Flibanserina foi
recomendada para aprovação da Food and Drug Administration e pode começar a ser
vendida nos Estados Unidos em breve
Nesta quarta-feira, um painel de especialistas recomendou à
Food and Drug Administration (FDA, espécie de Anvisa dos Estados Unidos) que
aprove para venda a flibanserina, droga testada para estimular a libido
feminina. A votação foi marcada por forte lobby da indústria farmacêutica e por
discussão da modesta eficácia do medicamento, que interage negativamente com
álcool e causa efeitos colaterais como risco de desmaio, sonolência, pressão
baixa e enjoos. A Sprout Pharmaceuticals, empresa responsável pela
flibanserina, criou um grupo de mulheres, o Even The Score ("Iguale o
Placar"), que atrelou a aprovação da droga a uma questão de emancipação
feminina: segundo o grupo, é injusto que apenas os homens possam ter drogas
para tratar suas disfunções sexuais.
Em seu discurso de apresentação no início da reunião que
decidiu recomendar positivamente a droga, o Dr. Hylton V. Joffe, diretor da
divisão de produtos ósseos, reprodutivos e urológicos da FDA, afirmou que o
órgão "rejeita firmemente" acusações de preconceito de gênero.
Segundo ele, não há drogas aprovadas para tratar a perda do desejo sexual — nem
para homens, nem para mulheres (o Viagra trata disfunção erétil, não falta de
desejo sexual).
Joffe reconheceu que há sim pessoas que se beneficiariam de
tratamentos para a ausência de desejo. A questão é se os benefícios da
flibanserina, considerados pela FDA "numericamente pequenos, mas
estatisticamente significantes", eram expressivos o suficiente, dados os
efeitos colaterais — embora a FDA tenha como hábito acatar as recomendações
feitas por painéis como o que se reuniu na quarta-feira.
A flibanserina, uma pílula cor de rosa que deve ser tomada
uma vez por dia, antes de dormir, seria aprovada para mulheres que ainda não
chegaram à menopausa e que sofrem de uma falta de desejo sexual que cause
moléstias — mulheres que têm a saúde física e mental intacta, estão felizes com
seu relacionamento, mas apresentam desequilíbrio em certos neurotransmissores.
O comprimido, que era pesquisado originalmente como um antidepressivo, age
dosando o nível de alguns elementos químicos no cérebro, como a serotonina e a
dopamina.
Três testes clínicos com a flibanserina foram consistentes
em resultados. As mulheres que participaram do estudo tinham uma média de dois
a três "eventos sexuais satisfatórios" por mês no início do estudo.
Quando começaram a tomar a droga, o número de experiências positivas
aumentou, mas apenas em uma a mais por mês comparado com o grupo de
mulheres que tomou um placebo. Em um dos testes clínicos, as usuárias do
medicamento disseram ter tido 4,4 experiências sexuais satisfatórias durante um
mês, comparado a 3,7 das mulheres que tomaram o placebo e 2,7 antes do início
do estudo.
O que é
Auxiliar na cura do Distúrbio do Desejo Sexual Hipoativo (ou
HSDD, na sigla em inglês), de acordo com a Sprout Pharmaceuticals. O distúrbio
afetaria o córtex pré-frontal, responsável por tarefas do dia a dia, e as
portadoras teriam problemas em "neutralizar" essa área. Ou seja:
lembrando do aniversário do afilhado, do relatório que precisa ser entregue
amanhã e da consulta com o dentista, a mulher teria mais problemas em sentir
prazer — o chamado circuito de recompensa do cérebro — e motivação sexual.
O que não é
Não é uma droga que, como o Viagra, devolve o tesão
imediatamente. O Viagra ajuda a aumentar o fluxo de sangue em direção ao pênis,
suprindo uma função biológica, enquanto a flibanserina age reequilibrando os
neurotransmissores da parte frontal do cérebro.
Funciona imediatamente?
Ao contrário do Viagra, que é tomado apenas quando se está
prevendo uma relação sexual e funciona em poucas horas, a Flibanserina deve ser
tomada diariamente e os efeitos podem ser percebidos depois de quatro semanas
de tratamento. De acordo com o laboratório, não há uma duração padrão do
tratamento, que deve ser definida pelo médico de referência.
De onde veio
Desenvolvida originalmente como medicamento para depressão,
foi rejeitada pela FDA por ter mostrado pouca eficácia em testes clínicos. Mas
um efeito colateral inusitado foi notado durante a fase de pesquisa: as
mulheres que tomaram a droga começaram a ter experiências sexuais mais
satisfatórias.
O que faz
De acordo com Stephen Stahl, professor de psiquiatria da
Universidade da Califórnia associado com a Sprout Pharmaceuticals, a
flibanserina trabalha corrigindo o desequilíbrio nos neurotransmissores
cerebrais, aumentando a secreção de dopamina (que aumenta a excitação e o
desejo sexual) e noradrenalina (que estimula a excitação e o orgasmo) e
diminuindo a de serotonina (que, em excesso, inibe o desejo, a excitação e
dificulta o orgasmo).
No Brasil
Não há previsão de quando a droga será avaliada pela Anvisa e
comercializada no país.
Por: Fernanda Grabauska
ZH
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