No dia 16 de junho de 2015 foi distribuído pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) uma representação contra o Ministro Gilmar Mendes, por ter sentado em cima de um processo em que havia interesses familiares concretos.
A autora é a advogada Aline Cavalcante Vieira. A representação lança acusações duras contra Gilmar. "No cenário político nacional é facilmente observado aqueles maus condutores dos poderes outorgados legitimamente pelo sufragio universal, (que) muitas vezes atuam como desertores da obrigação em cumprir com a representação dos interesses públicos. (...).
Refere-se à matéria tratada como "um desses casos, infelizmente não raros de corrupção, que atualmente assolam e envergonham a nação, que se faz necessário recorrer a esse órgão público para fins de representação em desfavor de um Ministro do STF".
Em 2008 Fernando Assef, o atual prefeito de Boa Viagem, interior do Ceará, foi processado e condenado por improbidade administrativa, pelo crime de apropriação indébita. Ele conseguiu uma liminar que permaneceu cálida até 2012, garantindo-lhe uma segunda candidatura.
A condenação e a inegibilidade foram confirmadas pelo Tribunal de Contas e pela Câmara Municipal
O caso foi parar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e se arrastou por dois anos.
Assef era filiado ao PSD e aliado do PT. No dia 14 de agosto de 2014 passou a apoiar as candidaturas de Eunício Oliveira (deputado pelo PMDB) e Tasso Jereissatti (candidato ao senado pelo PSDB). O padrinho político de Assef foi o suplente de Tasso, Chiquinho Feitosa.
No dia anterior, 13 de agosto, com o processo no TSE, já concluído para julgamento, o relator Gilmar Mendes senta em cima. Mesmo com seu voto contrário, a maioria do TSE declararia a inelegibilidade do acusado, por ser matéria pacificada. Mas, assim como na votação do financiamento privado de campanha, Gilmar trancou o processo e não abre.
E aí começam a aparecer coincidências comprometedoras.
No mesmo dia, o prefeito muda de advogado, que passa a ser Guilherme Pitta.
Pitta trabalha no escritório do advogado Sérgio Bermudes, que tem em seus quadros a advogada Guiomar Feitosa, esposa de Gilmar. Por sua vez, Guiomar é irmã de Chiquinho Feitosa - que, por obra dos laços de família, vem a ser cunhado de Gilmar.
O Código de Processo Civil, de 1973, estipula o seguinte em seu artigo 134:
Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:
I - de que for parte;
II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;
III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;
IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;
V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau.
A instituição social que
possibilitou a formação do povo brasileiro foi o cunhadismo, velho uso indígena
de incorporar estranhos à sua comunidade. Consistia em lhes dar uma moça índia
como esposa. Assim que ele a assumisse, estabelecia, automaticamente, mil laços
que o aparentavam com todos os membros do grupo [...] A importância era enorme
e decorria de que aquele adventício passava a contar com uma multidão de
parentes, que podia pôr a seu serviço, seja para seu conforto pessoal, seja
para a produção de mercadorias. (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro, 2010, p. 72)
Os brasilíndios foram
chamados de mamelucos pelos jesuítas espanhóis horrorizados com a bruteza e
desumanidade dessa gente castigadora de seu gentio materno. Nenhuma designação
podia ser mais apropriada. O termo originalmente se referia a uma casta de
escravos que os árabes tomavam de seus pais para criar e adestrar em suas
casas-criatórios, onde desenvolviam o talento que acaso tivessem. Seriam
janízaros, se prometessem fazer-se ágeis cavaleiros de guerra, ou xipaios, se
covardes e servissem melhor para policiais e espiões. Castrados, serviriam como
eunucos nos haréns, se não tivessem outro mérito. Mas podiam alcançar a alta
condição de mamelucos se revelassem talento para exercer o mando e a suserania
islâmica sobre a gente de que foram tirados. (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro,
2010, p.96)
Jornal GGN - Luiz de
Queiroz
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