudar a
gerir a educação. Por exemplo, com eleição para diretor de escola. Existe muita
influência política nessa escolha e isso mais atrapalha do que ajuda. Quem é da
comunidade escolar sabe quem é o melhor gestor. Temos que democratizar a
escolha de material didático, hoje é uma empresa que repassa e isso tem um
custo de R$ 1 milhão ao ano para os cofres públicos. Sabemos que tem material
do MEC disponível. Queremos discutir essa escolha com os professores, ver se
eles estão satisfeitos com o material didático, se vale a pena esse
investimento. Existe uma queixa grande dos nossos professores com relação ao
seu ganho salarial. Hoje, muitos só recebem o piso nacional dos professores
graças a abonos e penduricalhos na folha de pagamento, para poder atingir esse
valor, só que aí quando ele está de férias ou se aposenta perde isso e vai
refletir no futuro. Temos o compromisso com os professores de rever o Plano de
Cargos e Salários para podermos atingir nesses quatro anos o valor real do
piso.
Notisul - A
própria Lei de Responsabilidade Fiscal atrapalha de certa forma, pois prevê um
limite com gasto da folha.
Rosenvaldo
- Em Imbituba, esse gasto está em torno de 46% da receita corrente líquida e
não estamos no limite ainda, mas também não tem muito fôlego. É claro que sabemos
da necessidade de enxugar a folha, diminuir número de cargos comissionados. De
início, pretendemos diminuir pelo menos 20% dos cargos comissionados e
gratificados. É uma avaliação inicial e pode ser até que ultrapassemos um pouco
isso.
Notisul -
Nessa proposta de enxugamento, deve haver fusão de secretarias?
Rosenvaldo
- Temos a intenção de diminuir o número de secretarias e superintendências, de
remanejar algumas. Posteriormente, nossa ideia é criar a Fundação Municipal de
cultura, que pode captar recursos externos. Mas tudo isso depende da avaliação
do orçamento para cada área.
Notisul -
Imbituba, por ser uma cidade portuária, tem tráfego pesado e a mobilidade é um
tanto afetada. O seu plano também prevê investimentos nessa área, inclusive com
implantação de ciclovias...
Rosenvaldo
- Imbituba hoje já está com o acesso norte sendo pavimentado, está sendo
concretado. Estava péssimo. Já devo iniciar o governo com esse acesso
resolvido. Uma questão a ser resolvida é a ciclovia no acesso sul, que está inacabada,
após mais de um ano de obras. Jaison disse que está empenhado em resolver isso.
Nossa ideia é que possamos no centro da cidade, nos pontos turísticos,
desenvolver uma ciclofaixa, que possa também ser um atrativo turístico. Temos
que pensar de acordo com o tamanho do orçamento e das emendas parlamentares.
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