Por Bepe Damasco
Feito notável, a vitória do Partido
Socialista, em Portugal, de tão avassaladora, surpreendeu até mesmo as
lideranças do partido, inclusive o próprio primeiro-ministro reeleito, Antonio
Costa.
Cabe lembrar que quando a imprensa começou a anunciar
os primeiros resultados, Costa afirmara não ser provável a conquista da maioria
absoluta, o que acabou acontecendo.
Erraram feio os institutos de pesquisa, que até a
véspera apontavam um empate técnico entre os socialistas e o Partido Social
Democrático (PSD) – oposição de direita.
Fechadas as urnas, o PS obteve impressionantes 41,68%
dos votos, conquistando 117 cadeiras (foram 108 na eleição de 2019), contra
27,8% do PSD, o que lhe assegurou 71 assentos em uma Assembleia Nacional com
230 vagas.
Para tentar entender a falha grosseira das pesquisas,
de duas uma: ou o movimento do eleitorado em direção ao voto útil de esquerda
no PS não pôde ser captado pelas sondagens, porque teria ocorrido no próprio
dia da eleição, ou Portugal conta com institutos de pesquisas eleitorais com
metodologia e "credibilidade" comparadas a um Paraná Pesquisas
brasileiro, que faltando poucos dias para o segundo turno entre Dilma e Aécio,
em 2014, divulgou o placar de 60% x 40% em favor de Aécio.
Voltando à vontade dos portugueses expressa nas urnas,
também chama atenção o crescimento da extrema-direita através do partido Chega,
saltando de uma cadeira para 12 e situando-se como a terceira força política.
Ainda no campo da direita, o partido Iniciativa Liberal (IL) alcançou um
resultado nada desprezível: oito cadeiras.
Mas o centro do debate sobre as eleições legislativas
portuguesas será ainda por um bom tempo a acachapante derrota do Bloco de
Esquerda (de 19 para cinco cadeiras) e da CDU (Partido Comunista Português,
verdes e independentes), cujo número de deputados foi cortado à metade – de 12
para seis.
Como se sabe, essas forças políticas compunham junto com
o PS a aliança de governo conhecida como “geringonça”, até que em fins do ano
passado votaram contra o orçamento enviado pelo governo chefiado por Costa ao
parlamento. Pelas leis portuguesas, quando isso ocorre, cabe ao presidente do
país convocar novas eleições.
O resultado da eleição revela que a guinada
do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda foi amplamente rejeitada pelo
eleitorado. Confesso, porém, não ter elementos suficientes para analisar com
profundidade os motivos que levaram esses importantes agrupamentos da esquerda
lusitana a rejeitarem o orçamento dos socialistas.
A grosso modo temos a informação de que o orçamento da
discórdia fora inspirado no modelo de austeridade proposto pela União Europeia
e que tinha no congelamento do salário mínimo sua medida mais impopular. Na
visão dos comunistas, verdes e do Bloco de Esquerda, aprová-lo significaria a
desmoralização.
Será? O eleitor de Portugal pensa diferente. Na sua
opinião, foi uma ação política desastrada. Então, uma pergunta se coloca para
os setores da esquerda que racharam com o PS: essa operação política de alto
risco valeu a pena? Publicamente, claro, seguirão defendendo a posição, mas
internamente é impossível que a ruptura não esteja sendo objeto de
questionamentos.
O caso português também remete a uma reflexão relevante
para as forças progressistas do Brasil. As divergências com os governos do PT
por parte da esquerda não petista eram tão maiores que as convergências a ponto
de justificar a postura de oposição a Lula e Dilma?
Como esse ano tem eleição no Brasil...
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