terça-feira, 5 de outubro de 2021

FRENTEAMPLISMO, SIM!


 Por Luciano Siqueira no Blog do Renato

Por meio digital, me chegou um texto de uma das correntes do PT (que não consegui identificar) orientando a militância a não participar de movimentos de oposição onde estejam presentes grupos e personalidades que votaram em Bolsonaro para a presidência da República.

Votaram, mas não votam mais.

Deslocaram-se para o campo oposto e agora engrossam as fileiras dos que se batem pela democracia e contribuem para desmascarar, enfraquecer e isolar o presidente e sua corrente de extrema-direita.

“Não se misturar” é palavra de ordem típica dos que não se sentem seguros de suas próprias convicções.

Nos primórdios do PT, na campanha eleitoral de 1982 (quando me elegi deputado estadual pela primeira vez), participei de um debate com um militante do sindicalismo rural, candidato petista no mesmo pleito (que veio a obter pouquíssimos votos e não se elegeu).

A plateia era de operários metalúrgicos.

Meu oponente no debate disparou uma crítica agressiva ao fato de eu ter participado, como orador, num grande comício para mais de 20 mil pessoas no bairro de Casa Amarela, no Recife, liderado pelo então candidato a governador emedebista senador Marcos Freire.

A crítica é que eu me misturara com “políticos burgueses”.

Ao que contra-argumentei que vira o meu crítico num pequenino comício, na Rua Nova, no centro da cidade, que reunia não mais do que 20 ouvintes.

No comício de Casa Amarela, meu público obviamente era infinitamente maior. E me permitira manifestar a opinião própria do PCdoB (que ainda não havia recuperado a legalidade), como candidato reconhecidamente comunista.

Ou seja, nos ombros de lideranças daquela que se constituía, na prática, como uma frente ampla e heterogênea, a voz de um comunista chegara às multidões durante toda uma campanha memorável, apoiada na mobilização popular.

Participante de uma ampla e diversificada coalizão que nem o óleo na água, que se junta mas não se dilui, nem perde a identidade.

Adiante, a ditadura militar acabou derrotada em eleição indireta que elegeu Tancredo Neves presidente por uma frente amplíssima, a Aliança Democrática.

A tal corrente petista que agora orienta seus militantes a se comportarem contra o que chamam de “frenteamplismo” fecha os olhos para o inequívoco fato de que Lula e Dilma se elegeram duas vezes para a presidência da República mediante coalizões extremamente amplas e heterogêneas.

E, em minoria no Congresso Nacional, celebraram alianças as mais diversas como condição de governabilidade.

O último pleito presidencial, que alçou à condição de governante o fascistóide Jair Bolsonaro, se constituiu numa derrota histórica das forças democráticas para a extrema direita.

A muito custo tem sido possível desmascarar perante a população o real caráter do presidente e do grupo a ele vinculado. Não são apenas vozes à esquerda, são insatisfações manifestadas por variadas correntes políticas e sociais, inclusive de centro-direita.

E é bom que assim seja.

Não há outro caminho para galvanizar o interesse, a emoção e a atitude oposicionista numa sociedade tão complexa, desigual e diversificada.

A ideia da frente ampla comporta interesses os mais diversos, é verdade. Por isso mesmo não é fácil de se concretizar.

A realidade concreta, num certo sentido, em determinados momentos atua com mais força do que os interesses subjetivos dos múltiplos atores presentes na cena política.

Se uma conjugação de forças assim tão ampla e multifacetada já tivesse ganho dimensão há alguns meses, provavelmente se teriam gestado as condições do impeachment de Bolsonaro.

Os atos públicos previstos para o próximo sábado ganham um contorno de frente ampla — e é ótimo que assim seja.

Correntes políticas maduras e consequentes certamente contribuirão para avançarmos num ambiente de “amplitude heterogênea” indispensável à vitória eleitoral do campo democrático em 2022.

“Esquerdistas” sectários e inconsequentes se colocam à margem do processo, abraçados no fundo do poço a chorar suas pitangas

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