domingo, 16 de janeiro de 2022

SEDE DA COPA AFRICANA, CAMARÕES É RETRATO DA EXCLUSÃO SANITÁRIA NA PANDEMIA

Com apenas 3% da população vacinada contra a covid-19, país que sedia a CAF tem índices baixíssimos de imunização

Por Fernanda Paixão -  Brasil de Fato

Sede da Copa Africana das Nações (CAF), Camarões garantiu seu lugar nas oitavas de final com o resultado de 4x1 contra a Etiópia na quinta (13/01), abrindo a segunda rodada do campeonato. Foi a segunda vitória em casa do anfitrião, que venceu Burkina Faso na abertura do torneio por 2x1. 

Os bons resultados do time da casa vêm apesar do desfalque de cinco jogadores, que testaram positivo para covid-19 dias antes do início do evento.

Adiada no ano passado por 12 meses justamente pela pandemia, a Copa foi inaugurada com a ausência de jogadores no campo, por testarem positivo ou terem tido contato com pessoas com covid-19.

Além do time anfitrião, os times do Senegal, Cabo Verde, Tunísia, Costa do Marfim e de Burkina Faso foram afetados pela pandemia, com casos positivos de covid-19, atrasos na viagem de chegada a Camarões, cancelamento de partidas de preparação e jogadores em isolamento.

Classificada como preocupante pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em novembro do ano passado, a variante ômicron do novo coronavírus provoca novos picos de covid-19 em todo o mundo, com uma média móvel atual na Europa de 1,15 milhão de casos diários confirmados, um aumento de 284% desde novembro de 2020.

A América do Norte também é fortemente impactada, com uma média móvel de 878 mil casos diários, em um aumento de 880%. Na Ásia a média de casos diários é de 380 mil; 236 mil na América do Sul; 109 mil na Oceania; e 39 mil na África.

O acesso extremamente desigual aos imunizantes foi algo que o próprio diretor-geral da OMS chamou de “vergonha moral” no dia em que a pandemia entrou em seu terceiro ano, em dezembro. Das 9 bilhões de vacinas distribuídas em todo o mundo, apenas 3,6% foram ministradas na África, com cerca de 200 milhões de vacinados contra a doença.

Segundo o Our World in Data, cerca de 50,4% da população mundial já foi vacinada, sendo apenas 15% na África: cerca de 209 milhões de pessoas. Somando as taxas de vacinação, os 54 países do continente, juntos, não ultrapassam os números dos Estados Unidos (274 milhões de pessoas vacinadas).

Vacina para poucos

Nesse contexto, o campeonato acontece em um dos países do mundo com menores taxas de vacinação contra a covid-19, ilustrando a situação de exclusão sanitária de todo o continente africano.

Por exemplo, em Camarões, apenas 3% da população do país foi imunizada. Desta porcentagem, 2,4% completaram o esquema protocolar de vacinação (em geral, duas doses). Em um comparativo, seus países vizinhos, em geral, contam com índices de vacinação mais altos, como é o caso da Nigéria (5%), Congo (12%) e Gabão (17%).

O país mais vacinado do continente atualmente é o Egito, onde foi identificado o primeiro caso de covid-19 na região. Hoje, 34% da população egípcia está imunizada, totalizando 35 milhões de pessoas. 

O país-sede da CAF soma pouco mais de um milhão de doses administradas, 109.666 contágios e 1.853 mortes pelo coronavírus desde o início da pandemia.

Segundo monitoramento realizado pela agência de notícias internacional Reuters, Camarões é um dos países que apresenta níveis mais distantes do último pico registrado no continente. Neste caso, o último pico foi registrado no início de abril do ano passado, quando o país superou a média de 2 mil casos diários confirmados de covid. Atualmente, atinge apenas 3% deste cenário, com uma média de 42 contágios diários.

No gráfico abaixo, é possível observar o pico de casos de covid-19 no continente desde a identificação da nova variante ômicron, em novembro, o que levou ao nível mais alto de média de casos confirmados por milhão de habitantes (o pico, até o fechamento desta reportagem, foi no dia 10 de janeiro, com 33,53 casos confirmados por milhão).

         

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