...”muito pouco adianta dar páginas e páginas de jornal sobre o
vereador de Cacimbinha do Norte que tirou duas diárias no lugar de uma só e
silenciar sobre a sonegação e a falcatrua das grandes empresas, que não raro
incluem as próprias empresas de comunicação”.
Por
Antônio Escosteguy Castro
Sul vinte 1 - foto folha uol
Há meses e
meses que somos bombardeados, noite e dia, pelo noticiário da operação
Lava-Jato. Em todos os jornais, todas as televisões comerciais, todas as
revistas. E o teor deste bombardeio, variando um pouquinho aqui ou ali, é
sempre o mesmo: os políticos ladrões e corruptos assaltaram o Brasil. E, claro,
tudo isto só começou em 2003, quando o PT assumiu o governo.
Esta
verdadeira campanha causa um sensível desgaste na imagem dos partidos, das
instituições públicas e da política. E, também, no próprio conceito de
Democracia. Não é à toa que há expressivos contingentes de cidadãos que clamam
pela volta da Ditadura e das intervenções militares.
Em paralelo
à Lava-Jato, porém, surgiram outras investigações importantes. E o maior
destaque é a operação Zelotes, que investiga os meandros da sonegação
organizada das mega-empresas no Brasil, que faz sumir bilhões de reais, valores
muito mais elevados que a corrupção na Petrobrás. E disto quase não há destaque
na grande imprensa que ignorou, também, o escândalo do HSBC e a farra das
contas clandestinas da elite brasileira no exterior.
Desde a
ascensão do neoliberalismo, nos anos 90, o grande empresariado busca reduzir as
regulações legais na Economia e no Direito. O capital, sem fronteiras e sem
barreiras, rende mais. É simples assim. E quem regula a Economia é a Política,
no âmbito da Democracia. Enfraquecer a Democracia e desmoralizar a política é,
pois, um pré-requisito essencial para fazer mais dinheiro. Por isto , há
escândalos que têm vagas cativas nos jornalões e escândalos que não aparecem.
E eis que
agora surge o escândalo da Volks. É uma das maiores aberrações já verificadas
na história do capitalismo mundial. Uma empresa tradicional, imensa, para
conquistar o mercado norte-americano, produziu um software que falsifica os
registros de emissão de poluentes. Não há um só deputado envolvido, um só
vereador. E, pasmem, nada tem a ver com o PT…
A origem da
corrupção e das fraudes não é a Democracia, nem a Política, nem mesmo os
políticos. A origem da corrupção é a ganância do empresariado pelo lucro fácil.
Os políticos são os agentes dos interesses empresariais. E, convenhamos, quando
nos deixam ter acesso às notícias, é possível verificar que os empresários,
sozinhos, roubam muito mais. Vide a Zelotes e a Volks.
Não, não
estamos defendendo deixar os políticos em paz. Quem roubou, quem se corrompeu,
deve pagar pelo que fez. O dinheiro público é intocável, não pode ser
apropriado por mãos desonestas. Mas se buscamos uma sociedade mais limpa, mais
honesta, de muito pouco adianta dar páginas e páginas de jornal sobre o
vereador de Cacimbinha do Norte que tirou duas diárias no lugar de uma só e
silenciar sobre a sonegação e a falcatrua das grandes empresas, que não raro
incluem as próprias empresas de comunicação.
Por isso, é
incomensurável a importância da decisão do STF que declarou inconstitucional as
contribuições eleitorais das pessoas jurídicas. Esta decisão terá a
consequência de reduzir a influência das empresas na política e permitir o
aperfeiçoamento de nossa Democracia. É uma evolução no sentido contrário à
campanha de desmoralização da política. Alguém já disse que empresário não doa
dinheiro para campanha eleitoral. Investe no candidato e no mandato. Retirar
este investimento aproximará o candidato do eleitorado e reduzirá a influência
que o Poder Econômico tem sobre os mandatos que foram por ele financiados.
Com esta
nova regra, a política brasileira ganhará maior legitimidade e as instituições
ficarão menos vulneráveis. É um grande avanço para nossa Democracia.
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